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BRASIL Sexta-feira, 31 de Outubro de 2025, 08:59 - A | A

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tráfico de drogas

Relatório da Abin mostra elo entre facções brasileiras e criminosos da Colômbia e Venezuela

R7

Um relatório classificado da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), elaborado em janeiro de 2018, descreve a formação de uma rede transnacional de narcotráfico que conecta dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), grupos armados venezuelanos e facções brasileiras — especialmente o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho).

O documento indica que o Brasil passou a ocupar papel central nas rotas do crime sul-americano, com a Amazônia transformada em corredor de drogas e armas que cruzam fronteiras fluviais e terrestres.

Mais de sete anos depois, o alerta permanece atual. Dados de 2025 mostram o crescimento do tráfico na região: apenas entre janeiro e abril, o estado do Pará apreendeu mais de seis toneladas de entorpecentes, aumento de 18% em relação ao mesmo período de 2024, de acordo com a Segup (Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social).

Uma investigação regional revelou que 72% dos municípios fronteiriços da bacia amazônica convivem com células de organizações criminosas ligadas ao narcotráfico. Em setembro, os governos de Brasil e Colômbia inauguraram um centro conjunto de cooperação policial em Manaus para tentar conter o avanço dessas redes na floresta.

Influência externa e reorganização das Farc

De acordo com o relatório da Abin, a fronteira amazônica passou a ser pressionada por forças criminosas externas, originadas principalmente da Colômbia e da Venezuela.

O documento relaciona a intensificação das rotas ilegais ao processo de fragmentação do crime colombiano após o Acordo de Paz com as Farc.

“Há evidências de continuidade de participação de integrantes das Farc com o narcotráfico e a mineração ilegal”, registra o texto.

A agência informa que parte dos ex-integrantes da guerrilha recusou a desmobilização e manteve o controle de áreas de produção e transporte de cocaína, agora disputadas por novos grupos armados, como o Clã do Golfo e o Exército de Libertação Nacional (ELN).

Essas organizações se expandiram em direção à fronteira venezuelana, aproveitando a crise política e econômica do país vizinho e a fragilidade do controle estatal.

Rios da Amazônia e rota do Solimões

O relatório cita o uso crescente dos rios amazônicos como rota de entrada de drogas no Brasil. Entre 2016 e 2017, o estado do Amazonas registrou apreensões recordes na rota do Solimões, consequência direta da reorganização das redes colombianas e do aumento da produção de cocaína nos Andes.

“As forças de segurança do estado do Amazonas registraram apreensões recordes na rota do Solimões, além de constatarem grandes variações no uso dos rios amazonenses pelos criminosos”, afirma o documento.

Além de abastecer parte do mercado interno brasileiro, a cocaína que vem da Colômbia também faz do país uma rota de passagem para alcançar os continentes africano e europeu.

A Abin também destaca que o Acre funciona como ponto de intersecção entre os dois fluxos de criminalidade — o que vem da Colômbia e da Venezuela e o que parte do Centro-Oeste e do Sudeste brasileiros. O estado é descrito como área estratégica para o transporte de drogas e armas e para o contato entre grupos estrangeiros e facções nacionais.

PCC e CV assumem o controle da distribuição

No território brasileiro, a distribuição regional e internacional de drogas é controlada por facções nacionais. A Abin observa que PCC e CV atuam em cooperação com os fornecedores colombianos e intermediários venezuelanos, consolidando o Brasil como elo de redistribuição para mercados externos.

“O grupo já atua nos territórios paraguaio e boliviano com a presença de lideranças operando esquemas de obtenção de drogas e armas e em redes de lavagem de dinheiro”, aponta o relatório.

Essa integração fortalece as facções brasileiras e amplia o alcance de suas operações. O documento indica que, ao mesmo tempo em que o Arco Norte recebe influência estrangeira — onde predominam forças originárias da Colômbia e Venezuela —, o Arco Centro-Sul — fronteira com Bolívia e Paraguai — é dominado por iniciativas internas de internacionalização do crime.

A conjunção desses fatores transforma a Amazônia em corredor duplo de tráfico, articulando rotas que ligam os Andes ao Atlântico.

Porosidade e cooptação nas fronteiras

Com cerca de 17 mil quilômetros de extensão e 600 municípios, a fronteira continental brasileira é caracterizada pela baixa presença estatal e pela intensa circulação de pessoas.

A Abin alerta que a porosidade dessas áreas, somada à cooptação de agentes públicos, amplia as vulnerabilidades exploradas pelo crime transnacional.

As redes operam em estruturas fragmentadas e descentralizadas, o que dificulta a identificação de lideranças e a interrupção das conexões internacionais.

Alerta de segurança regional

O relatório conclui que a interação entre forças externas e internas impõe riscos diretos à estabilidade institucional. A pressão exercida pelo narcotráfico no Arco Norte alimenta a oferta de drogas e armas no país, enquanto a expansão das facções brasileiras na fronteira Centro-Sul difunde criminalidade em direção ao interior.

“A cada ação do governo colombiano corresponde uma reação e um rearranjo no equilíbrio de forças entre os distintos grupos criminosos, com diversificação nos esquemas de exportação de cocaína e maconha incluindo os territórios brasileiro e venezuelano”, diz o texto.

A Abin defende o fortalecimento da cooperação entre Inteligência e Segurança Pública e o intercâmbio permanente de informações com os países vizinhos. O documento encerra com uma advertência que continua atual:

“Monitorar e analisar correlações de forças na faixa de fronteira é importante ferramenta de antecipação de novos papéis a serem assumidos pelos pontos de conexão operados pelas redes e grupos criminosos, tanto em território brasileiro quanto em países vizinhos.”

 

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