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INTERNACIONAL Sábado, 19 de Julho de 2025, 13:15 - A | A

Sábado, 19 de Julho de 2025, 13h:15 - A | A

Após ofensiva de Israel

Drusos x beduínos: Síria anuncia cessar-fogo imediato no sul do país

Região tem sido palco de um conflito entre drusos e beduínos. O embate já deixou centenas de mortos em menos de uma semana e se intensificou após o ataque de Israel — inclusive à capital síria, Damasco

G1 com RFI e AFP

O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, anunciou neste sábado (19) um cessar-fogo imediato em Sueida, no sul do país. A região tem sido palco de um conflito entre drusos e beduínos, que se intensificou após o ataque de Israel — inclusive à capital síria, Damasco.

Os drusos são uma minoria religiosa do Oriente Médio, com crenças próprias originadas do islamismo xiita ismaelita. Vivem principalmente na Síria, Líbano, Israel e Jordânia. Os beduínos são um grupo árabe nômade, tradicionalmente associado às regiões desérticas do Oriente Médio e do Norte da África, com cultura centrada na vida no deserto e nos clãs familiares.

Com mediação dos Estados Unidos, lideranças da Síria e de Israel concordaram na sexta-feira (18) em suspender os confrontos, que já deixaram mais de 700 mortos, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

O embate, porém, continuou na manhã deste sábado, após a chegada de grupos sunitas que se uniram às tribos beduínas contra os drusos, uma comunidade com raízes no islamismo xiita. A presidência síria enviou uma "força especial" à região na tentativa de encerrar o conflito em Sueida.

Em discurso transmitido pela televisão, o presidente interino afirmou que o Estado sírio está "comprometido em proteger todas as minorias" e condenou "os crimes cometidos em Sueida".

O anúncio do acordo entre o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, foi feito pelo enviado dos EUA para a Síria, Tom Barrack.

Desde o último domingo (13), confrontos na cidade de Sueida, reduto da minoria drusa, e em seus arredores resultaram em centenas de mortos. Autoridades sírias retiraram as tropas da região ontem, após Israel, contrário à presença do Exército sírio em sua fronteira, bombardear Damasco e outros alvos no país.

"Convocamos os drusos, beduínos e sunitas a deporem as armas e, juntamente com as outras minorias, construir uma identidade síria nova e unida na paz e prosperidade com seus vizinhos", publicou Tom Barrack no X.

Segundo informações da AFP, cerca de 200 combatentes de tribos árabes sunitas trocaram disparos de armas automáticas e projéteis com grupos drusos posicionados em Sueida na noite desta sexta-feira.

Perto do povoado de Walgha, o líder tribal Anas al-Enad afirmou ter viajado com seus combatentes da região central de Hama "para responder aos pedidos de ajuda dos beduínos".

Na localidade drusa, agora controlada por forças tribais e beduínas, um correspondente da AFP observou casas, lojas e carros incendiados.

Síria quer evitar 'guerra aberta' com Israel
O presidente interino Ahmad al-Sharaa havia dito ontem que a retirada de suas tropas de Sueida buscava evitar uma "guerra aberta" com Israel.

O país liderado por Netanyahu bombardeou alvos do governo nessa província meridional e em Damasco, alegando que buscava defender os drusos, minoria presente em Israel e nas Colinas de Golã sírias, ocupadas pelos israelenses desde 1967.

Mobilizadas na região na terça-feira (15), as forças do governo foram acusadas por grupos drusos e testemunhas de apoiar os beduínos e executar civis em Sueida.

Com o cessar-fogo, os drusos ficaram com a responsabilidade de manter a segurança na região. Mas a presidência síria os acusou de violar esse pacto. Os confrontos ilustram um dos principais desafios do novo governo sírio, que prometeu proteger as minorias do país, mas os incidentes recentes e a matança de seguidores alauítas, meses atrás, colocam em xeque esse compromisso.

Situação humanitária preocupa
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) manifestou preocupação com "a deterioração rápida da situação humanitária" na região de Sueida.

"As pessoas estão sem nada. Os hospitais têm cada vez mais dificuldade de atender os feridos e doentes", disse Stephan Sakalian, chefe da delegação do CICV na Síria.

"Não temos água ou eletricidade e estamos começando a ficar sem medicamentos", contou Rouba, uma funcionária do hospital público de Sueida.

O centro de saúde, o único que segue funcionando, recebeu mais de 400 corpos desde a manhã de segunda-feira (14), disse o médico Omar Obeid.

A cidade enfrenta escassez de água e energia elétrica, e as comunicações estão cortadas. "A situação é catastrófica, não resta nem fórmula para os bebês", lamentou o editor-chefe do portal de notícias Suwayda 24, Rayan Maaruf.

Na sexta-feira, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, pediu uma investigação rápida sobre a violência na Síria.

"O derramamento de sangue e a violência devem cessar, e a proteção de todas as pessoas deve ser a prioridade absoluta. Esperamos investigações independentes, rápidas e transparentes sobre todas as violações, e os responsáveis devem prestar contas", afirmou Türk.

De acordo com dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), cerca de 80 mil pessoas foram deslocadas pelos confrontos. A comunidade drusa da Síria, com uma grande concentração em Sueida, reunia cerca de 700 mil pessoas antes do começo da guerra civil, em 2011.

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