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déficit de policiais

Aprovados no concurso da PM acionam Justiça para garantir nomeação

Ação cobra que Estado convoque os 1.200 aprovados no concurso de 2022 para recompor déficit de mais de 6 mil policiais na corporação

Da Redação

A Associação dos Candidatos Aprovados no Concurso Público para Soldado da Polícia Militar de Mato Grosso (ACAP-PMMT) ingressou com ação judicial na 1ª Vara Especializada da Fazenda Pública de Cuiabá contra o Governo do Estado, cobrando a nomeação imediata dos aprovados no concurso realizado em 2022. O processo denuncia o colapso na segurança pública e pede providências urgentes para recompor o efetivo da corporação. 

Do total de 1.800 aprovados no concurso, apenas 600 foram convocados até o momento, deixando cerca de 1.200 candidatos aguardando o chamamento. Segundo o lotacionograma oficial de abril de 2025, a Polícia Militar dispõe de 13.384 cargos previstos (Lei Complementar nº 529/2014 e Decreto Estadual nº 1.252/2025), mas apenas 7.132 estão ocupados. O déficit chega a 6.252 policiais, quase metade do efetivo necessário, e ultrapassa 61% entre cabos e soldados, justamente os cargos previstos no edital. 

Essa defasagem coloca Mato Grosso em posição crítica quando comparado a parâmetros nacionais e internacionais. A ONU recomenda a média de um policial para cada 250 habitantes, mas o estado registra apenas um para cada 500. Em um território de 903 mil km², com fronteira seca de cerca de mil quilômetros com a Bolívia, rota estratégica do tráfico internacional de armas e drogas, pouco mais de 7 mil profissionais são responsáveis por cobrir 142 municípios, muitos deles com apenas um ou dois policiais de plantão. 

Para José Lucas Souza Egueis, presidente da ACAP-PMMT, a omissão do Estado representa risco à vida da população e desrespeito aos concursados. “Embora sejamos 300 na associação, temos mais de mil aprovados no último concurso que exigem respeito do governo. Não se faz segurança pública com gambiarra, propaganda e marketing. O governo insiste em improvisos enquanto os aprovados esperam a nomeação para servir à sociedade”, afirma. 

Em vez de convocar concursados, o Estado tem optado por medidas paliativas, como a contratação de temporários e a sobrecarga da tropa com jornadas extraordinárias. Apenas em 2025, foram destinados R$ 5,8 milhões mensais para o pagamento de horas extras, valor suficiente para empregar quase mil soldados de carreira. Há casos em que policiais chegam a ultrapassar 390 horas de trabalho por mês, o dobro do limite legal. Esse modelo, além de caro e ineficiente, tem provocado adoecimento físico e psicológico, afastamentos e até suicídios dentro da corporação, conforme O Anuário Brasileiro de Segurança Pública. 

A advogada Patrícia Timm, aprovada no concurso, traduz em sua experiência pessoal a frustração de centenas de famílias. “Dediquei cinco anos da minha vida a essa preparação, fiz o teste físico empurrando a cadeira de rodas da minha filha, de 6 anos. É doloroso viver a insegurança de não ser chamada mesmo após tantos sacrifícios. É uma injustiça como cidadã, mãe e mulher.” 

Para os advogados Pedro Taques e Murilo Gonçalves, do escritório AFG & Taques, a insistência do Estado em soluções precárias demonstra a violação clara de princípios constitucionais, já que mantém milhares de aprovados aguardando a nomeação, candidatos que dedicaram anos de suas vidas acreditando em um concurso público sério. 

“Além disso, o Estado sistematicamente tem optado, nos últimos seis anos, por um modelo ineficiente e oneroso de gestão pública: gasta milhões em horas extras, sobrecarrega a tropa, quando poderia empregar soldados efetivos, garantindo segurança contínua e estabilidade ao serviço público”, avaliam os advogados. 

A ação judicial destaca que a situação já foi denunciada por câmaras municipais, pela OAB, por parlamentares e pelo Ministério Público, que ajuizou ação civil pública em Juína exigindo a nomeação de policiais. Entre as demandas oficializadas judicialmente estão: apresentação imediata de um plano de nomeação; suspensão de contratações temporárias enquanto houver concurso vigente; e acompanhamento da crise da segurança nos municípios mais afetados. 

“Mato Grosso está perdendo a guerra contra o crime organizado. Facções, feminicídios, cemitérios clandestinos e o aumento da criminalidade mostram que não há mais tempo a perder. O caminho constitucional é claro: convocar os aprovados e recompor o efetivo da PM. Estamos prontos e aptos para servir à sociedade mato-grossense”, conclui José Lucas Souza Egueis. 

Em julho, o escritório AFG & Taques já havia protocolado representações de natureza externa denunciando a situação a diversos órgãos estaduais, entre eles: Tribunal de Contas do Estado, Assembleia Legislativa, prefeituras municipais e também à Procuradoria-Geral de Justiça. 

MAPA DA VIOLÊNCIA 

· Homicídios: taxa de 31,7 mortes violentas por 100 mil habitantes em 2023, a maior da Região Centro-Oeste e 8ª no ranking nacional.

· Feminicídios: 2,5 por 100 mil mulheres, mais que o dobro da média nacional - Mato Grosso lidera o país nesse tipo de crime.

· Estupros: Sorriso registrou 113,9 casos por 100 mil habitantes, o maior índice do Brasil.

· Comparativo nacional: a Paraíba, com território 16 vezes menor, possui 8.865 policiais, número superior ao de Mato Grosso, que tem apenas 7.132.

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