A pergunta que eu mais tenho recebido ultimamente, seja de agentes políticos ou de conhecidos que encontro no supermercado, é se as obras do BRT serão finalizadas ou se vai ocorrer a substituição por um novo modal. Uma dúvida frequente e legítima, que mostra que é preciso esclarecer com transparência o que é a infraestrutura que o Governo do Estado está executando em Cuiabá e Várzea Grande.
Este é um momento de transformação estrutural necessária para a mobilidade urbana da nossa capital. Um processo que exige planejamento, paciência e decisões técnicas bem fundamentadas, pensando no presente, mas também no futuro do transporte público, conforme foi determinado pela gestão Mauro Mendes - Otaviano Pivetta.
O que o Estado está construindo não é apenas um corredor para um tipo específico de veículo. Estamos implantando infraestrutura de trânsito rápido, capaz de receber qualquer tecnologia que se mova sobre pneus - sejam ônibus convencionais, ônibus elétricos do BRT, veículos guiados eletronicamente ou que utilizam sensores e ímãs na condução. Se ele rodar sobre pneus, pode operar sobre a plataforma que estamos construindo.
Essa decisão não é arbitrária e se apoia em conceitos de mobilidade consolidados no mundo inteiro. Você só consegue implantar um transporte público de alta velocidade e com regularidade nas viagens se ele puder transitar em vias sem interferências laterais. Por isso, os corredores estão sendo construídos no canteiro central.
Nas pistas laterais existem as entradas e saídas de comércios e residências, acessos de ruas. Basta observar diariamente o que ocorre quando um veículo vai acessar um supermercado, ou um prédio residencial, ou tentar estacionar nas vagas públicas da Avenida do CPA. Isso atrapalha a operação dos ônibus, reduzindo sua velocidade e fazendo o transporte público perder eficiência. O corredor de transporte não pode ter obstáculos.
Não adianta trazer qualquer veículo e colocá-lo para rodar em qualquer avenida se não houver uma infraestrutura adequada. A Fernando Corrêa, por exemplo, tem apenas duas faixas em boa parte de sua extensão.
Se você definir que uma delas será exclusiva para o transporte público, restará apenas uma faixa para os demais automóveis. E o próprio veículo de transporte sofrerá interferência de conversões, retornos e rotatórias. Não é preciso ser um especialista para entender que isso não funcionaria.
O mesmo serve para outras avenidas que poderão futuramente receber a implantação dos corredores de transporte rápido, como Avenida das Torres e Avenida dos Trabalhadores. A infraestrutura não é um detalhe, ela é condição para o transporte funcionar.
Nenhum modal funciona sem infraestrutura adequada. Curitiba é frequentemente citada como referência, especialmente quando se fala em tecnologias guiadas por sensores e ímãs. Mas Curitiba só consegue testar soluções inovadoras porque já possui há décadas a base pronta: canaletas centrais, pavimento reforçado, estações, geometria viária ajustada e sistema integrado. Sem essa infraestrutura, nenhum modal – seja tradicional ou futurista – operaria com eficiência.
Estamos fazendo agora, em Cuiabá e Várzea Grande, o que outras cidades fizeram no passado: preparando o terreno para que qualquer solução tecnológica possa ser adotada, hoje ou daqui a dez anos. Isso inclui pavimento dimensionado para cargas maiores, estações com acessibilidade, áreas de ultrapassagem, rede de drenagem compatível, correção de trechos críticos e melhoria do paisagismo com a implantação do Parque Linear da Avenida do CPA.
A infraestrutura não engessa escolhas futuras, ela amplia as possibilidades. Se daqui alguns anos surgir um novo modal sobre pneus ainda mais moderno, mais eficiente ou com melhor relação custo-benefício, ele poderá operar sobre a estrutura que estamos construindo. A mobilidade urbana evolui, e a infraestrutura que estamos implantando foi pensada para acompanhar essa evolução.
Nosso compromisso é entregar uma cidade preparada para o futuro – com transporte público rápido, com menos interferências, com conforto para os usuários e com capacidade de se adaptar às novas tecnologias que surgirem, independentemente da sigla que ela receba. É por isso que seguimos trabalhando, com responsabilidade e com base em critérios técnicos, para garantir que Cuiabá e Várzea Grande avancem de forma sólida em sua mobilidade.
A infraestrutura vem primeiro. Sem a base correta, nenhum veículo – seja elétrico, autônomo, articulado, guiado por sensores ou operado manualmente – alcança a eficiência que a população merece.
Marcelo de Oliveira e Silva é cuiabano e arquiteto. Atualmente é secretário de Estado de Infraestrutura e Logística
CLIQUE AQUI e faça parte do nosso grupo para receber as últimas do Noticia Max.







0 Comentários