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ESPORTE Quinta-feira, 25 de Abril de 2019, 12:58 - A | A

Quinta-feira, 25 de Abril de 2019, 12h:58 - A | A

PARAOLÍMPIADAS

Após se tornar inelegível para o esporte, André Brasil se emociona: "Meu sonho foi interrompido"

Globo esporte

O tom era de emoção total. A voz falhava, ainda embargada. O choro, a todo momento, interrompia a fala. Em uma entrevista exclusiva à TV Globo, André Brasil se emocionou ao falar sobre a trágica notícia que recebeu nesta quarta-feira. Depois de passar por uma reclassificação funcional, o nadador foi tirado do esporte. Para os avaliadores, o brasileiro não foi considerado apto a estar dentro do sistema paralímpico, sendo que o próprio atleta já havia passado por outras três classificações ao longo de sua carreira e representado o Brasil durante quatorze anos.

 

A sensação do esportista, que participou de três Jogos Paralímpicos, com 14 medalhas conquistadas (sendo sete de ouro), cinco Campeonatos Mundiais e três Jogos ParaPan-Americanos, é de que seu sonho foi interrompido. Ele lembrou de sua mãe, Tânia, uma de suas maiores apoiadoras, e lamentou que não poderá levar seu filho Léo para vê-lo em ação nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020. Por vezes, chorou:

 

- Quando lembro da minha mãe e da minha tia em 2008, uniformizadas, loucas, lutando para ver o filho participar do maior evento esportivo da face da terra, achei que tudo aquilo era um sonho. Eu tive a oportunidade de participar três vezes disso, e minha família foi aumentando, porque várias pessoas começaram a acreditar mais no esporte adaptado, a buscar mais o que é o esporte adaptado. E eu fiz parte dessa transformação, realizei boa parte do meu sonho, e meu sonho foi interrompido, cara, sem escolha própria, sem eu definir que ele tinha que acabar agora. Eu não consigo nem pensar agora. Eu tinha planos de levar meu filho, estar com minha família toda lá de novo, e isso tudo acabou - comentou o atleta na entrevista à TV Globo no CT Paralímpico.

 

O nadador teve poliomielite aos três meses de vida e, como sequela, uma diferença de cinco centímetros de uma perna para outra. Além disso, não tem sensibilidade, força e equilíbrio na perna esquerda. Ele passou por sete cirurgias durante a infância que não reverteram a lesão. Andre Brasil entrou para o esporte adaptado em 2005 e desde então participou de mais de 300 competições.

 

- Eu acho que eu conheço bem esse buraco, né, há 14, 15 anos atrás eu tive a vontade de entrar no esporte adaptado, eu tive o mesmo parecer. O buraco é o mesmo, talvez com um caminho diferente que são 15 anos a mais, 15 anos de um peso a mais, de uma história, de um trabalho, talvez o caminho seja uma busca diferente para sair desse buraco, mas o buraco não é diferente, cara. Eu vejo com o mesmo sentido. A gente fala tanto de tecnologia, de tantas coisas, e o processo continua, a classificação pouco mudou, continua sendo uma coisa muito subjetiva. É pensar, repensar e entender ou tentar entender algo que alguém tirou de mim, o direito de continuidade.

 

André Brasil se tornou inelegível nos estilos crawl, borboleta e costas. Ele até poderia competir no peito, mas é seu pior nado. O brasileiro está impedido de nadar em seus melhores estilos, o que impossibilita a continuidade de sua carreira no alto rendimento:

 

- A primeira coisa que me tiraram foram meus sonhos, minhas metas, a minha vontade de um dia, de repente, se pensasse mais a frente, estar em Tóquio, pensar em aposentadoria porque já que vou fazer 35 anos. Então não sei, a gente não sabe o que vai acontecer. Não faço ideia. Hoje meu status de confirmado só me permite nadar uma prova, os 100m peito, onde, constatadamente com meu técnico, a habilidade é bem pequena e não vamos fazer quase que resultado algum. E tudo aquilo que construí de 2006 para cá, é como se eu sentisse que tudo foi apagado. É parar e entender que alguém pode tirar esse seu direito, eu não sei nem explicar, é como se alguém tirasse de você uma parte importante do seu corpo, seja seu coração, seu cérebro, e você não tem voz ativa para lutar contra isso - lamentou.

 

André Brasil passou por reclassificação porque iria participar do Open Internacional, competição que será realizada em São Paulo de quinta-feira a sábado, com competidores do mundo todo. Essa reclassificação internacional é obrigatória.

 

É um procedimento de análise para os atletas com deficiência funcional na reclassificação em normas aprovadas pelo Comitê Paralímpico Internacional. As normas sofrem alterações desde o ano passado, gerando inúmeras controvérsias. Na reclassificação desta quarta, André Brasil foi considerado fora do padrão da classe S10, a mais alta das classes funcionais.

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