Cuiabá, 25 de Abril de 2025
Notícia Max
25 de Abril de 2025

CIDADES Segunda-feira, 23 de Novembro de 2020, 08:22 - A | A

Segunda-feira, 23 de Novembro de 2020, 08h:22 - A | A

ENTREVISTA DA SEMANA

Elis Regina: “Muitas mulheres têm vergonha de denunciar”

Atual secretária municipal da Mulher, Elis Regina, em entrevista Notícia Max apresentou os trabalhos já realizados durantes esses cinco meses

Nathany Gomes

Mãe solo, assistente social, ativista dos direitos das mulheres há mais de 30 anos. Esse é o perfil da atual secretária municipal da Mulher, Elis Regina, que em entrevista Notícia Max, apresentou os trabalhos já realizados durantes esses cinco meses de existência e afirmou que Cuiabá foi o primeiro município a implantar um Espaço de Acolhimento às Mulheres Vítimas de Violência dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), em especial no Hospital Municipal de Cuiabá (HMC). Segundo ela, a iniciativa serviu de referência para outras cidades do país.

Notícia Max - Quais as principais ações desenvolvidas pela Secretaria da Mulher?

Elis Regina – Vale reforçar que nós estamos com apenas cinco meses de existência. O primeiro mês foi voltado para os trabalhos burocráticos, como por exemplo, criação de protocolos sobre como nós iríamos agir, regimento interno, entender como seria o funcionamento dessa Secretaria e até onde nós poderíamos chegar devido a pandemia.

Cuiabá foi o primeiro município a criar dentro de um hospital público um espaço específico para mulheres vítima de violência

No começo tivemos muitas dificuldades de chegar até essas mulheres por conta da pandemia e a necessidade de distanciamento, até mesmo a própria equipe tinha receio, pois nós também estamos em risco, mas mesmo assim conseguimos emplacar algumas campanhas. Iniciamos mesmo com a preocupação com vírus. Fizemos parcerias com a Águas Cuiabá e conseguimos uma doação de sabonetes, e compramos álcool em gel e formamos kits, entregando nos bairros mais carentes da cidade, chegando até essas mulheres através das líderes comunitárias.

Desta forma, continuávamos trabalhando para o desenvolvimento da Secretaria e criação das políticas públicas. A principal delas foi a criação do Espaço de Acolhimento da Mulher Vítima de Violência Doméstica, que funciona dentro do Hospital Municipal de Cuiabá (HMC). O espaço foi um pedido da própria Maria da Penha, líder de movimentos de defesa dos direitos das mulheres, que foi um prazer para prefeito da Capital, Emanuel Pinheiro (MDB), que tem esse olhar humanizado, poder atender esse pedido e a uma demanda reprimida que são essas vítimas e não tinham para onde ser encaminhadas.

Foi criado esse espaço dentro do HMC que conta com uma equipe multiprofissional, formada por psicólogas, assistentes sociais, oferecendo tanto apoio psicológico quanto jurídico, muito importante nesse momento, onde a mulher está tentando sair do ciclo de violência.

Cuiabá foi o primeiro município a criar dentro de um hospital público um espaço específico para mulheres vítima de violência. Tivemos tanto êxito que existem outros municípios que já pediram nosso modelo e estão implantando também, inclusive no interior de São Paulo (SP), três cidades estão implantando casas nesse modelo.

Além disso, emplacamos também na importância da capacitação, pois entendemos também que nós precisamos aumentar a rede. Nossa Secretaria é pequena, não conta com muitos servidores, mas se nós contarmos com uma rede maior, vamos poder atender um número maior de mulheres e atingir um número maior de mulheres vítimas de violência. Por isso, fizemos um treinamento em toda rede municipal de saúde bucal, pois entendemos que a maior parte da violência sofrida pelas mulheres ela se dá do pescoço para cima. Muitas delas tem dentes quebrados, problemas que acabam indo para os consultórios, e chegando lá as equipes não estavam preparadas para acolher e encaminhar essa mulher e a partir daí percebemos que o número de mulheres encaminhadas para acolhimento aumentou, ou seja, êxito também com essa ação.

Fora isso, acompanhamos a agenda nacional, como por exemplo, Agosto Lilás, Setembro Amarelo, Outubro Rosa e agora Novembro Azul, sim nós temos mulheres que tem próstata. Temos as trans e travestis e nós precisamos olhar com carinho especial para essas mulheres e que elas também têm espaço na nossa secretaria e estamos sim nessa campanha por elas.

Notícia Max - E os atendimentos desde a criação da Secretaria?

Elis Regina – Nós ainda não temos sede própria, pois a nossa está em reforma. Mas teremos sim um espaço muito bacana para atender essas mulheres. Aqui (Prefeitura de Cuiabá) nós vamos até elas, marcamos algumas rodas de conversas, geralmente nos próprios bairros até para facilitar a locomoção dessas mulheres. Vamos até elas, fazemos algumas atividades.

