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INTERNACIONAL Quarta-feira, 08 de Maio de 2024, 07:51 - A | A

Quarta-feira, 08 de Maio de 2024, 07h:51 - A | A

guerra com o hamas

Medo e comoção em Rafah: 'as pessoas desconfiam de Israel, não há lugar seguro', diz palestino

Após impasse nas negociações de cessar-fogo, forças israelenses tomaram controle do posto fronteiriço da cidade, que separa Gaza e Egito, impedindo a entrada de ajuda humanitária

El País

Uma mensagem assustadora chegou na manhã de segunda-feira ao telefone de Mustapha Ibrahim, 62 anos, palestino do norte de Gaza, refugiado desde os primeiros dias da guerra no sul do enclave. Era uma ordem de retirada. Em árabe, o autor da chamada pedia aos moradores de vários bairros de Rafah, agora considerada uma zona de combate, que se deslocassem para o norte, em direção a Khan Younis. Mas a mensagem também chegou aos celulares de quem mora nas proximidades da área afetada, como Ibrahim. Segundo ele, as pessoas vivem em "choque" e com "medo" enquanto decidem para onde e como sair, porque "é difícil tomar a decisão de sair ou não devido às mentiras de Israel".

 Após o impasse nas negociações para se chegar a um cessar-fogo e o ataque do Hamas que matou quatro soldados israelenses no domingo, o Estado judeu anunciou no início da segunda-feira que estava lançando uma operação em Rafah, a última parte remanescente da Faixa de Gaza a ser invadida. Nesse meio tempo, o exército continuou a bombardear a região pelo ar. Durante a noite de segunda para terça-feira, fez isso com ataques "limitados", enquanto as partes em conflito tentavam evitar que a porta da trégua se fechasse completamente.

 Na tarde de segunda-feira, em uma nova montanha-russa de expectativas, o Hamas aceitou a proposta de trégua apresentada pelo Catar e pelo Egito. E o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, embora acredite que eles estão "muito distantes" de alcançar um acordo, anunciou durante a noite do mesmo dia que estava enviando uma delegação ao Cairo após uma reunião do gabinete de guerra. Ao mesmo tempo, assegurou que manteria seu plano em Rafah para pressionar o grupo terrorista a entregar os prisioneiros.

— Para mim, seria uma surpresa absolutamente incrível se [a operação em] Rafah fracassasse — afirma Jesús Núnez Villaverde, codiretor do Instituto de Estudos sobre Conflitos e Ação Humanitária (IECAH).

Desculpas israelenses
Villaverde acredita que, nos sete meses de guerra, Netanyahu conseguiu administrar as pressões dentro de seu governo, com os militares e com os EUA, e "dia após dia vem esmagando" Gaza. Isso não diminui o fato de que ele acabará liquidando Rafah com "ataques limitados" em vez de uma invasão terrestre clássica, afirma. De qualquer forma, ele vê as supostas restrições que os EUA estariam impondo a Israel como uma "farsa" e o que realmente conta são os US$ 25,5 bilhões (quase R$ 130 bilhões) em apoio aprovados em abril pelo presidente Joe Biden.

Apesar da falta de um acordo oficial, houve algumas cenas de júbilo na Faixa de Gaza e as famílias dos israelenses sequestrados saudaram a medida tomada pelo Hamas de anunciar sua aprovação do plano, dizendo que “agora é a hora de todos os envolvidos cumprirem seu compromisso e transformarem essa oportunidade em um acordo para o retorno de todos os reféns”.

— Parto da ideia de que Israel não está interessado na trégua e que a todo momento buscará qualquer desculpa que precisar para dizer que não pode aceitar as condições do Hamas — analisa Villaverde.

 A iniciativa defendida pelo Hamas prevê, em três fases (de 40, 42 e 42 dias, respectivamente) ao longo de quatro meses, a libertação escalonada dos reféns, a retirada das tropas israelenses dos centros populacionais de Gaza, o retorno das pessoas deslocadas aos seus locais de origem e o início da reconstrução da Faixa, de acordo com detalhes fornecidos na última quarta-feira pelo diário libanês al Akhbar.

