Uma operação de agentes federais de Imigração em duas fazendas de maconha no sul da Califórnia terminou com mais de 300 pessoas presas, entre elas, um cidadão americano e veterano do Exército dos Estados Unidos que passou três dias detido. George Retes, de 25 anos, foi levado pelas autoridades no último dia 10, quando tentava chegar ao Glass House Farms, em Camarillo, onde trabalha como segurança.
A prisão aconteceu durante a operação do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês), que envolveu agentes do Serviço de Imigração e Controle de Aduana (ICE) e da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP). A ação, que mirava duas instalações de cultivo de maconha em Carpinteria e Camarillo, foi acompanhada por centenas de manifestantes e terminou em confrontos com uso de gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
Retes, pai de dois filhos, disse que havia planejado há semanas a festa de três anos da filha mais nova, segundo a rede americana CNN. No entanto, em vez de comemorar com a filha no parque, passou o aniversário da criança sozinho, queimado por spray de pimenta e gás lacrimogêneo e confinado em uma cela com luzes acesas 24 horas por dia.
— Tudo o que eu queria era estar lá no aniversário da minha filha. Eu estava tão animado para vê-la completar três anos — contou Retes à CNN. — E doeu muito não poder estar presente.
Retes relatou que, ao tentar acessar o local de trabalho, foi impedido pelos agentes. Mesmo após se identificar como cidadão americano, foi ignorado. Depois, ainda de acordo com a CNN, quando tentou entrar no carro para sair da confusão, agentes cercaram seu veículo, quebraram o vidro da janela do motorista e o retiraram à força, jogando-o no chão.
— Um agente ajoelhou-se nas minhas costas e outro no meu pescoço. Tenho lesões nessas áreas por causa do tempo que servi no Exército — contou. Ainda segundo ele, mesmo dizendo que não conseguia respirar devido ao spray, foi algemado e levado "sem explicações".
Durante os três dias que ficou preso, Retes diz que não teve acesso a advogado, não recebeu atendimento médico adequado e sequer soube o motivo de sua prisão. Foi colocado em observação por risco de suicídio, segundo ele, e permaneceu em uma cela iluminada, com dor nas pernas e nos braços, sem direito a banho e com ferimentos não tratados.
— Eu só pensava que nunca mais veria meus filhos —disse.
O que diz o DHS
A porta-voz do DHS, Tricia McLaughlin, disse à CNN que Retes não havia sido indiciado. E o Ministério Público dos EUA informou que não apresentaria acusações contra ele. McLaughlin ainda disse que Retes foi detido por suposta agressão, mas não forneceu detalhes sobre a acusação.
“Enquanto agentes da CBP e do ICE cumpriam mandados de busca criminal em 10 de julho na unidade de maconha em Camarillo, Califórnia, George Retes — um cidadão americano — tornou-se violento e se recusou a obedecer à lei”, disse McLaughlin em comunicado. “Ele desafiou os agentes e bloqueou a rota deles, recusando-se a tirar seu veículo da estrada". Reter, por sua vez, nega as alegações.
— Gostaria de ver onde eu agredi um agente. E se isso é verdade, por que não fui acusado? — questiona.
A empresa Glass House confirmou ter recebido mandados de Imigração e disse estar colaborando com a Justiça. “Estamos ajudando os trabalhadores a conseguir representação legal”, afirmou em nota.
Retes foi solto no domingo seguinte.
— Então, basicamente fui preso por nada e perdi o aniversário da minha filha por nada? — perguntou ele aos agentes, que não o responderam.
Do lado de fora, o reencontro com a família foi comovente. Segundo ele, seus filhos "correram para os meus braços gritando ‘papai’".
— Foi a melhor sensação do mundo — afirmou. — Não importa se eu sou veterano, cidadão ou imigrante. Ninguém merece ser tratado assim. É algo com que vou ter que conviver pelo resto da minha vida.
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