Dar vida nova a um clube dizimado por um acidente aéreo não é o tipo de missão para a qual um profissional se prepara. A tragédia com o voo da LaMia, que completa um ano neste mês de novembro, exigiu da Chapecoense um difícil processo de reconstrução. Um dos escolhidos para liderar o renascimento da equipe, que perdeu atletas e comissão técnica com a queda do avião na Colômbia, foi o diretor executivo Rui Costa. Apesar do orgulho pelas conquistas nesse período de 12 meses, a dor do desastre permanece viva em Chapecó, assim como a vontade de devolver o time a um cenário de protagonismo. "É a melhor homenagem que poderemos fazer", diz o dirigente.
O voo que levaria a delegação da Chapecoense, jornalistas e tripulantes para Medellín, na Colômbia, caiu na madrugada do dia 29 de novembro. Dez dias depois, Rui Costa foi contratado para substituir Mauro Stumpf, uma das vítimas do acidente. Um ano como diretor executivo permitiu a ele viver os dois lados da maior tragédia da história do futebol: a dor e o orgulho.
“Substituir alguém que faleceu de forma tão terrível é uma obrigação maior. Evidentemente que todos nós tínhamos uma satisfação grande pela honraria, mas também um constrangimento de saber que só estávamos ali porque substituíamos alguém que perdeu a vida”, comenta Rui Costa sobre o desafio de assumir a direção do clube após o desastre aéreo.
O momento era de tristeza absoluta, mas a missão de reconstruir o departamento de futebol estava posta e não podia ser postergada. No dia 6 de janeiro, o clube já contava com um elenco formado e apresentou os novos jogadores.
“O momento que me deu mais força foi o da apresentação do time, dia 6 de janeiro - nunca me esqueço a data. Foi um dia de muita emoção. Um rapaz saiu do meio do público e falou que queria me dar um abraço. Quando me abraçou, ele disse que era filho do Maurinho (Mauro Stumpf, ex-diretor executivo)”, lembra Rui. “Ele me disse de uma forma muito emocionante: ‘Meu pai gostava muito de você, tenho certeza que você é o cara para estar no lugar dele’. Jamais vou esquecer esse momento. Ouvir aquilo de uma pessoa que teve a generosidade de me dar uma força em um momento de tristeza foi muito importante”.
A partir desse episódio de demonstração de confiança, o trabalho de Rui fluiu na Chapecoense. O diretor lembra dos desafios que aceitou enfrentar ao assumir uma equipe em reconstrução e o sucesso obtido nessa empreitada.
“Tínhamos que fazer várias coisas ao mesmo tempo: reestruturar o clube, nos inserir no processo de uma maneira muito sutil, com muita responsabilidade, não podíamos chegar derrubando tudo e achando que tinha que fazer tudo do nosso jeito. Tínhamos que ter muito clara a noção de pertencimento a Chapecó”, conta.
O diretor executivo não esconde que o processo foi intenso. Hoje, ele pode declarar, com alívio e felicidade, que todas as metas propostas para a Chape no começo do ano foram cumpridas. A equipe foi campeã estadual apenas quatro meses depois do acidente, conseguiu a classificação para as oitavas de final da Libertadores – acabou eliminada por conta da escalação irregular de um atleta – e demonstrou força ao assegurar o grande objetivo da temporada: a permanência na Série A.
Um dos grandes trunfos da gestão foi juntar um grupo de jogadores comprometido. Quem afirma isso é o próprio dirigente. O elenco da Chapecoense, remontado completamente após a tragédia, deu à torcida motivos de sobra para comemorar na temporada.
“A primeira conquista foi colocar o clube de novo em um cenário de normalidade, com time montado, títulos conquistados e performance de alto nível”, explica. “Mesmo nos piores momentos, sempre tivemos a convicção de que terminaríamos o ano com uma história muito bonita, como de fato terminamos”.
Sem nunca se esquecer das vítimas, a atual direção da Chape valoriza muito a trajetória da equipe campeã da Sul-Americana em 2016. O intuito dos responsáveis pelo futebol do clube é manter vivo o legado vitorioso deixado pelos antigos funcionários.
“A melhor homenagem que nós poderíamos e poderemos fazer é deixar a Chapecoense em um cenário de protagonismo que eles colocaram. Então era importante conquistar títulos e mostrar para o mundo que a Chapecoense teve força para se reerguer, com a torcida junto e a comunidade participando”, explica o executivo. “Não viemos fazer algo novo, viemos recontar uma história, mesmo que com outros personagens”.
Depois de um ano vivendo com a dor de um acidente aéreo que matou 71 pessoas e feriu tantas outras em Chapecó, o clube pode sorrir novamente, mesmo que de maneira discreta. Como Rui Costa diz, a tragédia jamais será esquecida. Ela faz parte da vida de todos, desde os familiares das vítimas até aqueles escolhidos para trabalhar na reconstrução do clube.
“Não há como dizer que foi superado, porque jamais será”, diz. “Acho que tudo que nós fizemos esse ano já deve orgulhar a todos de Chapecó, e tenho certeza de que recoloca o clube no seu lugar”.
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