Convocada para a seleção brasileira que disputa o mundial de futebol de rua na Noruega, a carioca Keila de Sales Pinheiro, 21 anos, garante que “timidez não atrapalha o futebol, só para falar mesmo”. Ela é uma das duas mulheres, além de seis homens, que tentam o tetra na Homeless World Cup, que começa hoje (23) na Noruega.
Keila joga de volante e no meio de campo e foi destaque na Taça das Favelas com o time Corte 8, de Duque de Caxias (RJ), campeão de 2023. “Chorei muito com a convocação para a seleção, minha avó ficou bem feliz, emocionada. Ela me apoia muito”, conta a jogadora que mora com a avó no Jardim América, zona norte do Rio de Janeiro.
Ela começou a jogar bola aos dez anos de idade, em ruas e quadras. Fez peneiras, como no Flamengo, onde ficou pouco; jogou seis anos no projeto Garotas Amam Futebol e, desde o ano passado, treina no Acell Futebol Clube, em Anchieta.
Keila ajuda a avó, leva crianças na escola e frequenta a igreja
A jogadora descreve o Jardim América, onde vive com a avó, como “um lugar pobre, comunidade. Faz pouco tempo que tem asfalto”. Ela gosta de morar lá, mas mudaria, se pudesse. “Não sei para onde, talvez região dos Lagos, Barra. Levaria minha avó junto, se ela quisesse, e convidaria minha família”, resume.
O dia de Keila começa cedo, levando cinco crianças para a escola, entre primos e vizinhos. Volta para casa a ajuda a avó. “Limpo casa e cozinha, faço tudo”. De tarde, pega um ônibus para treinar, volta para casa e, à noite, vai para a igreja Assembleia de Deus, que frequenta desde criança. “Faço tudo na igreja.”
Por causa da convocação, a jogadora saiu pela primeira vez do estado do Rio de Janeiro, vindo para São Roque, interior paulista, onde se juntou à seleção. Hoje estreia na Noruega, na Homeless World Cup. “Vi a última final na Coreia, achei o time que venceu mais ou menos. Acho que podemos ser melhores.”
Jogadora ajuda a lavar a louça
Keila concluiu o ensino médio em escola pública e batalha por um futuro no futebol. Prefere alguma equipe, talvez carioca? “Não sei, qualquer time que aparecer oportunidade, vou agarrar com força”, como agarrou a convocação para o mundial de rua. “Eu acho que sou bem técnica, vou bem na armação, cabeçada e marcação”, descreve.
O técnico Pupo Fernandes destaca o futebol e o comportamento de Keila na concentração em São Roque. “Ela tem muito boa qualidade tática e técnica, aprimorou bastante as regras do futebol social. É muito atenciosa, prestativa, enxuga a louça ajudando a tia da cozinha depois da alimentação”, observa o técnico.
A preparadora física Patrícia Verdetti observou que Keila “é uma jogadora excepcional, é evangélica, muito dedicada, tem um chute bom”. A carioca se mostra nas ações e declarações, apesar de falar pouco. A religiosidade é uma marca, e no encerramento da entrevista, o repórter deseja boa sorte. Ela responde “igualmente, fica com Deus”.
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