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INTERNACIONAL Segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2019, 10:13 - A | A

Segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2019, 10h:13 - A | A

'SHUTDOWN '

Novo impasse favorece Trump

Helio Gurovitz

 

O principal motivo que levou Donald Trump a ceder no embate com os congressistas em torno do muro na fronteira com o México foi sua queda de popularidade. Sua aprovação caiu de 43% para 39,5% durante o “shutdown” de 35 dias, maior interrupção nas atividades do governo na história americana.

 

Diante da vitória, os democratas parecem apostar agora que um novo “shutdown” será ainda mais prejudicial a Trump. É o que explica o naufrágio das negociações orçamentárias no fim de semana, novamente em torno de questões ligadas à política migratória (desta vez, restrições ao trabalho da guarda fronteiriça).

 

Se não chegarem a acordo até sexta-feira, novamente o governo será obrigado a paralisar parte de suas atividades por falta de verbas. Novamente, funcionários públicos deixarão de receber seus salários, e o país entrará numa nova operação tartaruga.

 

Será que a conta da nova paralisação irá de novo para a popularidade de Trump? Não necessariamente. Se o impasse em torno do muro era visto como teimosia adolescente, desta vez o que está em jogo não é uma promessa de campanha específica, mas a questão geral: destinar mais recursos ao controle das fronteiras.

 

Mesmo que o país não viva a crise tenebrosa que Trump pinta em seus discursos, ele foi eleito com uma plataforma de controle migratório. Houve aumento na detenção de ilegais tentando cruzar a fronteira no ano passado. É razoável que se faça algo a respeito.

 

Justamente por isso, desta vez a intransigência poderá cair na conta dos democratas. O ponto de discórdia que impede um acordo é a insistência deles em limitar as detenções de ilegais que já entraram no país, de modo a obrigar as autoridades a concentrar-se em criminosos e nos que oferecem riscos, não em famílias cujo único delito é não ter documentos.

 

Com a pré-campanha eleitoral em pleno andamento, a divergência tem fundo político. O objetivo dos democratas é levar Trump novamente à beira de paralisar as atividades do governo. O que derrubou sua popularidade da primeira vez, assim imaginam, derrubaria de novo.

 

Há, contudo, um erro de cálculo nesse raciocínio. O que derrubou a popularidade de Trump foi a associação dentre o “shutdown” e a promessa do muro. Desta vez, como o muro se tornou uma discussão lateral e já foi descartado na forma como imaginado inicialmente, o símbolo da campanha não está mais na mesa de negociação.

 

Em vez disso, mantém-se o país mobilizado em torno do principal item da agenda de Trump: a política migratória. Em vez de discutir o New Deal Verde proposto por parlamentares democratas, a guerra comercial com a China ou a estagnação das negociações nucleares com a Coreia do Norte, os americanos se voltam para uma questão cujo último beneficiário eleitoral é o próprio Trump.

 

A impopularidade do governo dá ao Partido Democrata a vantagem na largada da corrida eleitoral de 2020. Mas o terreno está dividido. A cada semana se sucedem novos anúncios de pré-candidatos democratas à Presidência – ontem foram as senadoras Amy Kobluchar e Elizabeth Warren. As pé-candidaturas democratas já somam pelo menos 17 nomes entre os já anunciados e os prováveis.

 

É um campo que reúne todo tipo de político, de moderados como o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg ou o ex-vice-presidente Joe Biden a inimigos declarados de bancos e corporações (Warren) ou mesmo o autoproclamado socialista Bernie Sanders (este ainda não se anunciou oficialmente candidato).

 

A fragmentação dos adversários fortalece a candidatura de Trump à reeleição. A estratégia dele inclui inflamar o medo do "socialismo" e conduzir o debate nacional para uma agenda favorável. Ele errou ao fincar o pé na exigência do muro e caiu na armadilha democrata. Desta vez, ao contrário, os democratas é que parecem atraídos por sua isca.

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