O último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev , lançou um alerta contra a construção de uma nova barreira, seja ela física ou invisível, entre a Rússia e o Ocidente, 30 anos após a queda do Muro de Berlim , que se completam neste sábado, 9 de novembro. Em entrevista por escrito, Gorbachev também acusou Washington — antigo inimigo de Moscou na Guerra Fria — de destruir a arquitetura de controle de armas nucleares que mantém o mundo seguro.
Gorbachev, hoje com 88 anos, desempenhou um papel fundamental nos eventos que levaram à destruição do Muro de Berlim e ao fim da Guerra Fria, como secretário-geral do Partido Comunista Soviético e posteriormente presidente da União Soviética .
Ele anunciou a retirada de tropas soviéticas de países da Europa Central e do Leste que haviam sido controlados por Moscou durante décadas, e deixou claro que não iria interferir em assuntos internos da então República Democrática Alemã (RDA), conhecida como Alemanha Oriental .
O ex-líder também garantiu que tropas soviéticas posicionadas na RDA permanecessem em seus quartéis quando o muro foi aberto. Posteriormente, ele concordou com a reunificação da Alemanha.
Três décadas depois, e sofrendo de problemas intermitentes de saúde, Gorbachev disse estar preocupado com as relações ruins entre Ocidente e Oriente, especialmente com a falta de diálogo entre Washington e Moscou a respeito de armamentos nucleares.
Ele citou a decisão de Washington de abandonar o pioneiro pacto de 1987, o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês), que negociou com o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, e resultou na eliminação de mais de 2 mil mísseis de médio e curto alcance estacionados em território europeu.
Segundo Gorbachev, a decisão de deixar o INF, tomada em agosto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, “não foi trabalho de uma grande mente”.
Apesar de suas críticas à política externa dos EUA, Gorbachev alertou contra a criação de barreiras reais ou invisíveis, ao estilo do Muro de Berlim, entre Ocidente e Oriente. “Qualquer muro é uma tentativa de isolar-se do problema real ao não resolvê-lo e é por isso que sou contra muros. E, na Europa, sou contra quaisquer linhas divisas ou quaisquer ‘Cortinas de Ferro’”, disse.
“Independentemente do quão perigosa a situação atual é, não acredito ser uma reprise da Guerra Fria. Não há luta ideológica entre a Rússia e o Ocidente. Mas há ligações econômicas, liberdade de movimento, comunicação e uma convergência cultural. Então tenho certeza que uma nova Guerra Fria pode ser evitada.”
Gorbachev, que liderou a União Soviética de 1985 até 1991, costumava viajar bastante e passar parte de seu tempo livre na Alemanha, onde tem uma propriedade. Mas ele disse que ainda liga para o que russos pensam sobre ele, apesar de sua popularidade ser maior no Ocidente do que no país. Na Rússia, ele ainda é criticado por alguns pelo colapso da União Soviética, que foi seguido por uma profunda crise econômica.
Ainda escutado por alguns dentro do Kremlin por conta de sua vasta experiência em negociações com Washington e por seu papel no fim da Guerra Fria, Gorbachev raramente é visto em público. Em rara aparição em novembro do ano passado para assistir um documentário sobre sua vida, em Moscou, ele teve que ser fisicamente ajudado por assessores para andar.
Relembrando a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha, Gorbachev disse que a velocidade dos eventos surpreendeu líderes mundiais, incluindo ele mesmo.
“A própria História avançou com velocidade incrível. Em cidades da RDA, multidões se juntaram em praças e expressaram suas opiniões. Tornou-se claro que as coisas seguiam para uma reunificação muito mais rapidamente do que todos esperavam”, disse.
Gorbachev disse merecer crédito pelo fato de a reunificação da Alemanha ter acontecido sem derramamento de sangue. “Na época, 380 mil de nossos soldados (soviéticos) estavam em território da RDA. Eles receberam a ordem de permanecer nos quartéis. Um processo incrivelmente complexo aconteceu sem derramamento de sangue. Acredito que mereço crédito por isso”, disse.
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