O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira (17) que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, está "sempre muito atrasado e errado" em relação a condução da política de juros no país.
A afirmação de Trump vem apenas um dia depois de Powell criticar publicamente o tarifaço do presidente americano.
Nesta quarta (16), Powell afirmou que o patamar das tarifas anunciadas por Trump é muito maior do que o Fed esperava, mesmo nos cenários "mais extremos".
O presidente do Fed também disse que a guerra tarifária iniciada pelos EUA pode dificultar o trabalho da instituição, que toma suas decisões sempre guiada pelo objetivo de controlar a inflação, ao mesmo tempo que fortalece o mercado de trabalho.
Trump ainda reclamou do tempo que falta para que o mandato de Powell a frente do Fed seja concluído, dizendo que esse momento "não chega rápido o suficiente". Os mandatos de presidente e vice do Fed têm duração de quatro anos. Powell deve deixar o cargo somente daqui um ano, em maio de 2026.
As taxas de juros nos EUA estão, atualmente, entre 4,25% e 4,50% ao ano — um patamar alto para os padrões de juros do país — e Trump já criticou essa política monetária em diversas ocasiões, desejando o corte dos juros.
Isso porque juros altos são uma ferramenta para controlar a inflação, já que encarecem a tomada de crédito pela população e pelas empresas e, assim, impacta os níveis de consumo e investimentos da economia, reduzindo a pressão sobre os preços.
No entanto, com menor consumo, a atividade econômica tende a desacelerar, afetando o crescimento da economia do país.
O Fed é uma instituição independente e o governo do país não pode interferir nas decisões sobre o rumo dos juros, o que evita o uso das taxas de juros para aquecer a economia em um momento em que a inflação está acelerada.
"É muito importante o Fed ser independente porque é a instituição responsável por olhar para a economia de um jeito técnico", explica o analista de investimentos Vitor Miziara.
"Os governos, de forma geral, torcem para juros muito baixos porque estimulam a economia, trazem dívidas com custos menores e facilitam a vida das pessoas. Mas isso só funciona no curto prazo porque juros muito baixos sem uma base técnica para isso trazem inflação. A conta sempre chega lá na frente", pontua.
"A independência do banco central é importante para que a instituição não tome decisões com base no populismo, mas sim tentando assegurar uma economia saudável no médio e longo prazo, e não apenas no curto prazo para beneficiar o presidente da vez", destaca Miziara.
Luan Aral, especialista em câmbio da Genial Investimentos, comenta, ainda, que, para além da estabilidade da inflação, a autonomia do banco central também é importante para manter a confiança do mercado, principalmente em anos eleitorais.
Tarifaço de Trump gera cautela com cenário econômico
A visão de Powell, que é a mesma da maioria dos especialistas e investidores do mercado financeiro, é que a política tarifária de Trump pode, justamente, elevar a inflação, ao mesmo tempo em que provoca uma recessão econômica.
Tarifas maiores sobre os insumos e produtos que chegam ao país encarecem os processos de diversas cadeias produtivas e os preços tendem a ser repassados para o consumidor final, gerando mais inflação.
Ao mesmo tempo, a inflação alta diminui o poder de compra da população, que pode passar a consumir menos, provocando a desaceleração da atividade.
No discurso desta terça, Powell disse que "apesar da maior incerteza e dos riscos de baixa, a economia dos EUA ainda está em uma posição sólida", mas ponderou que "os dados disponíveis até agora sugerem que o crescimento desacelerou no primeiro trimestre em relação ao ritmo sólido do ano passado."
Powell também indicou que, diante das incertezas com o tarifaço de Trump, o Fed poderá manter a taxa básica de juros do país estável na próxima reunião (nos dias 6 e 7 de maio), enquanto aguarda "maior clareza antes de considerar quaisquer ajustes".
"O Fed está esperando para ver como as coisas vão se desenrolar antes de tomar qualquer tipo de medida em relação às taxas [de juros]", declarou Powell.
"Vamos ver se a inflação será temporária ou um evento pontual, para observar por quanto tempo essas tarifas vão durar e se haverá ou não algum tipo de mudança nelas", acrescentou.
A visão de Trump é diferente. Segundo o presidente, a inflação está recuando nos EUA, ao passo que o país está ficando "rico com as tarifas".
No Brasil, Lula também já criticou comando do BC
As críticas aos presidentes de bancos centrais independentes não é uma exclusividade do governo Trump nos EUA.
No Brasil, recentemente, aconteceu a mesma coisa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, desde o início do seu terceiro mandato, em 2023, a forma como o então presidente do Banco Central do Brasil (BC), Roberto Campos Neto, conduzia a política monetária no país.
As críticas só acabaram no fim de 2024, quando o mandato de Campos Neto acabou. A partir de 2025, que está no comando da instituição é Gabriel Galípolo, indicado pelo governo.
Lula não concordava com o patamar da Selic, taxa básica de juros, que estava em 13,75% ao ano no início do terceiro mandato. Isso porque os juros altos atrapalham o aumento do consumo no país.
Os juros vinham elevados desde a crise provocada pela pandemia de Covid-19, que fez a inflação disparar no mundo inteiro.
Entre diversos episódios de críticas públicas, Lula chamou Campos Neto de "adversário político ideológico" e disse que ele "trabalha para prejudicar o país". O ex-presidente do BC foi indicado por jair Bolsonaro, antes de Lula assumir.
Sob o comando de Campos Neto, o BC iniciou um ciclo de redução nos juros em agosto de 2023, que se estendeu até setembro de 2024, quando a taxa Selic voltou a subir por conta da inflação elevada.
Os juros continuam em alta no Brasil e, em sua última reunião, já sob o comando de Galípolo, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC promoveu uma alta de 1 ponto percentual na taxa Selic, levando-a ao patamar de 14,25% ao ano e com novas perspectivas de alta.
Mesmo com Galípolo à frente do BC, parte da base do governo ainda critica a condução da política monetária.
Em janeiro, na primeira decisão sob o comando novo presidente, que também terminou com alta dos juros, Lula defendeu e disse que Galípolo não podia "dar um cavalo de pau" porque essa alta nos juros já estava "praticamente demarcada".
Veja o que Trump falou na íntegra:
"Espera-se que o Banco Central Europeu (BCE) corte suas taxas de juros pela sétima vez, e, no entanto, o 'atrasado' do Jerome Powell, do Fed, que sempre chega 'TARDE DEMAIS E ERRADO', divulgou ontem um relatório que foi mais uma típica 'bagunça' completa! Os preços do petróleo caíram, os (preços dos) alimentos (até os ovos!) caíram, e os EUA estão ficando RICO EM TARIFAS. O atrasado deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE, há muito tempo, mas certamente deveria reduzi-las agora. O fim do mandato de Powell não chega rápido o suficiente!"
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