Outubro é marcado pela celebração do Dia do Médico (18/10), uma data que vai além da homenagem: ela inspira uma reflexão sobre os caminhos que a medicina tem trilhado, especialmente diante das transformações tecnológicas que moldam o presente e o futuro da profissão.
A pandemia de Covid foi um divisor de águas. O que antes era visto com desconfiança ou como tendência distante, tornou-se realidade urgente. A telemedicina, por exemplo, existe no Brasil desde 2006 com o Programa Telessaúde Brasil Redes, mas foi apenas com a aprovação da Lei nº 13.989/2020, em meio ao estado de calamidade pública, que sua prática foi regulamentada e amplamente adotada.
Desde 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) já realizou mais de 4,6 milhões de teleatendimentos, com resolutividade superior a 90%. A telemedicina rompeu barreiras geográficas, democratizou o acesso à saúde e mostrou que o desconhecido pode ser libertador.
Inteligência Artificial: o novo capítulo da medicina
Se a telemedicina foi o primeiro passo, a inteligência artificial (IA) é o salto. Hoje, algoritmos auxiliam médicos na análise de exames, na predição de riscos, na personalização de tratamentos e até na realização de cirurgias robóticas. A IA também está presente na gestão hospitalar, no desenvolvimento de medicamentos e no monitoramento remoto de pacientes.
O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), lançado em 2024, prevê R$ 23 bilhões em investimentos até 2028, com foco em saúde pública. Entre as ações estão o “Prontuário Falado”, o uso de IA para decisões de compras de medicamentos e o suporte à judicialização da saúde.
Na Universidade Santo Amaro (Unisa), onde atuo como diretor do curso de Medicina, a IA já é realidade. Os alunos têm acesso a um Centro de Simulação Realística, laboratório de anatomia 3D e práticas com robôs de alta tecnologia. A IA é usada para personalizar trilhas de aprendizagem, simular atendimentos clínicos e desenvolver habilidades de tomada de decisão em ambientes controlados.
Receios, ética e formação médica
Como toda inovação, a IA desperta receios. Muitos profissionais temem que a tecnologia substitua o olhar humano. Mas a verdade é que ela amplia nossa capacidade de cuidar. O desafio está em garantir que seu uso seja ético, seguro e transparente. Normativas da OMS, OPAS e do Ministério da Saúde já orientam o uso responsável da IA na saúde.
A formação médica precisa acompanhar essa revolução. Cursos como “IA na prática docente” e “IA generativa na educação”, oferecidos pelo Ministério da Educação, capacitam professores para aplicar essas ferramentas com responsabilidade e inclusão.
Estudos mostram que o uso de realidade virtual e IA pode melhorar em até 230% a performance de estudantes de Medicina. E pesquisas científicas brasileiras apontam que a IA já impacta positivamente áreas como oncologia, radiologia e epidemiologia.
O médico do futuro é humano e digital
Neste Dia do Médico, celebramos não apenas os profissionais que salvam vidas, mas também aqueles que se reinventam. A história nos mostra que o desconhecido pode ser libertador. A telemedicina e a inteligência artificial são provas disso.
O médico do futuro será aquele que souber integrar ciência, tecnologia e humanidade. E esse futuro já começou — nas salas de aula, nos hospitais, nas pesquisas e, principalmente, na relação com cada paciente.
*Henrique Mantoan é cirurgião oncológico e diretor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa), uma das instituições mais tradicionais do país na formação de profissionais da saúde. Graduado em Medicina pela Universidade de Taubaté, possui residência em Cirurgia Geral pelo Hospital Regional do Vale do Paraíba e especialização em Oncologia Cirúrgica pelo A.C. Camargo C âncer Center, onde também concluiu o mestrado em Oncologia.
Com uma trajetória de mais de uma década como médico titular do Departamento de Ginecologia Oncológica do A.C. Camargo, Mantoan foi responsável pela formação de residentes e pela condução de práticas clínicas de alta complexidade. Atualmente, além de liderar o curso de Medicina da Unisa, integra a Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) e mantém atuação clínica como cirurgião oncológico em São Paulo.
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