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CIDADES Domingo, 24 de Março de 2019, 09:36 - A | A

Domingo, 24 de Março de 2019, 09h:36 - A | A

ESTUDO DA FGV

Cada brasileiro desperdiça mais de 40 quilos de comida por ano

Extra

 

Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a startup de pesquisas digitais MindMiners , com a Embrapa e com o programa Sem Desperdício da União Europeia revelou que cada brasileiro joga fora, em média, 41,6kg de comida por ano. Desse volume, 38% são arroz e feijão; 35% carnes (bolvina e frango); 4% leite e derivados e outros 4%, frutas e hortaliças. Demais itens apontados foram massas, peixes e grãos.

 

O levantamento realizado através de entrevistas presenciais e questionários online com 1764 pessoas de todas as regiões do país, diversas faixas etárias e de diferentes classes sociais mostrou que o brasileiro enxerga o desperdício como um problema e percebe que pessoas próximas têm hábito de jogar comida fora, mas não reconhece que ele próprio também está desperdiçando alimento. De acordo com o analista de Marketing da MindMiners, Rodrigo Patah — um dos responsáveis pela pesquisa — o comportamento é em nome da fartura:

 

 

— O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam alimento no mundo e isso é cultural. Os resultados que tivemos em diversos tamanhos de domicílios, tanto em lares de pessoas que moram sozinhas, quanto em casas com quatro, cinco pessoas; da classe A à E foram bastante semelhantes.

 

Segundo Patah, muitas pessoas aproveitam ofertas para fazer compras mensais e adquirem mais itens do que necessitam: 70% valorizam ter a dispensa de casa cheia. Além disso, a maior parte dos respondentes acredita que sabor (94%) e frescor (77%) são os principais, como consequência, muitos descartam as sobras das panelas (43%).

 

— Até a inflação dos alimentos seria menor se o brasileiro não jogasse tanta comida fora. É necessária uma conscientização — opinou o analista.

 

O montador de peças Raphael Martins, 27 anos, é um exemplo de brasileiro que desperdiça. Por morar sozinho e valorizar o frescor dos alimentos, joga metade do que cozinha no lixo.

 

— Feijão eu ainda congelo, mas arroz e macarrão estragam com facilidade. Até os ovos já chegaram a apodrecer porque não comi no prazo — conta.

 

Mesmo fazendo compras de 15 em 15 dias, não consegue aproveitar tudo que adquire e calcula que poderia economizar cerca de R$ 150 por mês se mudasse os hábitos.

 

— Eu adoro comer na rua, com a facilidade de aplicativos então, faço isso com bastante frequência. Cozinho para três dias da semana, mas chega no terceiro já não quero comer aquela comida e acabo jogando fora — confessa o jove

 

Iniciativas para aproveitamento

Há sete anos, após observar o enorme desperdício de comida nas feiras livres, a ex-empregada doméstica Regina Tchelly criou o Favela Orgânica com o objetivo de promover aproveitamento total dos alimentos. Hoje, ministra cursos no Morro da Babilônia para moradores e viaja o mundo para divulgar o projeto.

 

— Eu faço o uso de sementes, raízes, talos, folhas e casca. O que sobra, vira compostagem. Por exemplo, estamos na temporada da jaca. Da carne da fruta, faço coxinha; do palmito, arroz carreteiro; do caroço, patê; do gomo, faço uma bolonhesa que fica parecida com nhoque — contou a empreendedora.

 

Segundo Regina, que também ensina como plantar temperos e verduras em casa, as práticas geram redução das compras familiares e economia doméstica. Iniciativa com semelhante funciona no Sesc do Rio de Janeiro: o Mesa Brasil promove ações educativas sobre a utilização de cascas, sementes e talos em receitas nutritivas, além da doação de alimentos. O programa conta com mais de 800 entidades cadastradas em todo o Estado, atendendo a pessoas em condições de vulnerabilidade social.

 

— Diariamente, voluntários recolhem insumos de mais de 200 parceiros cadastrados, entre mercados e hortifrutis. Só nos meses de janeiro e fevereiro, mais de 300 toneladas de alimentos foram redirecionadas. Estimamos que, desde o início do projeto, nos anos 2000, somamos 18 mil toneladas — calcula a coordenadora técnica de nutrição do Mesa Brasil Sesc, Karime Ribeiro.

 

O objetivo, de acordo com a coordenadora, é estimular a transformação da cultura alimentar ao capacitar cozinheiras de instituições e a comunidade a inserir mais fibras e vitaminas no cardápio e criar receitas como: cocada de alface, biscoito de pepino e brigadeiro de chuchu. O último, por exemplo, também ajuda a ganhar volume na produção

 

.— Se com uma lata de leite condensado era possível produzir 25 brigadeiros, ao acrescentar o chuchu, ela vai conseguir fazer 50 unidades. O olhar da maioria dos assistidos é para a questão do custo: como não têm grande poder de compra, têm que transformar a comida — analisou Karime.

 

Para a coordenadora técnica, moradores de regiões marginais costumam comer mais industrializados e enlatados por falta de orientação e também de acesso. Apesar de a baixada, por exemplo, ter um mapa de feiras populares, há poucos e pequenos estabelecimentos fixos que comercializam comida saudável.

 

Frutas e verduras no lixo

Todo dia, na Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa-RJ), cerca de 15% dos produtos colocados à venda são jogados fora. No box Tavares Martins alimentos, diariamente 500 caixas de mamão — produto carro chefe do estabelecimento — são dispensadas. O gerente Afonso Viana explica que quando a fruta está boa, mas está com algum amassado e não tem comercialização, é doada para instituições que recolhem para fazer a distribuição para pessoas em situação de vulnerabilidade. Entretanto, os itens que vêm da roça com doenças, como chocolate ou tracnose, são jogados no lixo.

 

— Como está fora da safra, muitas frutas vêm com problemas. Dá para perceber pela casca, ou bem marrom ou com pontinhos bancos. Cada caixa jogada fora custa para a loja 30 reais — calculou Viana.

 

Luiz Roberto Ribeiro, de 60 anos, vende manga-espada. A fruta está na entressafra e, como vem de Alagoas, se deteriora rápido. Para não perder muita mercadoria, o comerciante acelera as vendas reduzindo os preços. Para o vendedor de verduras André da Silva, de 44 anos, não há estratégia que consiga reduzir o desperdício de seu segmento:

 

— A gente vende até duas da tarde. O que sobra, a gente doa, porque as verduras não servem para o outro dia! O que as pessoas não pegam como doação, a gente joga no lixo. Entre alface, agrião e couve, só meu box joga fora, por dia, cerca de 50 caixas, sendo cada uma com 25 itens.

 

A Ceasa-RJ possui um programa social chamado Banco de Alimentos, com foco em reduzir o desperdício de alimentos das Centrais de Abastecimentos e combater a fome, através de doações que são repassadas para 400 instituições cadastradas no Estado, como escolas, hospitais, creches e abrigo. Nele, produtos doados por produtores e comerciantes passam por um processo de seleção e processamento, quando necessário.

 

O pastor evangélico Osmar da Silva, de 49 anos, não está cadastrado e busca na Ceasa, às sextas e sábados, alimentos para fazer sacolões e doar para comunidades de Mesquita, onde atende 30 famílias por semana. O voluntário Israel da Silva, de 41 anos, também recolhe nos boxes doações para uma clínica de dependentes químicos.

 

— Venho de quinta a sábado e levo cerca de 30 caixas por dia, incluindo frutas, verduras e legumes — contou o voluntário.

 

 

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