A Procuradoria de Milão abriu uma investigação sobre um caso de extrema brutalidade: turistas italianos são suspeitos de ter pago até 88 mil libras (cerca de R$ 600 mil) para participar de “safáris humanos” durante o cerco de Sarajevo, entre 1992 e 1996, na Guerra da Bósnia. As vítimas seriam civis desarmados, incluindo crianças, alvos de tiros disparados por estrangeiros ricos que viajavam à região para “praticar tiro ao alvo humano”.
De acordo com o jornal inglês Daily Mail em reportagem desta quarta-feira, a denúncia, apresentada pelo escritor e jornalista Ezio Gavazzeni com apoio do ex-magistrado Guido Salvini e da ex-prefeita de Sarajevo Benjamina Karic, aponta que os participantes teriam feito acordos com o exército sérvio-bósnio, chefiado por Radovan Karadžić, condenado em 2016 a 40 anos de prisão por genocídio e crimes contra a humanidade. Diversos veículos europeus repercutiram o caso nesta terça-feira.
As investigações afirmam que os turistas, supostamente ligados a círculos de extrema-direita, viajavam de Trieste a Belgrado pela companhia aérea sérvia Aviogenex e pagavam militares para participar de “fins de semana de tiro”. O assassinato de crianças custava mais caro, segundo revelou o jornal El País.
O documentário Sarajevo Safari, lançado em 2022 pelo cineasta esloveno Miran Zupanic, foi o ponto de partida das acusações. A produção reuniu depoimentos sobre o chamado “turismo de atiradores de elite”, prática que transformava o cerco da capital bósnia em uma atração macabra para estrangeiros.
Durante os quatro anos de bloqueio, mais de 10 mil pessoas foram mortas na cidade — o mais longo cerco a uma capital na história moderna. Ruas como Ulica Zmaja od Bosne e o Boulevard Meša Selimović ficaram conhecidos como o “Beco dos Atiradores”, tamanha era a frequência de ataques a civis.
— Estamos falando de pessoas ricas, com reputação — empresários — que, durante o cerco de Sarajevo, pagaram para matar civis desarmados. Eles saíram de Trieste para uma caçada humana e depois retornaram às suas vidas respeitáveis — declarou Gavazzeni ao jornal La Repubblica.
O procurador-chefe Alessandro Gobbi afirmou que há uma lista de suspeitos e testemunhas que poderão ser convocados. Gavazzeni estima que até 100 turistas tenham participado dos massacres. Entre os investigados, estão um empresário milanês dono de uma clínica estética e cidadãos das cidades de Turim e Trieste.
O Ministério Público da Bósnia chegou a abrir uma investigação semelhante, mas arquivou o caso por falta de provas e pela dificuldade de apuração em um país ainda dividido pelos traumas da guerra.
Srebrenica viveu genocídio
Em julho de 1995, durante a Guerra da Bósnia, as tropas comandadas pelo general sérvio-bósnio Ratko Mladic cercaram a cidade de Srebrenica, numa ação que resultou no assassinato de mais de 8 mil bósnios muçulmanos, de crianças a idosos. Os homens foram separados das mulheres e levados em ônibus para serem assassinados brutalmente, após sofrerem abusos e maus tratos. Desde a Segunda Guerra Mundial, estes foi o maior assassinato em massa da Europa e o primeiro caso legalmente reconhecido como genocídio desde o Holocausto.
A Guerra da Bósnia foi uma guerra civil pela posse de territórios na região da Bósnia e Herzegovina entre três grupos étnicos e religiosos: os sérvios (cristãos ortodoxos), os croatas (católicos romanos) e os bósnios (muçulmanos). Mais tarde, atingiu também a vizinha Croácia. Teve início em abril de 1992 e se estendeu até dezembro de 1995, com a assinatura do Acordo de Dayton.
O confronto começou quando os bósnios declararam a soberania da República da Bósnia-Herzegovina, até então presidida por Radovan Karadzic, de origem sérvia. A minoria sérvia não aceitou a declaração de independência e apelou ao apoio de Belgrado, capital sérvia, então sob o comando de nacionalistas liderados pelo então presidente Slobodan Milosevic.
A declaração desatou uma guerra de três anos e meio entre muçulmanos, sérvios e croatas, que deixou cerca de 100 mil mortos e 2,2 milhões de refugiados. Belgrado não reconheceu a Bósnia até novembro de 1995.
Forças sérvias cercam o enclave muçulmano de Srebrenica no início de 1992, impedindo a chegada de ajuda humanitária. Mesmo com a presença de tropas de paz da ONU, a pressão sérvia aumentou, e o Exército da República Sérvia da Bósnia invadiu a cidade. Os pedidos das forças de paz por ataques aéreos da Otan foram rejeitados e, entre 11 e 13 de julho de 1995, mais de 8 mil homens e rapazes foram executados. Mais de 20 mil pessoas foram obrigadas a fugir da cidade.
Após as execuções, os corpos foram escondidos em valas comuns. Alguns, inclusive, levados a zonas remotas, para que as dimensõs do massacre ficassem escondidas do mundo. Até hoje, mais de 6,9 mil vítimas já foram identificadas por exames de DNA. E muitos sobreviventes ainda vivem em busca de respostas sobre seus familiares ou à procura de restos mortais.
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