O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira, 11, que a reunião marcada para esta semana com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, foi desmarcada. Os dois se encontrariam remotamente para tratar da tarifa de 50% que começou a ser cobrada pelos EUA desde o dia 6 de agosto.
À GloboNews, Haddad afirmou que a justificativa oficial de Bessent para o cancelamento foi "falta de agenda". As tratativas para o encontro começaram em 21 de julho, dias após o anúncio da elevação tarifária feita pelo presidente norte-americano Donald Trump.
Apesar da justificativa, segundo o ministro, não há boa vontade por parte do governo americano em negociar com o Brasil. Ele citou também que o encontro foi desmarcado por causa de "forças de extrema direita", mencionando diretamente um dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Agiram, junto a alguns assessores do presidente Trump e a reunião com ele, que seria virtual na quarta-feira, foi desmarcada e não foi remarcada até agora", disse. "Não há como não ligar o cancelamento com a entrevista de Eduardo Bolsonaro [ao Financial Times]".
Na entrevista em questão, Eduardo afirmou que os EUA devem intensificar a pressão contra o Supremo Tribunal Federal (STF), impondo novas sanções a ministros que não encerrem o julgamento de seu pai, acusado de planejar uma tentativa de golpe de Estado.
Todos os demais países, como Japão e Coreia do Sul, e a União Europeia conseguiram marcar conversas para negociar o tarifaço. O Brasil não tem tido o mesmo acesso, diz Haddad.
O ministro disse que a afirmação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre a necessidade de uma ligação do presidente brasileiro ao presidente americano é, "no mínimo, um pouco ingênua".
"Talvez seja uma pessoa que não tenha ainda o traquejo das relações internacionais. Não funciona assim", afirmou o ministro. Ele frisou a necessidade de uma "preparação prévia" para estabelecer o contato entre chefes de Estado e afirmou que há uma "resistência em função da atuação de pseudo brasileiros em Washington".
"Eu penso que o governador está sendo um pouco ingênuo de imaginar que esse telefonema é a chave de todas as portas. Não é", completou Haddad.
Plano de Contingência
Haddad afirmou que o plano de contingência para socorrer as empresas brasileiras afetadas pelo tarifaço dos Estados Unidos tem viés estrutural, para além de medidas conjunturais.
Ele disse que estão incluídos neste plano duas reformas estruturais, que envolvem medidas de crédito e o Fundo de garantia para exportações (FGE). Segundo ele, crédito e seguro para exportação ainda são gargalos no Brasil.
"Estamos fazendo uma reforma estrutural no FGE, com suporte dos demais fundos, para garantir que toda empresa brasileira — não só as grandes — que tiver vocação de exportação terá instrumentos modernos para fomentar a exportação para o mundo inteiro", disse ele, citando a necessidade de redirecionar as exportações.
O ministro confirmou que o plano de contingência terá linhas de financiamento, além de contemplar a questão tributária e autorizar compras governamentais em determinados casos.
Ele destacou que a preservação de empregos está prevista na medida provisória (MP) do plano de contingência em resposta ao tarifaço dos Estados Unidos. No entanto, ele disse que há exceções, pois algumas empresas não poderão garantir empregos já que o impacto será muito grande na sua produção.
"A MP flexibiliza para alguns casos outros tipos de contrapartida", disse Haddad em entrevista à GloboNews. Ele defendeu que a medida trará "certa flexibilidade", visto que são afetados mais de 10 mil empregos.
"A MP oferece os instrumentos e abre as diretrizes de como cada empresa vai ser atingida", completou. E afirmou que o texto busca tornar os mecanismos poucos mais flexíveis para atender cada CNPJ, até porque no mesmo setor há várias situações diferentes.
Haddad considerou que os EUA estão mudando a relação com o mundo inteiro e que não é questão meramente ideológica. Ele citou o caso da Índia para afirmar que há uma "mudança de postura geopolítica global" por parte dos americanos.
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