O administrador do Hospital de Câncer de Mato Grosso, Raphael Santana, fala ao Notícia Max sobre o atendimento na unidade de saúde, ressalta a importância dos parceiros, que garantem o funcionamento do HCâncer, destaca as campanhas de conscientização, e explica que ainda há muito preconceito, principalmente por parte dos homens, e lembra ainda que se diagnosticado precocemente, o câncer tem grandes chances de cura.
Notícia Max - Como é realizado o atendimento no Hospital de Câncer, ele é gratuito?
Raphael Santana - No Hospital de Câncer em torno de 95% do atendimento voltado para a rede SUS. O hospital, é bom frisar, não é um hospital público, é um hospital privado, porém, com fins filantrópicos. Temos hoje um contrato de prestação de serviços com o SUS, e as pessoas confundem muito que o hospital é filantrópico é ligado a gestão pública, é ligado ao secretário de Saúde municipal, estadual. Não, é uma empresa privada, porém, com fins filantrópicos.
O atendimento sim, tem atendimentos gratuitos, tem atendimentos pelo SUS, que posso dizer que ele é gratuito, mas todos nós através de impostos pagamos pelo Sistema Único de Saúde, e tem também atendimentos nas áreas de particular e planos de saúde também. Temos toda essa gama, porém, 95% do atendimento é voltado para o Sistema Único de Saúde.
Para o usuário que está dentro do hospital, ele não tem custo, esse custo corre por conta do SUS e esse custo todos os cidadãos brasileiros através dos impostos custeiam esse Sistema Único de Saúde.
Notícia Max - Qual o custo mensal do hospital? Como são pagas as despesas?
Raphael Santana - Hoje no hospital temos uma despesa mensal aproximada de R$ 3,8 milhões. Hoje o meu contrato com o SUS gira em torno de R$ 2,5 milhões, que na verdade não é nenhuma subvenção, é simplesmente o pagamento de serviços prestados. O restante é complementado através das parcerias que o hospital faz, e as doações que o hospital recebe.
E por que há esse déficit que gira em torno de R$ 1,8 milhão? Na realidade ele existe pela defasagem da tabela do SUS. Você pega como exemplo a tabela do SUS ela não é atualizada há mais ou menos 15 a 18 anos, então você pega indicadores econômicos como inflação, IGPM, vários outros indicadores que aumentam ano a ano, convenção coletiva dos sindicados dos funcionários, esse ano foi aprovado, por exemplo, 12,5% para a indústria farmacêutica de aumento, então tem toda uma gama de custos empresariais que aumentam, mas a renda pelo SUS não aumenta há 15 anos.
Você pega uma consulta médica, o SUS está pagando hoje R$ 10, e você vai hoje em uma rede de planos de saúde credenciada e a consulta gira em torno de R$ 50 a R$ 60, enquanto o SUS paga R$ 10, então quando você vê às vezes médicos que não querem atender pelo SUS, não é por ser SUS, mas sim porque profissionalmente é quase que inviável. E como o Hospital de Câncer consegue fazer isso? O hospital contrata os médicos através de recursos das doações que recebe, e essas doações são para manter bons médicos no hospital.
Notícia Max - Quantos pacientes são atendidos diariamente?
Raphael Santana - A gente tem aqui em torno de 300 pacientes em consultório, porém, se eu for fazer um número de atendimentos entre consultório, quimioterapia, radioterapia, tomografia, exames de um modo geral, posso dizer que gira em torno de 800 a mil pessoas por dia. Eu digo que gira porque há um fluxo muito grande, hoje em torno de 52% do atendimento é de pacientes voltados para o interior do Estado.
A área de oncologia é uma área muito específica, então pessoas de todo Estado buscam o Hospital de Câncer para ter um atendimento completo, porque quando falamos em câncer não é simplesmente fazer uma quimioterapia, uma radioterapia, o câncer não se resume a isso. Ele resume em fazer um excelente diagnóstico de biopsia, uma ressonância magnética, uma tomografia, um acompanhamento com nutricionista, com psicólogo, com fonoaudiólogo, tem toda uma estrutura que exige uma construção de oncologia para que o paciente consiga entrar, ser atendido em toda essa magnitude e sair, se não curado, pelo menos com uma qualidade de vida melhor.
Notícia Max - O hospital atende também pacientes de outros Estados?
