Empresas brasileiras que não foram isentas do tarifaço de 50% sobre os produtos feitos no Brasil e vendidos ao mercado norte-americano devem intensificar o uso de conselhos estratégicos para redesenhar operações e mitigar os prejuízos bilionários que virão com a guerra comercial desencadeada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
De acordo com Mary Elbe Queiroz, presidente do Centro Nacional para a Prevenção e Resolução de Conflitos Tributários (Cenapret), os conselhos são criados em momentos de instabilidade global e podem contribuir por meio de avaliações de riscos tributários e indicar caminhos para proteger a empresa de impactos cambiais e comerciais. São esses órgãos que oferecem visão técnica e integrada para avaliar riscos e redesenhar rotas de exportação.
“Em cenários de instabilidade global como o provocado pelas tarifas anunciadas pelos Estados Unidos, o papel dos conselhos de administração e consultivos torna-se ainda mais relevante. Esses órgãos funcionam como núcleos de inteligência estratégica, capazes de orientar a alta gestão na tomada de decisões rápidas e embasadas, inclusive em temas fiscais e regulatórios”, explica.
Julio Amorim, especialista em planejamento e CEO da Great Group, consultoria especializada em planejamento, gestão e estruturação de empresas, afirma que as empresas precisam agir com método e velocidade. Segundo ele, o primeiro passo é revisitar a matriz SWOT com profundidade, identificando vulnerabilidades reais. Em seguida, mapear riscos estratégicos e operacionais de câmbio a logística.
“É hora de montar um plano emergencial, com ações claras e responsáveis por executá-las. E, principalmente, criar uma sala de guerra (war room): um comitê ágil, multidisciplinar, com autonomia para decidir e reagir rápido. Esse time deve revisar cenários diariamente, ajustar rotas. Redesenhar a operação é urgente com foco em liquidez, flexibilidade e inteligência de mercado”.
Prejuízo setorial
O decreto presidencial assinado por Donald Trump que estipula o tarifaço de 50% sobre os produtos feitos no Brasil tem 694 exceções. Entre elas, suco de laranja, derivados de petróleo, parte dos produtos de aço, celulose e aviação ficaram de fora da taxação. Ainda assim alguns produtos de importante peso na balança devem contabilizar perdas significativas. A lista não contempla, por exemplo, café, carnes, frutas ou pescados.
Segundo estimativa preliminar da Leme Consultores, as exceções ao tarifaço atingem mais de 40% das exportações brasileiras para os EUA. De janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou US$ 20 bilhões (cerca de R$ 111 bi) para os Estados Unidos. Desse total, US$ 8,2 bilhões --R$ 45,7 bi-- (41%) são de produtos que figuram na lista de exceções de Trump, enquanto US$ 11,81 bilhões (R$ 65,89 bi) são produtos que foram atingidos (59%).
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que representa empresas como a JBS e a Marfrig, estimou perdas de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) com a nova tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras. Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações de carne bovina do Brasil, depois da China.
Stefânia Ladeira, especialista em comércio exterior e gerente de produtos da Saygo Comex, ressalta que as empresas vão ter que trabalhar com os dados para saber o real impacto para o seu negócio. Há empresas que o impacto vai ser grande, porque o material que trabalham, como carnee café, são exportados em sua maioria para os Estados Unidos.
Julio Amorim enfatiza que, neste primeiro momento, é importante agir onde dói mais, que é no caixa. E isso passa por um posicionamento. “Sem reposicionamento rápido no mercado, a estratégia vai para a produção. Muitas já adotam férias coletivas, redução de turnos e ajustes logísticos para ganhar fôlego. Outras redirecionam esforços para mercados menos afetados. Quem esperar estabilidade, vai sufocar. O momento exige estratégia para oxigenar”.
CLIQUE AQUI e faça parte do nosso grupo para receber as últimas do Noticia Max.
0 Comentários