Agora com redução do contágio do coronavírus, estamos conseguindo fazer algumas reuniões presenciais, com número reduzido de mulheres, com todos os protocolos de biossegurança, mas os atendimentos que elas podem chegar a qualquer momento, 24h por dia, qualquer dia é apenas no Espaço de Acolhimento da Mulher Vítima de Violência, seja por conta própria ou por ambulância ou até mesmo pelo Ministério Público.

Quando ela quer falar conosco, o atendimento é mais por telefone, pois estamos aqui no prédio de forma provisória.

Notícia Max - Como a senhora analisa os casos de violência contra a mulher na Capital?

Elis Regina – O cenário infelizmente não diverge do nacional e mundial. A violência doméstica não é um mal do povo cuiabano, está geral na sociedade. Eu percebo que em Cuiabá, como na maioria dos lugares está vinculado ao consumo de drogas lícitas e ilícitas. Eu digo isso pois a maioria dos casos de violência contra mulher ocorrem a partir da quinta-feira, ou seja, aos finais de semana, aumenta muito. Isso não quer dizer que nos outros dias não tenha, mas são menores. Essa é uma questão preocupante e a gente precisa de fato pensar em políticas públicas, não somente para as mulheres, mas pensar em todas essas situações.

Muitas vezes as mulheres tem vergonha de denunciar, pois estão sendo ameaçadas todos os dias, está falando dos pais dos filhos dela, grande amor da vida dela e acredita de fato que irá resolver a situação sem precisar passar pela denúncia formal, algo muito nítido no diálogo com elas.

Notícia Max - E o Espaço de Acolhimento da Mulher tem apresentado um avanço no atendimento a essas mulheres vítimas de violência?

Elis Regina – Nós conseguimos criar esse espaço em um momento de grande necessidade, onde a mulher estava o tempo todo com o companheiro dentro de casa, onde o número de violência quase dobrou. Para se ter uma ideia o feminicídio em Cuiabá teve 800% de aumento, então é fundamental que essa mulher de fato tivesse uma linha, um espaço onde ela pudesse buscar esse atendimento e esse acolhimento.

Temos colhidos frutos, por mais que tem trazido bons resultados, nós não gostaríamos que ele existisse, mas é muito triste saber que as mulheres precisam passar por isso ainda, mas a gente é como um mal necessário, que no final devolverá a saúde.

Notícia Max - Um candidato criticou a criação e atuação da Secretaria. Como à senhora analisa essa situação?

Elis Regina – Eu me sinto um pouco desconfortável em falar desse assunto. Penso que um candidato, seja ele qual for, faz uma campanha apenas falando mal do trabalho que vem sendo desenvolvido nos últimos quatros anos por um gestor, penso que ele já não tem crédito algum para falar. Se fosse eu uma candidata, usaria todo tempo possível para falar das minhas propostas, coisas boas que eu gostaria de fazer pelo meu município se eu tivesse a oportunidade, e não criticando de maneira alguma quem fez, pois pelo menos fez e bem feito.

Isso nós podemos falar, o nosso prefeito fez muito por Cuiabá, que avançou absurdamente nos últimos quatros anos. Tanto ele como a primeira-dama tem esse olhar humanizado. Acho que isso trouxe um ar, sopro de esperança para população cuiabana, tanto nos projetos voltados para assistência social, criação da Secretaria Municipal da Mulher e muitos outros que estão por vir, a exemplo da Casa da Mulher Brasileira que é um sonho saber que irá se tornar realidade, melhorando a qualidade do atendimento a essa mulher que necessita de fato.

Pensar que uma pessoa que almeja o cargo máximo em nosso município, falar que nossa secretaria de políticas para as mulheres não é necessária, um cabide de empregos, sem nem conhecer a equipe, perguntar a qualificação e competência de cada um. Sem palavras para dizer o quanto a pessoa foi baixa, rasa, inexperiente e demonstra que não tem a mínima habilidade de demonstrar coisa nenhuma.

Um gestor de verdade dá oportunidade às pessoas falarem. Quando ele adentrou a nossa Secretaria ele ao menos teve a boa educação de perguntar e esperar a resposta. Ele simplesmente chegou aqui para humilhar, espezinhar. Se ele tem coragem de fazer isso conosco, um grupo pequeno, imagina com o poder nas mãos. Ele mesmo já diz quem ele é.

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1 Comentários


Evanilda Maria Ramos dos Santos 23/11/2020

Muito importante o trabalho dessa secretária, só quem está envolvida no trabalho com as mulheres sabe o quanto esse espaço é importante para pensarmos em políticas que atendam a grande demanda que temos.

1 comentários