Foto: Juan Barreto/AFP
Uma espada de Simón Bolívar, o herói militar que foi responsável pela independência de seis países da América Latina da Espanha no começo do século 19, foi o item que mais causou controvérsias na posse de Gustavo Petro, o novo presidente da Colômbia, no domingo (7).
A arma foi objeto de uma controvérsia interna entre o ex-presidente Iván Duque e Petro e por causa dela o rei da Espanha, Felipe VI, foi criticado em seu próprio país por ter sido desrespeitoso com os colombianos.
Bolívar foi um militar nascido em Caracas e é considerado o responsável pelas campanhas de independência dos seguintes países:
- Panamá;
- Venezuela;
- Colômbia;
- Equador;
- Peru;
- Bolívia.
No começo do século 19, a Espanha estava enfraquecida após a invasão de seu território na Europa pelas tropas da França, então sob comando de Napoleão Bonaparte.
Na Colômbia, considera-se que a data de independência é 20 de julho de 1810.
O processo de separação da Espanha já havia se iniciado no fim do século anterior, mas no país considera-se que a independência aconteceu formalmente com a separação das regiões que formavam a antiga região de Nova Granada (além da Colômbia, o Panamá e uma parte do Equador).
Mesmo depois de 1810 houve confrontos para expulsar os espanhóis. Um dos mais importantes foi a Batalha de Boyacá, em 1819, um confronto final depois de 78 dias de uma campanha que Bolívar começou na Venezuela.
Guerrilha de Petro roubou a espada em 1974
Gustavo Petro, o novo presidente da Colômbia, começou sua vida política em um grupo guerrilheiro, o M-19.
Em 17 de janeiro de 1974, esse grupo roubou a espada da Quinta de Bolívar, uma casa onde Simón Bolívar morou em Bogotá depois da independência do país.
Segundo o site Notícias Caracol, o grupo era novo e queria chamar a atenção dos colombianos (eles até mesmo distribuíam panfletos em que diziam que “o M-19 estava chegando” para combater parasitas e vermes).
Então, às 17h daquele dia, o grupo levou a espada e deixou um bilhete que, entre outros dizeres, afirmava: “Sua espada deixa as teias de aranha do museu e se lança aos combates do presente, passa às nossas mãos, às mãos do povo em armas”.
Desse dia em diante, os jornais começaram a noticiar as operações do M-19.
Espada é devolvida em 1991
O M-19 renunciou à luta armada e aderiu à política institucional em 1991. Uma das maneiras de marcar essa transição foi devolver a espada de Bolívar ao Estado colombiano.
Só que havia um problema: a espada estava em Cuba, e os dois países não tinham relações diplomáticas.
A solução foi uma intermediação pela Venezuela para que a espada fosse devolvida. A cerimônia aconteceu em 31 de janeiro de 1991 na Quinta de Bolívar, de onde a espada foi roubada em 1974.
A espada então foi levada para dois locais: o depósito do Bando da República e, depois, para a sede do governo em Bogotá.
Duque não quis ceder a espada
Petro é o primeiro presidente de esquerda a ser eleito na Colômbia. Iván Duque, seu antecessor, é de uma corrente da direita do país.
Antes de tomar posse, o novo líder do país disse que queria que a espada fosse usada como um símbolo na cerimônia. Duque não permitiu, alegando razões de segurança. Segundo o jornal "El Mundo", mesmo assessores de Duque disseram que esse motivo era uma desculpa, que seria possível tomar medidas para que a espada fosse retornada sem qualquer inconveniente. Mesmo assim, a cerimônia começou sem o objeto.
Pouco depois de receber a faixa, logo após prestar o juramento, disse o seguinte: "Eu dou ordem à Casa Militar para que traga a espada de Bolívar", o que foi feito.
Rei espanhol não se levanta
O rei Felipe VI, da Espanha, foi um dos convidados para a posse de Petro em Bogotá no domingo. Quando o nome dele foi anunciado, houve uma leve vaia da multidão que tinha ido ver o primeiro presidente de esquerda ser empossado no país (estima-se que o público tenha sido de 100 mil pessoas).
Durante a cerimônia, a espada foi levada ao palco por militares — após a ordem de Petro, como dito acima.
Quando os militares desfilaram com o objeto, os convidados levantaram e aplaudiram. O rei da Espanha, no entanto, ficou sentado e não aplaudiu.
Na Espanha, deputados de esquerda reclamaram do comportamento do rei, que, de acordo com os políticos, foi desrespeitoso.
"Felipe VI não representou [na cerimônia de posse de Petro] a Casa de Bourbon, ele representou a Espanha. Isso torna ainda mais grave a falta de respeito a um símbolo de liberdade na América Latina", afirmou Pablo Iglesias, um líder do Unidas Podemos, um partido de esquerda que faz parte da coalizão de governo da Espanha.
Dois eurodeputados espanhóis de origem catalã também criticaram o rei, dizendo que ter ficado sentado foi lamentável e patético.
Ione Belarra, a ministra de Direitos Sociais da Espanha, exige que o governo de seu país peça desculpas formais à Colômbia.
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