O avanço da direita no Congresso Nacional em 2022 impulsionou as candidaturas nestas eleições. Apesar da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva há dois anos, o espectro político conservador foi o que mais cresceu em número de candidatos em relação a 2020, último pleito municipal. Siglas como PL, PRTB e Novo lançaram 59.257 nomes em busca de uma vaga de prefeito, vice-prefeito ou vereador, um índice 42% maior do que o registrado anteriormente (41.787). Os números foram reunidos em levantamento da Action Consultoria, ao qual o GLOBO teve acesso com exclusividade.
As siglas de centro ainda mantêm o grande domínio dos comandos municipais. Mas esse grupo de legendas, liderado por MDB e PSD, teve um recuo de 17% no total de candidatos lançados, passando de 201.153 postulantes a 165.535. Já a esquerda, onde estão PSOL e Rede no levantamento, teve um crescimento de 11%; e a centro-esquerda, com o PT, recuou 11%, segundo a pesquisa
Um dos motivos para o crescimento da direita é a quantidade de dinheiro que cada partido tem neste ano para financiar suas campanhas e as regras atuais de distribuição do fundo eleitoral. A verba pública usada pelas legendas é proporcional à representação eleita para o Congresso. O PL elegeu 99 deputados federais, o melhor resultado de um partido desde 1998, quando PSDB e PFL elegeram, respectivamente, 105 e 99 deputados. Com isso, foi a sigla que recebeu a maior fatia desse bolo, com R$ 886 milhões para o financiamento de campanhas, o equivalente a 17% do total do fundo.
Projeção para 2026
Além disso, a filiação do ex-presidente Jair Bolsonaro ao PL impulsionou o engajamento nas eleições municipais e fez o partido passar de 27 mil para 36 mil candidatos este ano, um aumento de 33%.
— A direita está no modo ofensivo, enquanto a esquerda está no modo defensivo nesta eleição municipal. A direita cresceu e vai crescer mais. Se é verdade que a eleição municipal arma o cenário, monta o palanque para a eleição geral, dois anos depois, a gente pode prever que a participação da direita e da centro-direita na Câmara e no Senado em 2026 vai aumentar — afirma ao GLOBO o cientista político e colaborador do programa de governo de Bolsonaro em 2018, Paulo Kramer.
A sigla domina o número de candidatos a prefeito neste ano no Espírito do Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Mato Grosso, e está em segundo lugar em Goiás. Em 2022, Bolsonaro venceu em todas essas unidades da federação no segundo turno, apesar de ter perdido a disputa contra Lula.
Candidatos do PL, segundo pesquisas recentes, ocupam sozinhos a primeira colocação em cidades como Aracaju, com Emília Corrêa, e em Maceió, onde o prefeito João Henrique Caldas, o JHC, tenta a reeleição. A sigla também aparece na liderança, em empates técnicos, em Rio Branco, Belém, Fortaleza e Cuiabá.
Já em Belo Horizonte, João Pessoa, Manaus , Rio de Janeiro, Recife, Vitória e Goiânia, nomes do partido aparecem atrás na disputa.
Apesar de ainda ser pequeno e ter pouca base de comparação, o partido Novo deu um salto. Saiu de 611 candidatos em 2020 para 7.604.
— Houve um reposicionamento importante do Novo. Saíram junto (do partido) com o Amoedo todos aqueles que eram do perfil dele, turma meio esquerda caviar. Ficaram e entraram para o partido grupos de direita conservadora muito mais coeso e combativo — disse o deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP).
Centro-esquerda estável
Ex-ministro de Bolsonaro, Salles foi eleito pelo PL, mas migrou para o Novo após um racha na sigla em São Paulo.
Do lado da centro-esquerda, o PT aparece praticamente estável no número de candidatos este ano (0,6% maior), em uma missão para tentar recuperar o espaço perdido nos últimos anos, principalmente, nas prefeituras de São Paulo. O partido é o dono da segunda maior fatia do fundo eleitoral, com R$ 619 milhões (12%).
O deputado federal por São Paulo Jilmar Tatto, secretário nacional de Comunicação do PT, afirma que, diferentemente das legendas de centro, o partido aposta mais em candidaturas majoritárias, como as de prefeito, em vez das de vereadores, como uma forma de marcar território. Mesmo sem candidatos viáveis em algumas cidades, a ideia é fomentar a visibilidade com os olhos em 2026.
—Temos de participar, usar o tempo de televisão, para não perder o debate — disse Tatto ao GLOBO.
João Henrique Hummel, diretor-executivo da Action Consultoria e coordenador do estudo, afirma que, apesar do crescimento dos candidatos de direita, a tendência é a rejeição da população ao radicalismo. Ele cita também as mudanças nas regras sobre o funcionamento dos partidos, a partir de 2017, feitas para forçar uma redução do número de legendas no Brasil, como a cláusula de barreira.
Nos últimos quatro anos, 18 dos 29 partidos registraram redução no total de candidatos lançados. Também houve uma queda de 18% no total de postulantes.
O MDB ainda mantém a liderança no total de candidatos lançados, o que acontece em todas as eleições municipais há 24 anos, com pouco mais de 43 mil nomes. O número representa, porém, um recuo de 3% frente ao pleito passado. O partido é seguido por PP, PSD e União Brasil — este último nasceu da fusão de PSL e DEM. O União registra uma queda de 30% no total de candidatos, já o PP teve alta de 2%. O PSD teve crescimento de 3%.
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