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POLÍTICA & PODER Terça-feira, 13 de Novembro de 2018, 09:10 - A | A

Terça-feira, 13 de Novembro de 2018, 09h:10 - A | A

ENTREVISTA DA SEMANA

Emanuelzinho: “O importante é que a bancada se alinhe com o governador para que MT possa andar para frente”

Redação

Jean Crizan

 

O deputado federal eleito Emanuel Pinheiro da Silva Primo, o Emanuelzinho (PTB), esteve em visita ao jornal e site Notícia Max, quando falou sobre a campanha eleitoral, frisando que percorreu 60 municípios conhecendo a realidade de cada região, obtendo votos em 140 das 141 cidades mato-grossenses. O petebista fala ainda sobre o apoio ao futuro presidente Jair Bolsonaro (PSL), que pretende auxiliar em que for possível o futuro governador Mauro Mendes (DEM), além de projetos polêmicos que serão debatidos no Congresso Nacional, como a Reforma da Previdência, redução da maioridade penal e revisão da Lei Kandir.

 

Notícia Max - O senhor entrou para a história como o parlamentar mais jovem de Mato Grosso a ocupar uma cadeira em Brasília. Vai pesar, talvez, uma falta de experiência?

 

Emanuelzinho – Pelo contrário, me preparei muito para estar aqui. Fui presidente da juventude do PMDB, comecei meu projeto político capacitando a população da Baixada Cuiabana num cenário de crise econômica. Mato Grosso naquela época tinha quase 180 mil desempregados, o Brasil quase 14 milhões, e eu fui a campo, proporcionando cursos gratuitos de dicção e oratória de gestão pública municipal para que as pessoas pudessem entrar no mercado de trabalho. Foi o nosso primeiro contato com o movimento de trabalho comunitário.

 

O segundo ponto porque a partir do momento em que pensei entrar para a vida pública imediatamente me matriculei na Faculdade de Gestão Pública e Ensino Político para me preparar teoricamente, juridicamente e politicamente para chegar onde estamos hoje, e também associado ao fato de que fui servidor público por dois anos, fui assessor parlamentar, então acho que a experiência de pré-requisito que eu precisava para ser deputado federal, eu obtive, e o que faltava era a aprovação popular que graças a Deus também obtivemos.

 

Notícia Max - Muitos apontam que a eleição do senhor se deve principalmente ao prefeito Emanuel Pinheiro, porém, o senhor já disse que pretende ter sua própria história, ser independente.

 

Emanuelzinho – Eu agradeço profundamente porque o prefeito Emanuel Pinheiro, como tem 30 anos de vida pública, e nestes 30 anos de vida pública prestou muito serviço ao Estado, prestou muito serviço para Cuiabá, as pessoas reconheceram isso também enxergando a minha política de vocação. Mas também tive que ir a campo, tive que correr atrás, visitamos quase 60 municípios durante a campanha eleitoral, inclusive toda de carro para conhecer a realidades das BRs e MTs. Busquei construir minha própria identidade, minha própria história, e graças a Deus obtivemos quase 80 mil votos de confiança das pessoas em 140 municípios.

 

Notícia Max – O que o deputado espera do futuro governador Mauro Mendes? Pois é notório que o futuro gestor vai necessitar de um alinhamento da bancada federal com o Governo do Estado. Como o deputado pretende construir isso junto com Mauro Mendes?

 

Emanuelzinho – Logo no dia seguinte do pós-eleição liguei para o governador Mauro Mendes parabenizando pela vitória merecida, 60% da população aprovou a candidatura dele, e me coloquei à disposição para tudo que ele for fazer, que for melhorar a vida das pessoas, ele pode contar comigo. 

 

Tenho afirmado isso aos parlamentares, tanto os estaduais como federais que tenho encontrado, que o importante nesse momento é a unidade, toda tranqüilidade que possamos dar ao governador em um cenário difícil, fiscal, financeiro, e na bancada federal auxiliando com os recursos que vêm de Brasília, para que possamos dar as condições de investimento, as condições de trabalho para o governador. Se ele fizer um grande mandato, quem ganha com isso é Mato Grosso, e deixando de lado qualquer birra política, deixando de lado qualquer sentimento egocêntrico de valorização pessoal, o importante é que a bancada como um todo, a estadual e a federal, se alinhe com o governador para que Mato Grosso possa andar para frente. Nas eleições aí se constrói os grupos políticos, mas agora o importante é pensar Mato Grosso em primeiro lugar.

