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04 de Junho de 2025

OPINIÃO Segunda-feira, 02 de Junho de 2025, 10:27 - A | A

Segunda-feira, 02 de Junho de 2025, 10h:27 - A | A

Antônio Márcio Buainain

Civilização e Inovação: entre a herança moderna e os dilemas contemporâneos

A interação entre inovações culturais, institucionais, organizacionais e tecnológicas criou as condições para uma “explosão” de avanços que impulsionaram o crescimento econômico sustentado.

Antônio Márcio Buainain

A Revolução Industrial costuma ser vista como um marco abrupto da história, fruto de avanços tecnológicos e científicos que transformaram estruturas econômicas e sociais. Essa visão simplifica trajetórias históricas complexas que prepararam seu surgimento. O livro Civilização e Inovação: a Revolução Industrial como um Fenômeno Evolucionário Civilizacional, de Ademar Ribeiro Romeiro (Editora Annablume, 2024), mostra que a Revolução não foi um evento isolado, mas resultado de uma trajetória civilizacional iniciada com o sistema feudal no século XI e que promoveu uma inédita abertura à inovação. A interação entre inovações culturais, institucionais, organizacionais e tecnológicas criou as condições para uma “explosão” de avanços que impulsionaram o crescimento econômico sustentado.

Romeiro também ressalta que inovação é um processo de longo prazo, resultado de acúmulos históricos, e que as rupturas são, muitas vezes, desdobramentos de tendências preexistentes. O fortalecimento da ciência moderna, a racionalização da produção e o avanço das instituições de mercado foram conquistas graduais. Soma-se a isso o papel crucial do Estado e de elites reformadoras, que, por meio de decisões políticas e projetos estratégicos, viabilizaram a emergência da economia industrial.

 

O uso do termo “civilizacional” convida a uma reflexão mais ampla sobre os fundamentos da modernidade. Embora no livro ele apareça de forma descritiva, aqui ganha um sentido normativo: civilização como projeto coletivo orientado por valores éticos e políticos, baseado em quatro pilares: a valorização do trabalho produtivo, substituindo a ociosidade aristocrática; a crença no progresso e na razão instrumental, com seus benefícios e riscos; a universalização dos direitos e da cidadania, ainda que de forma desigual e com contradições; e a ideia de civilização como superação da barbárie — que, muitas vezes, também serviu para justificar a dominação de povos sob o pretexto do progresso.

 

Vivemos hoje uma nova revolução — digital, biotecnológica, algorítmica — cujos impactos talvez ainda não compreendamos completamente. E o grande dilema é: que tipo de civilização estamos construindo?

O trabalho, que foi eixo da cidadania e do bem-estar, é cada vez mais ameaçado pela automação, gerando desemprego, obsolescência funcional e perda de sentido. Como sustentar o tecido social sem o trabalho como referência?

A razão técnica, antes vista como esperança de emancipação, tornou-se também fonte de risco. A ciência nunca demonstrou tanto seu valor como na resposta à pandemia, nos avanços da inteligência artificial, das vacinas e das energias renováveis — e, ainda assim, nunca foi tão contestada por parcelas significativas da sociedade. Além disso, mesmo quando reconhecemos a ciência, ela não basta. As grandes crises do nosso tempo exigem novos arranjos institucionais, mecanismos de cooperação internacional, formas eficazes de financiamento e, sobretudo, decisões políticas corajosas. Sem uma orientação civilizatória, mesmo as soluções mais sofisticadas podem fracassar — ou agravar os problemas que pretendem resolver

A cidadania, antes promessa de universalidade, sofre a corrosão das bolhas digitais e dos algoritmos de segmentação. Os direitos tornam-se fragmentados, o acesso à informação é mediado por interesses opacos, e a política é capturada por lógicas de mercado e performance. O Estado, que no passado foi motor da inovação civilizacional, aparece agora hesitante — ou mesmo capturado.

Os paradoxos estão postos.

Link para o download gratuito do livro: 

https://www.economia.unicamp.br/images/publicacoes/Livros/geral/propriedade-intelectual-royalties-e-inovacao-na-agricultura-controversias-sobre-o-papel-da-pi-na-agricultura.pdf

*Antônio Márcio Buainain é membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do CEA/IE/Unicamp e do INCT/PPED.

Sobre o CCAS

O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicílio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.

O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.

Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.

A agricultura, por sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. Não podemos deixar de lembrar que a evolução da civilização só foi possível devido à agricultura. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa, assim como a larga experiência dos agricultores, seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/. Acompanhe também o CCAS nas redes sociais:

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