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CIDADES Terça-feira, 21 de Novembro de 2017, 06:41 - A | A

Terça-feira, 21 de Novembro de 2017, 06h:41 - A | A

DISCRIMINAÇÃO

A persistência do racismo vedado e a consciência negra

Redação

 

O racismo no Brasil é "estrutural e institucionalizado" e "permeia todas as áreas da vida". A conclusão é da Organização das Nações Unidas (ONU), que publicou, em 2014, seu informe sobre a situação da discriminação racial no País. No documento, os peritos concluem que o "mito da democracia racial" ainda existe na sociedade brasileira e que parte substancial dela ainda "nega a existência do racismo".

Recentemente, um vídeo do jornalista da rede Globo, William Waack, onde o mesmo fazia comentários racistas, trouxe o assunto da existência do racismo no Brasil novamente em discussão. O vídeo teve uma grande repercussão na mídia, sendo um dos mais compartilhados nas redes sociais.

Apesar disso, para muitos especialista e historiadores tal atitude como do jornalista não é muito inesperada, e sim, só reflete algo que é ignorado e passado despercebido. Segundo a professora de história da Faculdade Cásper Líbero, Juliana Serzedello Lopes, o racismo no Brasil “é escancarado”.

No dia 20 de novembro, é comemorado no Brasil desde 2003, o dia da Consciência Negra, sendo em alguns estados, feriado. Além de representar a luta dos negros contra a discriminação racial, o dia foi escolhido em homenagem ao dia da morte do líder negro "Zumbi", que lutou contra a escravidão no Brasil.

Porém, no dia a dia é possível ver que mesmo após a abolição da escravidão, ocorrida em 1888, que possibilitou a libertação dos escravos negros no Brasil, o pensamento de que a cor da pele de uma pessoa determina sua inteligência, potencial e capacidade é bem presente. O racismo ainda é assistido por muitos negros em diferentes setores da sociedade.

A aluna de jornalismo Sirlene Oliveira Santiago, 28 anos, assim como outros negros no Brasil, tem, não apenas uma, mas várias histórias de atitude racista na qual ela já foi vítima.

Comentários como “negrinha da macumba”, “macaca”, entre outros, fizeram parte de sua infância.  “Eu era sempre a excluída da sala. Quando chegava junto com meus outros irmãos na escola, já começavam a falar ‘Lá vem o grupo dos macacos’. Éramos em quatro, sempre voltávamos da escola chorando e nos queixando daquilo que era encarado para eles como brincadeira.”

Sirlene cita também outra atitude racista no qual ela presenciou por não estar nos “padrões” exigidos por determinadas empresas para ser uma auxiliar de vendas.  “Uma vez fui fazer uma entrevista de emprego em uma empresa, era um processo seletivo, tinha passado na primeira fase. Porém, ao ter contato com eles na entrevista, não fui chamada. Tudo ok, né? Até eu perceber que as que tinham sido classificadas para a vaga eram meninas de pele clara e cabelo liso. Naquele dia percebi o motivo de não ter sido chamada.”

Wanderson Nogueira, de 38 anos, acredita que o preconceito racial, por muitas das vezes não ser algo tão “patente”, acaba sendo ignorado.

“É no dia a dia do preto que a gente vê. Ao entrar em uma loja e perceber que a vendedora não te dá moral devido a sua cor. A gente percebe! Nascemos com uma cor que antes da gente abrir a boca, já nos classifica de algo.”

A população negra compõe mais da metade dos brasileiros, na teoria, isso significa que os índices deveriam ser divididos proporcionalmente entre negros e brancos, porém na prática é inegável que isso não acontece.

Cerca de 67% dos brasileiros admitiram que a raça determina a qualidade de vida dos cidadãos, principalmente no trabalho (71%), em questões judiciais (68,3%) e em relações sociais (65%). Além de mais de 90% do país admitir a existência do racismo.

Ademais, dados sobre a educação, a saúde e a renda, revelam que os negros no Brasil são os mais prejudicados nesses setores, sendo disponibilizados a eles, que compõe mais de 53% no país, bem abaixo das condições de um branco. A educação é um bom exemplo disso, em contraste aos discursos igualitários, a chance de um negro ser analfabeto no Brasil é cinco vezes mais do que um branco, em outro extremo, apenas 1 a cada 4 pessoas com ensino superior é negra. Além disso, o dado só aumenta quando se sai do ‘campo’ da educação. Sendo que 70% dos que vivem em extrema pobreza no Brasil são negros.

Segundo explica o historiador brasileiro Leandro Karnal, atualmente professor da Universidade Estadual de Campinas na área de História da América, ninguém nasce racista, nem ao menos com uma supremacia branca.  É necessário alguém ensinar o outro a ser preconceituoso.

“Através do currículo formal direto ou através do exemplo indireto, é ensinado desde a infância todo tipo de preconceito. Para formar um mau motorista, na cadeira a criança tem que ver o pai passar o sinal vermelho, e nesse momento ele vai adquirindo por osmose esse modelo.”

Apesar disso, o professor defende que se é formado um ser preconceituoso, também pode ser deformado.

 “Se eu ensinei o preconceito, eu posso desensinar. Porque é um aprendizado e é artificial, não é da natureza. A grande aposta é na educação, pois ela formará os futuros cidadãos.”

 

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