Raphael Santana - Sim, pessoas de Rondônia, sul do Pará, temos pacientes de Mato Grosso do Sul, Goiás, tivemos pacientes da Bolívia, são pacientes que vieram principalmente via Cáceres, são pacientes que ultrapassam a fronteira do país, buscam alguma residência aqui em Mato Grosso, e através dessa residência, esse endereço fixo, eles entram dentro do Sistema Único de Saúde e através do sistema do SUS, da regulação, eles chegam até nós. E quando você faz toda essa triagem de pacientes, de onde ele é, dá para entender se há casos de câncer na família, fazer toda essa triagem histórica do paciente, você começa a identificar que na verdade não é um paciente brasileiro, e sim é de fora do nosso país que também busca atendimento conosco.
Notícia Max - O Hospital tem parceiros para garantir o atendimento, qual a importância dessa parceria?
Raphael Santana - Hoje a parceria é o principal combustível do hospital. O simples contato que nós temos com o SUS, devido essa defasagem de valores, esse contrato não nos mantém, não consigo manter o hospital com o simples contrato com o SUS, e esse complemento se dá justamente com as parcerias que nós temos. São empresas, são grupos de empresários, são grupos de pessoas específicas, são pessoas físicas, pessoas anônimas, temos uma gama muito grande de parceiros, e seria injusto citar nomes, porque tenho desde a pessoa que ela vem e doa não só a parte financeira, na realidade ela doa o tempo dela, que chega no hospital, faz a parte do voluntariado, doa até quatro horas por semana em atenção a dar uma palestra, conversar, a acompanhar as vezes o pacientes aqui dentro, então tenho toda essa parceria, que me ajuda muito na administração. Mesmo a financeira, lógico, essencialmente, mas também a não financeira que garante a manter a estrutura humanizada.
Notícia Max - Qual o tamanho do hospital, hoje?
Raphael Santana - Hoje o hospital tem uma área construída de 23 mil m², mas a área do hospital são 6 hectares, então ainda temos um grande espaço que pode ser expandido. E nós temos a intenção de expandir, pois o câncer se tornou hoje a doença do século. E falam que as pessoas estão tendo mais câncer? Se eu disse que sim vou estar passando uma informação que não é verídica. Sim há um grande aumento de câncer, mas em paralelo a isso há um grande número também de pessoas que buscam informação para ver que a doença que ela tem não é uma doença comum, ela é câncer, então tem esse paralelo, um aumento sim no número de casos de câncer, e um aumento no número da informação que chega ao paciente.
Às vezes pegamos pacientes, inclusive de idade mais avançada, de pessoas que forma a óbito, que ficaram doentes, e dizem ‘ah, tive problemas no braço, tive uma febre, um mal estar, ou parente que morreu de mal súbito’, mas se você for pesquisar e realmente avaliar, às vezes a pessoa ela tinha um tipo de câncer, então com a informação com os veículos divulgando, que mostram e fazemos muito essa campanha de prevenção que levam informações aos pacientes, traz pacientes para o hospital para eles buscarem também a confirmação se é câncer ou não no hospital, conseguimos realmente atingir um número maior de pessoas e identificar, buscar se há realmente casos de câncer, e se sim, tratar o mais rápido possível, porque o câncer quanto mais rápido for o diagnóstico, melhor a chance de cura.
Notícia Max - Há previsão de ampliação da unidade?
Raphael Santana - Temos um projeto, e já estamos em expansão, que é a nossa UTI Pediátrica, são dez leitos voltados para a internação de crianças oncológicas, e já está em construção, e provavelmente inauguraremos se não agora no final do ano, no mais tardar no início do próximo ano.
Temos também projetos para cuidados paliativos, que é uma ala destinada ao paciente que tem um diagnóstico “fechado”, que hoje o que existe de modernidade em medicação e tratamento não é mais eficaz para esse paciente, e esse paciente é um ser humano como nós, e é preciso sim ter atenção, qualidade de vida, mesmo que esse tempo de vida seja curto, mas há essa preocupação que ele tenha sim a qualidade de vida até os últimos dias. É o projeto de cuidados paliativos.
E lógico, pretendemos expandir o hospital nos próximos 5 a 10 anos, mas com esses recursos escassos, com a defasagem de pagamento do Sistema Único de Saúde, que vem através dos municípios, Estado e União, fico de mãos atadas em até pensar em investimentos e ampliações diversas. Hoje faço isso através de parceiros, a UTI Pediátrica foi feita através de uma parceria, a ala de cuidados paliativos será através de parceria também. Hoje temos o centro de mama que é custeada 100% através de uma parceria com uma família do interior de Mato Grosso.
