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ENTRETENIMENTO Sexta-feira, 11 de Janeiro de 2019, 14:23 - A | A

Sexta-feira, 11 de Janeiro de 2019, 14h:23 - A | A

NO UNIVERSO

A Última Thule e o navio Aquarius

Yvonne Maggie

Na geografia medieval, Última Thule era o nome do lugar situado além das bordas do mundo conhecido, a última fronteira com a Groelândia ou a Islândia. Em algumas cartas náuticas do século XVI esta região era representada por monstros marinhos, uma baleia gigante e uma orca voraz.

 

No primeiro dia do ano de 2019, precisamente às 3h30m da madrugada, horário de Brasília, a nave New Horizons passou a 3 mil km da Última Thule, não mais o lugar alem das bordas do mundo, a última fronteira, e nem dos monstros marinhos das cartas do século XVI, mas do astro do cinturão de Kuiper, oficialmente conhecido e batizado em 2014 como MU69. Os cientistas da NASA que comandam a missão da New Horizons apelidaram assim o objeto celeste localizado no lugar mais distante do sistema solar, no cinturão de Kuiper. Os pesquisadores nada sabiam sobre o UM69 até o primeiro dia de 2019 a não ser sua órbita, sua cor e um pouco sobre sua forma e seu reflexo.

 

Este grande feito de uma equipe de cientistas talvez mude nossas vidas em muitos aspectos. Às 9h30m da manhã, horário de Brasília, do dia 1º de janeiro deste ano, a New Horizons enviou a primeira fotografia do astro localizado na última fronteira do sistema solar que fica a seis horas luz da terra. Foi apenas um sinal, uma foto que permite ver a forma do astro nunca antes visto pelos humanos. Nos próximos dias e meses a New Horizons enviará mais fotos e análises do objeto celeste longínquo.

 

O mundo sempre se beneficiou, em vários campos, das pesquisas espaciais. As descobertas advindas desta nave que viaja há quatorze anos tendo passado por Plutão e feito achados incríveis sobre este planeta, certamente trará muitos avanços para a humanidade.

 

Enquanto isso, na terra, vivemos desde o final do século passado uma das maiores crises migratórias conhecidas e que se agrava a cada dia. O Mediterrâneo tem sido a tumba de milhares de mulheres, crianças e homens que fogem do horror da fome e da guerra na África e na Ásia. A viagem é tão assustadora quanto foram as viagens imaginadas pelos geógrafos medievais e seiscentistas que se aventuraram a descrever o ponto mais distante, as bordas do universo.

 

O terror no Mediterrâneo estava sendo amenizado a partir da iniciativa de duas organizações humanitárias, o SOS Mediterrâneo e o Médicos sem Fronteiras, que legalizaram o navio Aquarius em 2016 debaixo da bandeira de Chipre e resgataram então mais de trinta mil vidas. Há dois meses o barco está ancorado na costa de Marselha. A ONG Médicos sem Fronteiras declarou no dia 12 de dezembro último o fim da atividade de resgate porque os países da Europa, especialmente a Itália, se recusam a aceitar refugiados salvos pela ação humanitária do Aquarius. Chipre se negou a continuar emprestando sua bandeira e assim o barco tornou-se apátrida e impedido de singrar legalmente os mares . As mortes seguirão transformando o Mediterrâneo em cemitério dos degredados da terra.

 

As duas notícias, uma do final do ano de 2018 e outra do primeiro dia de 2019, mostram caminhos opostos trilhados neste século de avanços tecnológicos fulgurantes.

 

Os cientistas buscam romper as fronteiras do universo conhecido e levam uma pequena nave, por quatorze anos, a enfrentar as bordas desconhecidas do sistema solar e trazer conhecimentos e descobertas que amenizam a vida da humanidade. Os políticos, que deviam zelar pela vida na terra, ao contrário, constroem fronteiras cada vez mais desumanas, muros reais ou imaginários, fazendo com que famílias inteiras, crianças, homens, mulheres e velhos expulsos do lugar onde nasceram e se criaram enfrentem o êxodo, a morte e o desespero para tentar sobreviver em outras terras.

 

As fotos e pesquisas de uma pequena nave que durante quatorze anos rompeu fronteiras inimagináveis e chegou à borda mais distante do sistema solar se contrapõe às fotos e cenas filmadas no Mediterrâneo e nas fronteiras dos países europeus. Mais recentemente, temos visto cenas que assistimos do êxodo de habitantes da América Central tentando chegar ao México, impedidos de seguir viagem para uma vida melhor em solo norte-americano. Sem falar na recente onda migratória da Venezuela para o Brasil e especialmente para a Colômbia.

Triste sina da humanidade a viver entre dois instintos, Eros e Thanatus, vida e morte. O que pensar destas duas maneiras de lidar com o desconhecido?

PESSOAS

 

 

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