Cuiabá, 02 de Dezembro de 2025
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02 de Dezembro de 2025

OPINIÃO Terça-feira, 02 de Dezembro de 2025, 08:06 - A | A

Terça-feira, 02 de Dezembro de 2025, 08h:06 - A | A

RODRIGO BRESSANE

Quando a safra não fecha

Rodrigo Bressane

O número de pedidos de recuperação judicial no agronegócio atingiu um novo recorde em 2025, evidenciando um cenário de preocupação para o setor produtivo. Segundo levantamento recente, o agro registrou um aumento de 31,7% nos pedidos em relação ao ano anterior, totalizando 565 solicitações, com destaque para produtores de soja e pecuária. Pela primeira vez desde o início da série histórica, os pedidos feitos por produtores pessoas jurídicas superaram aqueles realizados por pessoas físicas, refletindo um agravamento estrutural do endividamento no campo. 

Esse crescimento acentuado revela um quadro preocupante: a fragilização da cadeia produtiva, a elevação do risco de crédito e a redução da confiança institucional. Quanto mais produtores recorrem à recuperação judicial, mais rígidos se tornam os critérios dos agentes financeiros, dificultando o acesso ao financiamento rural, que é fundamental para custeio, investimento e continuidade das operações. 

Entre os principais fatores que explicam esse aumento estão o alto custo de produção, o endividamento crescente, a dificuldade de renegociação com credores, a pressão de preços internacionais, eventos climáticos adversos e a queda de rentabilidade em diversas cadeias. Muitos produtores, diante do aumento no preço de fertilizantes, defensivos, energia, logística e juros elevados, viram suas margens ficarem comprimidas. Com isso, a capacidade de honrar compromissos caiu, levando muitos a buscar a recuperação judicial como alternativa para reorganizar dívidas e evitar a falência. 

Esse movimento, porém, reforça a necessidade de reflexão e ação. Para evitar que esse quadro se agrave, é essencial estimular práticas mais robustas de gestão financeira, com planejamento de custos, fluxo de caixa e limites seguros de alavancagem. A diversificação de culturas e fontes de renda também se torna estratégica para reduzir riscos em um mercado altamente volátil. Outro ponto fundamental é a renegociação preventiva de dívidas, antes que a situação chegue ao limite. É igualmente importante fortalecer a governança das propriedades, investir em tecnologia e buscar maior eficiência operacional. 

No campo das políticas públicas, é indispensável ampliar instrumentos de proteção do produtor, como seguros agrícolas efetivos, mecanismos de hedge e condições de crédito mais ajustadas à realidade da produção. O setor produtivo, as entidades representativas e o governo precisam caminhar juntos para construir soluções que reduzam a vulnerabilidade econômica do agro. 

O aumento recorde das recuperações judiciais é, portanto, um alerta: apesar da força do agronegócio brasileiro, parte dos produtores está enfrentando um momento de grande dificuldade. Com gestão, inovação, diálogo institucional e medidas de prevenção, é possível reequilibrar o setor e proteger aqueles que garantem a produção de alimentos, renda e desenvolvimento em todo o país." 

Rodrigo Bressane é advogado especialista em Agronegócio, Meio Ambiente e Sustentabilidade.

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