O meu centro de mama hoje fazemos em torno de 600 mamografias por mês, biopsia de próstata, ultrasson de mama, tudo isso é feito a custo zero para o usuário, para o paciente, e também para os cofres públicos, porque esse atendimento no centro de mama ele não é cobrado do Sistema Único de Saúde, ele é custeado por uma família do interior do Estado que sensibilizou com essa área, viu que não tínhamos respostas do Poder Público, e falou que iriam assumir, iriam ajudar, e hoje doam mensalmente R$ 90 mil que é o que mantém a equipe médica, equipe multidisciplinar, equipamentos.
Notícia Max O Hospital tem levado atendimento ao interior do Estado, essa campanha terá continuidade? Como é feito esse atendimento?
Raphael Santana - Hoje nós temos uma equipe de 15 pessoas, composta por médicos, assistente social, equipe administrativa, técnico de enfermagem, enfermeiros, que vão até o interior. Temos algumas cidades que fazemos um planejamento anual, esse ano foram 55 cidades atendidas, e esse número vem crescendo.
E como é feita essa campanha? Em algumas cidades do interior eles se sensibilizaram pelo hospital e fazem alguns eventos, alguns leilões, e doam para o hospital. O hospital pega essa receita que vem em doação, e devolve ela para a sociedade em forma de campanha. Temos um ônibus aqui no hospital que também foi doado, inclusive por uma cidade que foi Nova Canaã do Norte, um grupo de agricultores se juntou e doou o ônibus no valor de R$ 300 mil no ano passado, então temos esse ônibus que visita essas cidades.
Fazemos a parte de atendimento médico, voltado para a parte de câncer de próstata, câncer de mama, câncer de colo de útero e câncer de pele. Temos toda essa estrutura voltada para o interior. Os casos que são propícios a ter câncer, fazemos todo diagnóstico e encerramos o atendimento totalmente filantrópico com o paciente quando ele faz o diagnóstico fechado que é confirmado o câncer dele.
Quando confirmado o câncer, aí sim esse paciente entra no Sistema Único de Saúde, porque aí também o custo é muito grande, aí vai entrar a parte de custeio com cirurgia, com medicamentos, radioterapia, aí nesse momento ele entra no SUS, mas a campanha de prevenção é um grande foco, porque conseguimos rastrear esses pacientes, e conseguimos em vários casos diagnosticar o câncer em estágio inicial, e as chances de cura para esses pacientes, que às vezes estão a até mil quilômetros da Capital, e não tem esse atendimento, e conseguimos através da campanha de prevenção ir até esse paciente, diagnosticar e trazer para o hospital, tratar e garantir que tenha qualidade de vida. Esse é o trabalho do hospital com essas campanhas de prevenção.
Notícia Max - É sempre colocado que o câncer, quando diagnosticado precocemente, tem maiores chances de cura, mas o que vemos é a falta de prevenção, principalmente dos homens. Falta conscientização quanto à doença?
Raphael Santana - Além da conscientização, ainda há um grande preconceito. As pessoas hoje tem informação, mas para o homem em específico, há ainda um preconceito, tanto da sociedade como um todo, temos uma sociedade que muitas vezes tem valores e padrão de vida onde as pessoas têm algum receio e preconceito de buscar a parte do câncer de próstata e também que vem também da parte do câncer de mama em homens, e há um aumento do número de câncer de mama em homens, e aí é aquela mesma questão, está aparecendo maior número de câncer de mama em homens ou alguns homens estão realmente procurando se cuidar, estão vendo que podem realmente ter câncer de mama? As duas questões aparecem e os homens estão procurando.
A questão do câncer de próstata que é o que mais mata no sexo masculino é isso, existe informação, mas infelizmente ainda temos muito preconceito da sociedade. E como vencer isso? Através de campanhas de prevenção, divulgação, conversas, trazer essa realidade e mostrar para a sociedade que aquilo não é nenhum bicho de sete cabeças, que não vai ferir a moral e os bons costumes de ninguém, a vida é muito mais importante que às vezes um simples conceito de vida, de valor e moral. Precisamos sim trabalhar juntos, na parte do sexo masculinos, essa questão da busca de cuidados para tratar o câncer de próstata como prioridade na vida dele.
