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POLÍTICA & PODER Segunda-feira, 12 de Agosto de 2019, 07:55 - A | A

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GRAMPOLÂNDIA PANTANEIRA

Conforme cabo Gerson, Selma Arruda participou da invenção de atentado para perseguir empresários e políticos em MT

HAROLDO ASSUNÇÃO - Especial para o Notícia Max

Reprodução

 

Ainda senadora – embora já confirmada a cassação de seu mandato por decisão unânime do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT) -, Selma Rosane dos Santos Arruda volta a ser notícia nas páginas policiais por conta de supostos desvios de conduta praticados à época que ainda era magistrada, titular da temida Vara Especializada de Combate ao Crime Organizado de Cuiabá.

 

Em recente depoimento à Justiça, o cabo Gérson Luiz Ferreira Corrêa Júnior, apontado na condição de operador do esquema de escutas ilegais conhecido por “barriga de aluguel”, afirmou que o Ministério Público Estadual, por meio do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), instaurou investigação com base em comunicação falsa sobre o planejamento de um suposto atentado contra a vida da então juíza Selma Arruda – mas o verdadeiro objetivo seria espionar políticos e empresários mato-grossenses.

 

O militar revelou no depoimento que o ex-coordenador do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), promotor Marco Aurélio Castro, ordenou que ele criasse uma história que levasse à quebra do sigilo telefônico do ex-governador Silval Barbosa e do ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, José Riva.

 

O pano de fundo de mais um capítulo da trama seria a intenção de Riva e Silval mandar assassinar a magistrada. O mais estranho é que Selma Arruda teria colaborado para criar a “estória” para dar cobertura aos pedidos de interceptações telefônicas.

 

 “Revelação de uma irregularidade ocorrida em investigação promovida pelo Gaeco/MT com anuência do então coordenador, Promotor de Justiça Marco Aurélio Castro, quando este determinou ao interrogado Gerson Correa que criasse uma estória cobertura para dar início a uma interceptação de pessoas suspeitas de tramarem a morte da juíza. Selma Arruda [...] Segundo o interrogado Gerson Correa, a juíza Selma Arruda foi quem lhe passou as informações sobre essa trama”, disse o cabo em um dos trechos do seu depoimento.

 

Segundo depoimento do cabo, a juíza foi ao Gaeco em 2015 para informar que estava sendo ameaçada. Desta forma, segundo Gerson, o então coordenador do Gaeco, promotor Marco Aurélio de Castro, teria pedido que o PM conversasse com Selma e colhesse os dados sobre as supostas ameaças.

 

“Ela narrou que tinha conhecimento de que uma pessoa da família de Antonio Carlos Milas tinha recebido algumas pessoas em uma fazenda, dentre elas o deputado Riva. E essas pessoas começaram a tecer comentários sobre ela, que ela era a cabeça do Gaeco”, disse o cabo. De acordo com o PM, aqueles que participavam da conversa na fazenda também teriam comentado que sabiam onde a neta de Selma estudava.

 

 “A juíza Arruda foi quem lhe passou as informações sobre essa trama, cujos suspeitos eram o ex-governador Silval Barbosa e o ex-deputado estadual José Riva; para poupá-la de ser implicada como a fonte da informação, houve a montagem dessa estória cobertura com o conhecimento dela”, disse Gerson Corrêa.

 

Estes fatos foram narrados ao promotor de Justiça  Marco Aurélio, que mandou Gerson falar com a juíza sobre o fato. "Eu fiz um relatório sobre os fatos. Minucioso, mas fantasioso, porque não guardavam relação com a verdade dos fatos. Foram incluídas informações para subsidiar interceptações contra o jornalista Antônio Carlos Milas, sua esposa Silvia Milas, Silval Barbosa, Antônio Barbosa".

 

Conforme Gerson, o promotor Marco Aurélio teria solicitado que fosse aberto um procedimento no Gaeco para apurar as supostas ameaças contra a juíza. No entanto, o então líder do Gaeco teria solicitado que no documento constasse que os fatos tivessem sido descobertos por meio de uma denúncia anônima.

 

O promotor teria solicitado que fossem incluídos, nas investigações, os números de Silval Barbosa e de seu irmão, Antônio da Cunha Barbosa, e também do empresário Filadelfo dos Reis Dias. Conforme o cabo, eles não tinham a ver com as ameaças narradas pela magistrada.

 

“Criamos uma história, um cenário e inserimos Filadelfo, Silval e Toninho. Logo em seguida Marco Aurélio mandou que instalasse como denúncia anônima com base no meu relatório, tratando como se fosse uma organização criminosa com vínculos na administração pública para ceifar a vida da doutora Selma”, declarou o cabo.

 

ENCONTRO INUSITADO

 

A trama supostamente engendrada pela então juíza Selma Arruda resultou na instauração do Procedimento de Investigação Criminal (PIC) nº 008/2015/Gaeco, ao curso do qual foi registrado um encontro no mínimo inusitado entre um promotor de Justiça e um dos empresários acusados.

 

No dia 13 de fevereiro de 216, entre as 14h e 17h, no restaurante Deck Avenida, agentes do Gaeco fotografaram o promotor Vinícius Gahyva em companhia do empresário Reginaldo Luiz de Almeida Ferreira, conhecido por “Rico Abdalla”, apontado na condição de um dos supostos mandantes do atentado imaginado por Selma Arruda.  À época, Gahyva era namorado da deputada estadual Janaína Riva, filha de José Riva, também investigado por conta da trama.

 

No dia seguinte, o então coordenador do Gaeco determinou a elaboração de um relatório de inteligência sobre o encontro. O documento foi assinado pelos agentes Roberval Alves de Souza e Jorge Roberto e Silva.

 

Curioso é que, antes de deixar a magistratura para se aventurar na política, Selma Arruda determinou prisões e até mesmo condenou políticos e empresários apontados por ela na trama do “atentado” que nunca existiu – razão mais do que suficiente para que, à época, ela se declarasse suspeita de atuar em processos no qual figuravam na condição de réus os supostos mandantes contra sua vida.

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