 

Notícia Max - O senhor declarou apoio a Jair Bolsonaro, o que esperar desse novo presidente para Mato Grosso?

 

Emanuelzinho – Há uma certa insegurança quanto ao Jair Bolsonaro na população, há um conflito entre desconfiança e esperança. Acho que tínhamos que dar uma oportunidade para  um novo presidente, uma nova forma de pensamento para o país. O PTB que é o nosso partido já se colocou à disposição do presidente para ajudar na base de sustentação, mas eu particularmente quero e acho que é importante que se faça um apoio crítico, devido a algumas declarações que alguns membros da equipe do alto escalão do Bolsonaro fizeram, para que possamos garantir a preservação dos direitos e liberdades democráticas, mas torcendo e querendo ajudar Bolsonaro para que ele faça um grande mandato e isso naturalmente reflita na qualidade de vida da população brasileira.

 

Notícia Max - Como vê a proposta de reforma da previdência?

 

Emanuelzinho – Esse é um tema prioritário hoje. É importante explicar para que a população entenda que na minha visão a reforma da previdência é necessária, mas foi muito mal conduzida pelo presidente Michel Temer. 

 

Hoje o orçamento do governo federal está em R$ 3,5 trilhões, e desses R$ 3,5 trilhões, R$ 2 trilhões são de despesas financeiras, que é rolagem da dívida e juro pra banco em função da dívida pública, e os R$ 1,5 trilhão que sobram R$ 600 bi a R$ 700 bilhões são para a previdência, ou seja, 48% de toda receita líquida do governo federal vai para a previdência. E nesse bolo da previdência se tem aí políticos, juízes, Ministério Público, inúmeros servidores públicos aposentados com altos salários, e tem aí também inúmeras fraudes, que acompanham o bolo da previdência, que tem também que ser avaliado.

Associado a isso, temos que avaliar como funciona o sistema da previdência do país. Hoje é um regime de partição. As pessoas pensam que contribuem para um fundo público particular e quando envelhecer retira. Mas não. 

 

A população economicamente ativa trabalha, e quem hoje está aposentado recebe. E a demanda de quem hoje está aposentado quem estiver trabalhando lá na parte de baixo da pirâmide vai sustentar nossa aposentadoria.

 

Acontece que há 40 ou 50 anos atrás a população brasileira tinha uma taxa de natalidade muito maior, naquela época, por exemplo, meu pai tem quatro irmãos e minha mãe tem três. Eles dois são em nove filhos. E lá em casa somos só dois, ou seja, a taxa de natalidade encolheu.

 

Ao mesmo tempo, a expectativa de vida aumentou. Naquela época a expectativa de vida era de 62 a 65 anos, e hoje está em média de 72 a 75 anos, ou seja, cresceu uma média de 10 anos. Ou seja, naquela época se tinha seis pessoas trabalhando para uma receber aposentadoria e hoje se tem em média 1,5 trabalhando para que uma receba.

 

Se não quebrou ainda, em breve, se seguir esse ritmo da taxa de crescimento, da taxa de variação da população economicamente ativa isso vai uma hora quebrar. Acontece que não podemos mexer nos privilégios das pessoas que já têm aposentadoria, os servidores públicos em especial, porque a lei não retroage para fim de direito adquirido, ou seja, não se pode mexer nessa aposentadoria milionárias que estão aí, e sim mexer só daqui pra frente.

 

Então tem que ser feita uma reforma da previdência para que o Governo Federal tenha condições de pagar, mas olhando especialmente a diferença e as dificuldades regionais e de cada categoria. Por exemplo, o nordestino, uma professora nordestina, que trabalha até quatro quilômetros da sua residência, e tem que ir muitas vezes a pé no sol quente, ou então um homem que trabalha no campo, tomando sol o dia inteiro, naturalmente a expectativa de vida deles, a qualidade de vida diminui, e se em comparação comigo, por exemplo, que vou ser deputado, que vou trabalhar o dia inteiro no ar condicionado de terno e gravata, ou seja, o modo de cobrança e o modo de avaliação de cada categoria, de cada região do país, tem que ser diferenciado de acordo com o princípio da isonomia, tratar os desiguais de forma desigual e os iguais de forma igual, porque por fim, se promova a igualdade especialmente nas contribuições previdenciárias entre as categorias.