Temos hoje o índice de câncer de próstata a partir dos 40 anos, então a indicação é de que a partir dos 40 anos todos os homens devem sim procurar um oncologista e fazer o teste do toque e ver se há alguma observação do médico ou não, se sim investigar e temos vários casos de homens que tiveram câncer de próstata, buscaram precocemente, estão curados e levam a vida hoje perfeitamente sem nenhum problema, continuam com a qualidade de vida sem problemas maior.
Notícia Max – Hoje há opções ao exame de toque?
Raphael Santana - Sim, existem tanto o exame de toque como também o exame de sangue, que é o PSA, que é um exame hormonal, que verifica o índice de hormônio no sangue e é um dos indicadores. Mas sempre orientamos para que os homens busquem tanto o PSA quanto o exame de toque, porque às vezes um dos dois me consegue mostrar claramente e trazer essa informação precoce do câncer, essa confirmação só com um dos dois. Então lógico, se fizer um é interessante? É interessante, eu posso fazer os dois? Melhor ainda. As chances de ter a certeza de um câncer é muito maior. Se fizer os dois e não deu nada, excelente, não tem o câncer, mas se fizer um e surgir dúvida, melhor fazer o outro para confirmar.
Sempre sugerimos que a pessoa procure um médico, procure um especialista, faça o exame de sangue, faça o exame de toque, que realmente terá a certeza, e se tiver o câncer, buscar o atendimento mais rápido possível, se não tiver, continuar com a vida e periodicamente fazer esses retornos ao médico e não ser pego de surpresa.
Notícia Max O Hospital está com um projeto de construção de casa de apoio. Já teve início essa obra?
Raphael Santana - O terreno já foi demarcado, já foi delimitado, e agora estamos na fase de apuração dos recursos. É uma parceria do Posto Papito, que é um posto de combustível, com a Rede Feminina de Combate ao Câncer, eles se uniram para poder criar essa Casa de Apoio. Os projetos já estão na Vigilância Sanitária, tem um processo a ser seguido, um rito, e sendo aprovado pela Vigilância Sanitária, já temos a área delimitada, e já parte do recurso em caixa. Realmente estamos aguardando apenas a aprovação da Vigilância, do projeto arquitetônico ser aprovado, para começar as obras e atender a população.
A casa terá 10 apartamentos, com 2 leitos cada apartamento, que vai propiciar ao paciente e acompanhante ter um momento de transição. Ele vem até o hospital, às vezes tem que ficar até o outro dia para fazer um novo exame, para retornar ao médico, precisa ficar em jejum por um período, então ter um conforto para esse paciente que vem do interior e não tem onde ficar em Cuiabá.
Notícia Max - E o projeto de construção da ala de pacientes terminais?
Raphael Santana - O projeto já existe, mas tem um custo maior. Esse é um projeto pioneiro em Mato Grosso, seremos o primeiro hospital no Estado a fazer, é um projeto muito bonito porque você dá qualidade de vida à pessoa que ela entende que não tem mais vida. Você busca para essa pessoa novamente a importância da vida dela para ela própria, e isso gera um custo maior, porque o paciente muitas vezes precisa de medicações de altíssimo custo, medicações modernas, que o SUS não consegue ainda contemplar de uma maneira mais integral.
Esse é um projeto que tem duas partes. Primeiro a construção, que hoje está girando em torno de R$ 1,5 milhão. A segunda fase é a manutenção, que é um formato grande, porque implantar e ficar construído bonito, ok, mas e depois disso? Vou ter vidas ali dentro, vou ter pessoas acompanhando os familiares, preciso manter esse projeto também.
Hoje tenho parceiros para a construção, posteriormente a isso preciso ter parceiros, mesmo que sejam parceiros públicos, Governo do Estado, Prefeituras, ou mesmo a União, para que consigamos manter esse espaço para cuidados paliativos.
É uma realidade, vai acontecer, só que estamos ainda nessa primeira fase do projeto que é a implantação. A segunda fase que é manutenção ainda infelizmente não temos parceiros para isso ainda, mas confiamos muito no cidadão mato-grossense, sabemos que caso o Poder Público não assuma isso temos pessoas que vão assumir, e vamos conseguir fazer um bom atendimento aos nossos coirmãos que precisam nesse momento de mais ajuda que outras vezes.
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