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BRASIL Segunda-feira, 31 de Outubro de 2016, 12:25 - A | A

Segunda-feira, 31 de Outubro de 2016, 12h:25 - A | A

DESASTRE EM MARIANA. 1 ANO

Moradores ainda visitam ruínas de Bento Rodrigues 1 ano após tragédia

G1

Francisco de Paula, ex-morador de Bento Rodrigues, visita local da tragédia 1 ano depois (Foto: Cida Alves/G1)

 

O silêncio que imperava em Bento Rodrigues logo depois de ser sepultado pela lama deu lugar ao barulho das máquinas da Samarco que estão construindo diques para conter o que sobrou de rejeitos na barragem de Fundão. A lama secou e o mato cresceu entre as ruínas das casas do distrito, a 24 km de Mariana. Enquanto aguardam pela construção do novo Bento Rodrigues, os antigos moradores ainda visitam o lugar, quase um ano depois da tragédia.

 

Segundo Francisco de Paula Felipe, toda semana a defesa civil acompanha famílias em visitas. “O pessoal que vem aqui quer matar saudade, andar aqui, ver onde era a casa deles. Muita gente até se emociona quando vem, porque o que ficou é saudade do que a gente viveu aqui”, diz.

 

Francisco morou por 35 anos em Bento Rodrigues, onde estudou, casou na igreja de Nossa Senhora das Mercês e teve as duas filhas. Logo na entrada do distrito, ele mostra as casas da parte alta, onde morava, e que não chegaram a ser atingidas pela lama. Mas foram saqueadas depois que as famílias foram retiradas de lá.

 

Os imóveis estão sem portas, janelas, telhas, grades, vasos sanitários e pias. Homens em caminhões teriam ido até Bento Rodrigues, quando a área não estava sendo vigiada pela polícia, e levado tudo.

 

Ninguém pôde ficar no distrito após o rompimento, pois passou a ser considerado área de alto risco. Agora há uma sirene para avisar os trabalhadores e visitantes, caso haja um novo rompimento. Se ela tocar, quem estiver ali tem 10 minutos para correr até o ponto de apoio na parte alta.

 

Na região engolida pela lama, o rejeito secou e a vegetação tomou conta das ruínas das casas. Ainda há muitos sapatos, brinquedos, colchões e roupas entre os destroços. Os carros, caixas d'água e objetos maiores foram retirados.

 

Onde ficava a igrejinha histórica de São Bento, foi montado um ponto de trabalho para identificar peças do patrimônio que possam ter resistido ao soterramento.

 

A barragem se rompeu no dia 5 de novembro de 2015 e, além de destruir Bento Rodrigues, atingiu várias outras localidades. Os rejeitos passaram por mais de 40 cidades do Leste de Minas Gerais e do Espírito Santo e mancharam o Rio Doce e o mar na costa capixaba. O desastre ambiental, considerado o maior do país, matou 19 pessoas.

 

Vida após a lama

Logo após o acidente, Francisco e a família foram morar em um apartamento em Mariana. A filha mais nova, de 4 anos, quase caiu da janela, e os pais então pediram transferência para uma casa, onde estão morando desde janeiro. O imóvel fica em Colina, a 10 minutos do centro de Mariana.

 

Ele diz que muitos moradores de Bento Rodrigues foram para a Vila São José, também chamada de Vila Samarco. “Mas eu não quis porque fiquei com medo”, afirma. O local é próximo a outras duas barragens. “Já corremos risco uma vez.”

 

Agora, Francisco e os demais moradores aguardam pelo início da construção do novo Bento Rodrigues. O local já foi escolhido por votação: Lavoura, a quase 10 km de Mariana. Segundo Francisco, nas reuniões com os moradores foi dito que o local será construído de maneira a preservar ao máximo as características do distrito destruído.

 

“Pelo que a gente esperava, a gente queria que estivesse mais adiantado o processo do novo Bento, porém já vai completar um ano e muita gente está ansiosa, apavorada para ver começar”, diz Francisco.

 

Segundo José Luiz Santiago, gerente-executivo dos programas socioeconômicos da Fundação Renova, que coordena as ações de reparação nas áreas atingidas, há uma previsão de início da construção do Bento Rodrigues novo no ano que vem. “2017 será um ano de muita obra, de muita atividade”.

 

Ele afirmou que a parte de colocar as máquinas para começar a construção é “relativamente simples”. “Definir exatamente como será o novo Bento vai ser o maior desafio. O processo já começou com conversas para saber as expectativas da comunidade, para não levar uma folha em branco, mas uma proposta que será discutida em assembleia com os moradores.” Segundo ele, a proposta será um ponto de partida e poderá ser modificada se a comunidade desejar.

 

Nas próximas semanas, a fundação espera começar um cadastro definitivo dos atingidos na região de Mariana, que substituirá o cadastro emergencial feito logo após a tragédia. Segundo Santiago, a população atingida pela lama em Mariana terá assessoria técnica da Cáritas no processo de cadastro e também de discussão do novo Bento Rodrigues. “Tentaremos fazer igual ou melhor do que estava antes”, afirmou.

 

O cadastro definitivo é mais detalhado e seu preenchimento pode durar até 3 horas, segundo Santiago, e vai servir para dar suporte a todos os outros programas tocados pela Renova para as famílias atingidas e também nas indenizações.

 

Chuvas

O início da época de chuvas é uma preocupação para os atingidos pela lama desde Mariana até Regência, no norte do Espírito Santo, onde está a foz do Rio Doce. O medo é que, com os temporais, a lama que ainda vaza da barragem de Fundão cause mais destruição, manche o rio novamente e de novo chegue ao mar.

 

Para fazer a contenção, a Samarco está construindo diques na região de Bento Rodrigues. Na semana passada, o Ibama disse que as obras estão atrasadas.

 

Atualmente está em andamento a obra do dique S4, iniciada em setembro e com previsão de término para janeiro do ano que vem, e que abrange uma área de Bento Rodrigues. Também está sendo feito o aumento da capacidade do dique S3 em 800 mil metros cúbicos. Fazem parte do plano de contenção ainda os diques S1 e S2, que estão dentro da área da Samarco. S1, S2 e S3 são diques definitivos. S4 será desativado gradualmente após três anos, segundo o Ibama. 

 

Após a construção do S4, haverá o alagamento de parte da área já impactada em Bento Rodrigues, segundo a empresa. “O muro de pedras existente no distrito também será preservado por uma cobertura que será feita pela empresa. A ruína da Capela São Bento e o Cemitério não serão alagados”.

 

A decisão sobre o que será feito da área destruída de Bento Rodrigues ainda será discutida com os antigos moradores, afirma a Samarco.

 

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