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AGRONEGÓCIO Terça-feira, 09 de Dezembro de 2025, 09:28 - A | A

Terça-feira, 09 de Dezembro de 2025, 09h:28 - A | A

Produção vegetal

Projeto inovador busca estabelecer o cultivo sustentável do pau-rosa na Amazônia

Embrapa

Embrapa Amazônia Ocidental (AM) conduz uma pesquisa inovadora para superar entraves e impulsionar a recuperação e o cultivo comercial do pau-rosa (Aniba rosaeodora), árvore nativa da Amazônia historicamente explorada de forma predatória. Valorizada por seu óleo essencial rico em linalol — composto muito usado nas indústrias de cosméticos e perfumaria fina — a espécie teve sua produção drasticamente reduzida, de 500 toneladas por ano na década de 1970 para apenas 1.480 quilos em 2021.

O projeto tem como foco a seleção de matrizes de alta qualidade e o desenvolvimento e validação de protocolos de clonagem por estaquia, definição de práticas agronômicas para redução de perdas no plantio e maior uniformidade nos cultivos. Será estabelecida também uma coleção de trabalho, com materiais genéticos de diversas procedências, de forma a oferecer uma ampla base genética para apoiar as atividades de seleção e melhoramento da espécie.

A pesquisa parte de uma população inicial de 80 árvores-matrizes localizadas na propriedade da empresa parceira Litiara/Agroflora, em Rio Preto da Eva (AM). Entre essas, foram escolhidas, inicialmente, as 10 com maior vigor e teor de óleo na biomassa superior a 1,5%, reproduzidas por sementes. Em novembro de 2025, foi iniciada a retirada dos galhos dessas plantas para a produção dos clones, por enraizamento de miniestacas (processo que usa pequenos pedaços de plantas (miniestacas) para que criem raízes e se desenvolvam em novas mudas idênticas à planta mãe), como informa o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental Edson Barcelos, líder da iniciativa.

A reprodução do pau-rosa já foi estudada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), porém ainda não foi aplicada em escala comercial. A meta da Embrapa é aprimorar o método de enraizamento para viabilizar a produção em larga escala de mudas clonadas, como já ocorre com culturas consolidadas como café, eucalipto e erva-mate.

A proposta é estabelecer um modelo completo de cultivo, que abranja desde a seleção genética até o manejo no campo, fortalecendo a cadeia produtiva regional. Isso inclui a escolha das melhores matrizes (com alto desempenho), clonagem eficiente para geração de mudas em grande quantidade e implantação com técnicas que garantam uniformidade nos plantios.

Ainda serão avaliados diversos parâmetros agronômicos para consolidar um sistema de produção robusto e sustentável, tais como: época ideal e altura da poda, espaçamento entre plantas, tipos e doses de adubação e estratégias para controle de pragas e doenças. “Para plantar cinco hectares, são necessárias cinco mil mudas. Mas não há sementes suficientes e, quando há, o material genético é muito heterogêneo. As plantas crescem de forma desigual e o teor de óleo varia drasticamente”, explica Barcelos.

A essência do pau-rosa — seu óleo essencial — é valorizada principalmente por ser uma fonte natural de linalol, composto químico que representa mais de 80% do óleo e possui diversas aplicações comerciais e potenciais. A pesquisa da Embrapa tem como foco a produção sustentável voltada para esses usos, extraindo o óleo de folhas e galhos, e mantendo a árvore viva.

Durante décadas, o pau-rosa foi explorado sem critérios técnicos: as árvores eram cortadas rente ao solo para extração do óleo, sem replantio ou manejo adequado. Após sua inclusão na lista de espécies ameaçadas de extinção, essa prática foi proibida. No entanto, o Brasil ainda não desenvolveu tecnologia suficiente para o cultivo comercial da espécie, cuja área plantada hoje não ultrapassa 50 hectares, e está concentrada nos municípios amazonenses de Maués, Novo Aripuanã e Itacoatiara.

Um dos principais obstáculos é a escassez de mudas de qualidade. Plantios realizados a partir de sementes apresentam alta taxa de mortalidade — entre 70% e 90% — além de grande variabilidade genética, o que compromete a uniformidade das plantas e o teor de óleo, que pode variar de 0,5% a 2,0%. Soma-se a isso a limitada experiência com sistemas de plantio e manejo adequados.

Infraestrutura e próximos passos

Com apoio de uma emenda parlamentar no valor de R$ 250 mil, foram construídas estufas, adquiridos vasos e equipamentos para um laboratório de extração de óleo. A casa de vegetação já está em funcionamento, e nos próximos meses, começarão os testes de enraizamento com diferentes substratos — como terriço, fibra de coco e vermiculita (mineral que se expande com o calor, transformando-se em um material leve e com excelente capacidade de absorver água e reter nutriente)  e hormônios vegetais.

Sistema de produção integrado

O projeto também investiga o uso da banana como cultura de sombreamento nos primeiros anos do pau-rosa, oferecendo sombra ideal e retorno econômico para ajudar a custear o plantio. A pesquisa busca definir o melhor espaçamento, época e altura de poda, adubação e controle de pragas, com o objetivo de validar um sistema de produção eficiente e sustentável. “Vamos criar um sistema de produção validado”, acrescenta o pesquisador.

Agricultura familiar: conservação e renda

Paralelamente, agricultores familiares da zona rural de Manaus vêm testando o cultivo do pau-rosa como alternativa à extração em florestas nativas. Em 2012, agricultores familiares dos assentamentos no ramal ZF 4 e a Embrapa iniciaram o plantio de 230 mudas em áreas de roçado de mandioca e capoeira. As mudas foram consorciadas com frutíferas perenes e, em 2020, as primeiras florações foram observadas.

Apesar da taxa de mortalidade de 47%, atribuída a pragas, sombreamento e estresse hídrico, as plantas consorciadas apresentaram sobrevivência 50% superior em comparação às cultivadas em capoeira e 60% menos mortalidade. A poda das plantas sombreadoras foi recomendada para estimular a biomassa e a reprodução, visando a coleta de sementes e a extração de óleo em agroindústrias familiares.

Desafios e perspectivas

Além da escassez de mudas de qualidade e a alta mortalidade de plantios, outro entrave da cultura é a burocracia excessiva na comercialização do óleo essencial de pau-rosa. Durante o Simpósio de Óleos Essenciais realizado em Manaus, em outubro de 2025, especialistas e empresários propuseram a "Carta do Pau-Rosa", iniciativa que busca sensibilizar autoridades a destravar processos que dificultam o avanço da cadeia produtiva. As muitas exigências estão afastando os compradores que preferem substituir o pau-rosa por outros óleos.

Com a consolidação do sistema de produção, a expectativa é fortalecer a cadeia produtiva regional, promover a conservação da espécie e gerar novas oportunidades econômicas para comunidades amazônicas e empreendedors. “Estamos construindo um modelo que alia ciência, conservação e desenvolvimento regional. O pau-rosa pode voltar a ser símbolo de riqueza — desta vez, com sustentabilidade”, conclui Barcelos.

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