Cuiabá, 31 de Agosto de 2024
Notícia Max
31 de Agosto de 2024

CIDADES Segunda-feira, 10 de Outubro de 2016, 12:40 - A | A

Segunda-feira, 10 de Outubro de 2016, 12h:40 - A | A

ENTREVISTA DA SEMANA

Eliana Siqueira: “São mais de R$ 2 milhões por dia para a saúde, e não vemos que esse dinheiro está efetivamente aplicado”

Valdemar Félix

Beto Terra

 

Presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed), Eliana Maria Siqueira Carvalho faz uma análise da atual situação da saúde pública em Cuiabá, destacando a falta de condição de trabalho dos profissionais, onde faltam itens básicos como luvas e esparadrapo,  a superlotação no pronto-socorro da Capital, lembrando que as inaugurações das Unidades de Pronto Atendimento não estão surtindo efeito, pois as policlínicas vêm sendo desativadas com a abertura das UPAs, e frisa que falta gestão no setor de saúde da Capital.

Notícia Max - Costuma-se dizer que a saúde em Cuiabá está na UTI. Isso é uma realidade?

Eliana Siqueira - A situação é essa, faz tempo a gente vem denunciando na mídia e através de nossas greves e manifestações que a saúde de Cuiabá está em um estado de falência progressiva. Hoje Cuiabá apesar de que se noticia nas propagandas que construiu hospitais, o São Benedito, que inaugurou duas UPAs, isso vemos que não foi suficiente para resolver, por exemplo, o problema dos corredores do pronto-socorro que continuam superlotados, a sala vermelha do pronto-socorro que era para ter dez pacientes e fica sempre com 30 a 60 pacientes, uma média de 40 a 50, então podemos falar que a saúde continua na UTI.

Notícia Max - Como fica o médico nesta situação: superlotação e número reduzido de profissionais?

Eliana Siqueira - Com essa inauguração, por exemplo, das UPAs, o que aconteceu foi um remanejamento de médicos, não houve uma contratação específica para a UPA do Pascoal Ramos, então reduziu médicos, tirou da UPA Norte, da Policlínica do Verdão, tirou do Coxipó, do Planalto, e compôs a UPA Sul, então hoje a população está esperando cerca de duas a seis horas para ser atendida e não só o médico, mas também os enfermeiros e técnicos de enfermagem e recepcionistas estão sendo agredidos todos os dias verbalmente, e às vezes chega até as vias de fato.

Recentemente estive na Policlínica do Planalto, onde uma médica foi agredida, tiveram que conter a paciente, exatamente por isso, por tempo de espera. Tinha apenas uma médica na policlínica para atender as crianças, ela tinha que atender as crianças internadas, chegaram duas suturas, ela teve que ir fazer as suturas, enquanto isso a porta ficou sem ninguém para atender, e quando ela foi realmente começar a atender, criou aquele bafafá.

Notícia Max – E as condições de trabalho dos profissionais?  Faltam itens básicos para o bom desenvolvimento do trabalho?

Eliana Siqueira - São frequentes essas faltas. Todos os dias alguém manda no Whats, agora ficamos sabendo em tempo real, falta de luva, falta de dipirona, falta de esparadrapo, fazendo curativo com fita crepe, e isso daí são faltas frequentes. No pronto-socorro os acompanhantes estão comprando os medicamentos para ser injetados nos pacientes. E quando a gente vai pedir explicação para a gestão na saúde, o secretário diz que não é um problema da gestão, e sim um problema de logística, que falta alguma coisinha para entregar os remédios, mas vemos que essa logística falha não foi corrigida nesse ano inteiro, nesses praticamente dez meses que temos discutido sobre isso.

Notícia Max – Então na opinião da senhora o maior problema é de gestão?

Sim. A saúde é um investimento mesmo, é um investimento na pessoa. Na hora que mais precisamos do governo é a saúde, não tem um retorno financeiro nesse investimento. A saúde vai cuidar das pessoas, e a gestão hoje em Cuiabá, tem R$ 700 milhões para a saúde em 2016, são mais de R$ 2 milhões por dia para a saúde, e não vemos que esse dinheiro está efetivamente aplicado, será que eles estão gastando demais em reforma de prédio, em construções e isso não está dando o cuidado suficiente com as pessoas, com a contratação de profissionais?

Na UPA, por exemplo, tem cinco médicos para atender e tem três técnicos de enfermagem para fazer a medicação, então isso é uma sobrecarga para todo mundo. Tem cinco médicos passando um monte de remédio e apenas três técnicos para pegar a veia, preparar a medicação, fazer a veia, colher exame, então é muita sobrecarga e isso gera bastante insatisfação, então achamos que realmente é uma má gestão da saúde em Cuiabá.

Notícia Max – Quanto as UPAs, estão inaugurando novas unidades de saúde, mas fechando outras, igual à Policlínica do Verdão, que será fechada após a inauguração da Unidade de Pronto Atendimento. Isso não seria, como se diz, “cobrir um santo, e descobrir o outro”?

Realmente é quase aquela história, trocar o seis por meia dúzia. A gente tem afirmado isso e começou desde a UPA Norte. Quando abriu a UPA Norte, a da Morada do Ouro, fechou a Policlínica do CPA  e  a do Planalto, e com muito custo conseguimos, junto com a população, abrir a do Planalto, mas do CPA continua fechada. Quando abriu a Sul fechou a do Pascoal Ramos e com muito custo estamos mantendo a do Pedra 90 capengando, com um médico só para atender urgência e emergência, e agora quando abrir a UPA do Verdão a programação é para fechar a Policlínica do Verdão. Então realmente isso é cobrir um santo e descobrir o outro. Deveriam essas UPAs terem sido feitas onde não tem uma policlínica, aí sim seria um ganho para a população, mas aí parece que é só uma economia, porque a UPA trás recursos federais e a UPA não, então eles estão optando por uma UPA que vai trazer junto recursos federais e fechando a policlínica que a prefeitura teria que bancar com recursos próprios, mas para a população não é um ganho, porque não abre outros serviços no lugar.

 

 

 

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