Israel está sozinho em sua decisão de lançar suas tropas em Rafah em meio a críticas generalizadas da comunidade internacional. Mas há um certo clima de impunidade que alguns criticam. Franc Cortada, diretor da ONG Oxfam Intermón, denunciou em um comunicado em reação à operação anunciada para Rafah que, “com seus fundos multimilionários e apoio direto de armas, as nações mais poderosas deram a Israel carta branca de fato para cometer crimes de guerra”.

'Cúmplice de um genocídio'
As agências de ajuda humanitária em Gaza têm menos de um dia de combustível para os caminhões e navios que entregam alimentos vitais, medicamentos, água e diesel para milhões de pessoas em todo o território, ameaçando uma paralisação quase completa das operações, incluindo padarias e hospitais, alertaram as autoridades nesta terça-feira.

 Todos os principais pontos de entrada para o sul de Gaza estão fechados e houve um saque generalizado dos estoques existentes em Rafah, depois que as agências de ajuda humanitária foram forçadas a deixar os armazéns desprotegidos após os avisos de retirada das forças de Israel antes de tomarem o controle do posto fronteiriço da cidade, que separa a Faixa de Gaza e o Egito, na manhã desta terça-feira.

 Foi a primeira vez que o Exército de Israel entrou nessa parte de Gaza desde o início da guerra, há sete meses. Funcionários palestinos disseram que todo o fluxo de ajuda do Egito para Gaza parou depois da tomada de controle da passagem de Rafah, com a ONU alertando que a crise humanitária no território pode piorar, já que Israel já havia fechado a passagem de Kerem Shalom após a morte de quatro soldados em um ataque no domingo — as duas são as principais rotas para entrada de suprimentos em Gaza.

— Espero que haja uma intervenção urgente para acabar com esse massacre e essa guerra — suspira cansado Mustapha Ibrahim, que acredita que somente os Estados Unidos têm a influência necessária sobre Israel e "quem não impedir isso será cúmplice de um genocídio". — [Enquanto isso] o que temos de fazer é tentar sobreviver, embora seja difícil.

Para muitos, isso significa carregar seus veículos — quando os têm e possuem combustível — com os itens essenciais e deixar Rafah. Lá, ao longo da fronteira com o Egito, vivem cerca de 1,5 milhão de pessoas deslocadas de outras partes de Gaza, que tem uma população total de 2,3 milhões.

Estado de incerteza
A Faixa de Gaza está prestes a entrar em seu oitavo mês de combates, que começaram em 7 de outubro, quando o Hamas matou cerca de 1,2 mil pessoas e sequestrou cerca de 250, de acordo com os números oficiais. A resposta militar israelense já causou mais de 34,7 mil mortes em Gaza.

Em meio a uma enorme crise humanitária, principalmente devido ao bloqueio israelense à ajuda, Mustapha Ibrahim não reclama da falta de água, eletricidade ou alimentos. No momento, sob a atual ameaça de retirada e invasão, há uma coisa da qual sente falta acima de tudo:

 — Segurança — ele responde sem rodeios.

Ele e sua esposa, de 59 anos, estão morando com seus irmãos desde que deixaram sua casa no bairro de Rimal, na Cidade de Gaza, em meados de outubro. Foi lá que seu carro foi bombardeado. Juntos, eles passaram a tarde de segunda-feira tentando descobrir o que vão fazer após o último aviso de Israel. Devem sair imediatamente ou esperar alguns dias? O bairro onde moram fica próximo à área que o exército israelense ordenou que fosse esvaziada. Eles poderiam, por enquanto, ficar, mas não confiam nisso e, como o restante dos vizinhos, estão novamente em um estado de incerteza.

— A população está revivendo a mesma experiência que teve em outras cidades. Gaza, Jabalia e Khan Yunis. As pessoas ouvem os sons dos bombardeios, desconfiam de Israel, que só pede deslocamento. Não há lugar seguro. Não houve segurança em nenhum momento em Rafah, sob bombardeio aéreo. E agora, com a ameaça de invasão terrestre, isso é mais perigoso — descreve o analista político e membro da diretoria da ONG palestina de direitos humanos Addameer.

Ao responder às perguntas do El País por meio de mensagens, Mustapha Ibrahim anexou imagens tiradas com seu celular das nuvens de fumaça do bombardeio israelense contra a cidade. Ele calcula que esses ataques estão ocorrendo a um quilômetro da casa em que vive com sua família. Em frente, uma esplanada com dezenas de tendas abrigando pessoas deslocadas de outras partes da Faixa.

 

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