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ECONOMIA Sexta-feira, 01 de Dezembro de 2017, 08:00 - A | A

Sexta-feira, 01 de Dezembro de 2017, 08h:00 - A | A

O mercado de trabalho além dos números: como pessoas que não voltaram para o emprego formal estão se virando

Conheça as histórias de três pessoas que partiram para o "empreendedorismo por necessidade" após perderem o emprego com carteira assinada.

G1

O emprego sem carteira assinada e atividade autônoma seguem puxando a recuperação do mercado de trabalho após o impacto da crise, mostrando mais força que o emprego formal. É o que revela a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada nesta quinta-feira (30).

Dos 2,3 milhões de postos de trabalho criados, 74% eram informais. Esses dados traduzem uma situação vivida por muitos brasileiros a partir da crise: ao ser demitido de um posto formal, o profissional não consegue se recolocar no mercado nas mesmas condições. Com o tempo, desiste de procurar emprego e abre um negócio próprio, no chamado empreendedorismo por necessidade.

Foi o que aconteceu com Leandro Capel, Tatiana Camargo e José Pereira Lima Júnior. Conheça a história de cada um deles:

trabalho informal

Leandro conta que não foi 'nada fácil' aceitar a mudança de atividade (Foto: Arquivo pessoal)

 

 

Atuário de formação e com mais de 20 anos de experiência em seguradoras e consultorias, Leandro Capel, de 43 anos, ficou desempregado em maio de 2016. Após alguns meses procurando sem sucesso um novo emprego na área, ele decidiu usar as economias que tinha para montar um negócio próprio.

"Minha ideia foi montar uma pizzaria apenas com pizzas sem glúten. Não há nada desse tipo em São Paulo", diz Leandro.

"Algumas pizzarias vendem pizzas sem glúten, mas, se você as prepara no mesmo forno que as outras, há contaminação. Eu tenho uma irmã que é celíaca [portadora de doença que causa intolerância a glúten], então estou por dentro desse universo", explica.

Com longa experiência no mercado financeiro e pouca afinidade com a cozinha, Capel decidiu fazer curso de culinária, pães e massas sem glúten.

"Eu nunca havia montado uma empresa própria, mas há alguns anos fiz um MBA executivo, isso me ajudou. Apresentei o plano de negócios para algumas pessoas que conheço que têm experiência, elas me ajudaram a ajustar. Também procurei um contador e conversei com fornecedores."

A expectativa de Capel é inaugurar a pizzaria no primeiro semestre de 2018 - a obra está sendo financiada com o dinheiro de um empréstimo. As despesas pessoais são pagas com as economias de anos de trabalho. "O meu padrão de consumo familiar diminuiu, porque agora dependo das reservas que eu tinha", conta.

Capel também teve que aprender a contornar a frustração inicial. "Pessoalmente, foi terrível a transição. Fiquei muito desgostoso de não me recolocar [no mercado]. Eu, que tinha o hábito de usar terno e gravata, de repente estava em uma fábrica de fornos de tênis e calça jeans."

"Levou tempo para colocar na minha cabeça que estava mudando de ramo. A parte psicológica é assustadora, não esperava isso. Mas não vim ao mundo a passeio, vim a trabalho, de fato. Então, aceitei. Agora estou gostando e bastante ansioso para o começo do negócio."

 

Tatiana era analista de vendas e abriu uma loja virtual

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Mesmo sem experiência em empreendedorismo, Tatiana Camargo abriu uma loja virtual e conta que já cobriu boa parte do investimento inicial. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Tatiana Camargo, de 34 anos, trabalhava como analista de vendas em uma empresa de representação de marketing. Com o agravamento da crise econômica e a queda nas vendas, a empresa informou que teria que reduzir seu quadro de funcionários.

"Eu fui uma das desligadas, em agosto de 2016. Continuei procurando emprego, mas sem retorno nenhum. Até abril de 2017, não fui chamada para nenhuma entrevista, mesmo pagando sites para enviar currículos."

"Pensei: ‘o meu dinheiro vai acabar, e eu não vou ter como manter a mim e meu filho, Daniel, de 6 anos. É agora ou nunca'. Então decidi montar uma loja virtual", conta Tatiana.

A ideia surgiu da visita uma feira de negócios que Tatiana havia feito. Ela procurou informações a respeito do MEI (Microempreendedor Individual), entrou em contato com fornecedores e foi atrás de sites que mantêm lojas. A escolha foi montar uma loja especializada em produtos com a temática da Disney, desde canecas e copos até bolsas e carteiras.

"Eu nunca tinha empreendido, fui com a cara e a coragem. Foi difícil e ainda é."

Tatiana conta que participa de bazares para divulgar seus produtos e diz que o novo negócio já começa a dar resultados.

"Ainda não estou tirando lucro, estou cobrindo as despesas iniciais, principalmente com a compra de produtos. Já consegui cobrir a maioria delas. Peguei parte do meu fundo de garantia [FGTS] e investi nisso, agora estou começando a repor esse dinheiro."

Tatiana diz que gostaria de fazer cursos, mas ainda não conseguiu. "É muita correria para mim. Sou sozinha com o Daniel", conta ela, acrescentando que busca suprir essa falta com pesquisas pela internet. "Dois meses depois que abri o MEI, recebi uma cartinha do Sebrae dizendo que tinha cursos e que eu poderia participar, mas ainda não fiz isso. Então eu pesquiso muito pela internet, busco formas de chamar mais clientes."

 

Ela conta que, mesmo com um negócio próprio, não deixou de procurar emprego com carteira assinada. "É muito ruim pensar: ‘caramba será que vou conseguir pagar meu aluguel?’ Eu prefiro ter estabilidade, aquela coisa que é certa no final do mês.”

 

 

Após 20 anos em lojas, José partiu para franquia

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José perdeu o emprego em uma loja de colchões e partiu para uma franquia na mesma área (Foto: Divulgação/MC Franqueadora)

Gerente de loja de colchões durante 20 anos, José Pereira Lima Júnior, de 41anos, foi demitido em maio de 2016. Tentou se recolocar no mercado, mas não conseguiu. "Passei um ano tentando. Eu não tinha uma reserva financeira, estava pagando a casa. Parti para um segundo plano, fui fazer salgados, alguma coisa por fora. Eu sou a principal renda da família e tenho uma filha de 9 anos", lembra ele.

Depois de um tempo nessa situação, Lima Júnior resolveu partir para uma franquia. Ele acabou optando por permancer no mesmo ramo, de colchões. Após passar por uma seleção, conseguiu um financiamento com a própria franqueadora. "Para fazer o investimento, eu não gastei um centavo, porque sou 100% financiado, com longo prazo e sem juros. Passei por várias entrevistas até chegarem a conclusão de que eu tinha o perfil."

Lima Júnior, que não tinha noções de administração, diz que levou seis meses para se preparar. Ele fez um curso de treinamento oferecido pela própria franqueadora.

"Está sendo um desafio. Saí da condição de empregado para ser patrão. A parte administrativa é desafiadora. A forma de atender o cliente eu já sei bem, mas agora faço de tudo um pouco. Aprendo a cada dia que passa."

Cerca de 1 mês depois da inauguração de sua loja, Lima Júnior diz que está confiante, "apostando 100% das fichas" no novo negócio. "A minha preocupação agora é vender e tirar meu lucro e o da franqueadora. As pessoas não podem desistir do sonho que têm.”

 

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