Manifestantes israelenses invadiram um galpão da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), em Jerusalém Oriental nesta segunda-feira (26), informou o órgão.
A invasão ocorreu durante uma marcha anual para comemorar a conquista da parte oriental da cidade por Israel. Grupos de jovens judeus israelenses participaram do ato, que passava por bairros muçulmanos na Cidade Antiga de Jerusalém.
Durante o ato, dezenas desses manifestantes, incluindo um membro do parlamento israelense, forçaram a entrada no galpão da UNRWA, segundo o coordenador da agência na Cisjordânia, Roland Friedrich.
O galpão está em grande parte vazio desde janeiro deste ano, quando os funcionários foram orientados a não comparecer por questões de segurança. A ONU afirma que não abandonou o complexo e que ele está protegido pelo direito internacional.
Alguns dos manifestantes que compunham o grupo invasor gritaram “morte aos árabes” e "que sua aldeia queime", e assediaram residentes palestinos na Cidade Antiga de Jerusalém.
A UNRWA foi banida por Israel em 2024, que acusa a agência de ter relação com o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023. A invasão do galpão teve participação de Yulia Malinovsky, uma das parlamentares israelenses responsáveis pela lei que baniu a agência.
A polícia israelense não se pronunciou sobre o caso até a última atualização desta reportagem.
A UNRWA esteve no centro de uma polêmica em 2024. Em janeiro, uma investigação interna foi aberta na agência para apurar um possível envolvimento de 12 de seus funcionários nos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023. As informações foram passadas por autoridades israelenses. Em agosto, a ONU afirmou que nove funcionários da UNRWA "podem estar envolvidos" nos ataques.
A UNRWA foi estabelecida há cerca de 75 anos, atendendo cerca de 750 mil refugiados palestinos da guerra de 1948, durante a criação do Estado de Israel. A atuação da agência, principal organização das Nações Unidas que fornece serviços de ajuda e educação a milhões de palestinos na Cisjordânia ocupada e em Gaza, está descrita em acordo firmado entre Israel e ONU de 1967.
O banimento da agência da ONU em Israel, aprovado pelo parlamento israelense em outubro de 2024, proibiu todas as atividades do órgão no território israelense, incluindo em Jerusalém Oriental. A UNRWA classificou a decisão como "ultrajante" e afirmou que o banimento pode provocar o colapso do atendimento humanitário nos territórios palestinos.
Marcha do Dia de Jerusalém
A marcha dos jovens israelenses nesta segunda-feira (26) comemorou o Dia de Jerusalém, que marca a captura da parte oriental da cidade por Israel, incluindo a Cidade Antiga e seus locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos, durante a guerra do Oriente Médio de 1967.
O evento ameaça aumentar ainda mais as tensões em uma cidade já instável, após quase 600 dias de guerra em Gaza.
Comerciantes palestinos fecharam suas lojas mais cedo e a polícia se posicionou nos becos estreitos antes da marcha, que muitas vezes se transforma em uma procissão turbulenta e por vezes violenta de judeus ultranacionalistas. Em determinado momento, um policial levantou os braços em comemoração, reconheceu um manifestante e foi o abraçar.
Jerusalém está no centro do conflito entre israelenses e palestinos, que veem a cidade como parte essencial de suas identidades nacional e religiosa. Trata-se de um dos pontos mais difíceis do conflito e frequentemente se torna um foco de tensão.
A procissão do ano passado, realizada durante o primeiro ano da guerra em Gaza, viu israelenses ultranacionalistas atacarem um jornalista palestino na Cidade Antiga e fazerem apelos à violência contra palestinos. Há quatro anos, a marcha ajudou a desencadear uma guerra de 11 dias em Gaza.
Ônibus de turismo com jovens judeus ultranacionalistas chegaram próximos aos acessos à Cidade Antiga, trazendo centenas de pessoas de fora de Jerusalém, incluindo de assentamentos na Cisjordânia ocupada por Israel.
A polícia informou ter detido algumas pessoas, sem especificar quantas, e disse ter “agido rapidamente para evitar violência, confrontos e provocações.”
Voluntários de organizações pacifistas, como Standing Together e Free Jerusalem, tentaram se posicionar entre os manifestantes e os moradores para evitar confrontos.
“Esta é a nossa casa, este é o nosso Estado”, gritou um manifestante a uma mulher palestina.
“Vai embora daqui!”, ela respondeu, em hebraico.
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