 

Tudo isso tem que ser observado porque a reforma da previdência é necessária, mas tem que ser feita de uma forma justa e em diálogo com a população.

 

Notícia Max – Esse assunto é amplo, e demanda um certo tempo. O senhor pretende estar trabalhando nessa frente da reforma da previdência?

 

Emanuelzinho – Sim, e por isso sou contra que se vote agora no final do ano. Porque tem que ser dialogado e avaliado, não se pode querer empurrar goela abaixo, porque passado um tempo vai encontrar uma série de erros e vai ter que fazer a reforma novamente. É importante que se tenha um diálogo com a população, que as categorias, principalmente que a princípio nessa reforma da previdência vão ser prejudicadas, que se chame elas para o diálogo e se veja e se cobre cada um na proporção da sua capacidade de sacrificar. O Ministério Público é um, dos professores é outro, da dona de casa é outro, cada classe, cada categoria, tem uma certa gordura para queimar.

 

Então se faz necessário tratar cada um de acordo com essas diferenças, especialmente chamando para o diálogo e deixando um debate amplo e aberto para que a sociedade possa acompanhar de perto e participar.

 

Notícia Max – Uma revisão da Lei Kandir é sempre debatida, defendida por muitos. Qual o seu posicionamento a esse respeito?

 

Emanuelzinho – Eu acho que tem que taxar, mas tendo um ponto de equilíbrio. Quando a Lei Kandir foi criada em 1996, isentando a cobrança do ICMS para exportação de produtos primários semi-elaborados, a realidade em Mato Grosso era outra. Por exemplo, naquela época a quantidade de produção de milho era de 2 milhões de toneladas ao ano, hoje, 20 anos depois, é de 20 milhões de toneladas/ano. Naquela época a produção de soja era de 6 milhões de toneladas/ano, e hoje já está em 30 milhões de toneladas/ano.

 

Isso mostra que a Lei Kandir atraiu o setor do agronegócio para Mato Grosso, que viu um campo propício para se investir e ganhar dinheiro produzindo. Acontece que de lá para cá o agronegócio cresceu muito e as contas de Mato Grosso encolheram. Para se ter uma idéia, o déficit fiscal, que é quanto o governo gasta mais que arrecada, está em R$ 4 bilhões. O que os especialistas afirmam que Mato Grosso perde com a Lei Kandir, está em R$ 5 bilhões, o que daria para cobrir tudo.

Mas não podemos fazer um debate leviano, que vai taxar cem por cento do agronegócio, porque aí promove a fuga de capital, as empresas vão se instalar em outro Estado, deixa de gerar emprego, gera o desemprego e ainda se deixa de arrecadar em nosso Estado. 

 

Então tem que se achar um ponto de equilíbrio para que se possa taxar e também regulamentar o FEX, que é o Fundo de Auxílio à Exportação que a União compensa o valor perdido pelo Governo Estadual com o repasse federal para que isso seja regulamentado na medida em que saibamos o valor que vem e quando é que vem para que o governo possa fazer o seu planejamento orçamentário.

 

Notícia Max - O presidente Jair Bolsonaro já sinalizou a defesa para redução da maioridade para 14 anos. O senhor concorda com esse posicionamento?

 

Emanuelzinho – Sou a favor da maioridade penal, mas tem alguns debates que precisam ser feitos antes. Naturalmente a população hoje se encontra revoltada porque não se encontra segura dentro de casa e muito menos fora, e cada vez tem se encontrado jovens e adolescentes que estão participando das organizações criminosas e cometendo assaltos, e sendo tratados de uma maneira muito diferente, o que garante a impunibilidade. 

 

Acontece que hoje temos 400 mil vagas nos presídios, somando os federais e estaduais. E temos hoje nos presídios um excedente de 300 mil, temos 700 mil presidiários, e vendo isso, não temos mais onde colocá-los. 

 

Associado a isso temos uma legislação de progressão de regime que garante muitas vezes ao reeducando que progride da pena fechada para o semi aberto, ou do semi aberto para aberto, cumprindo uma pena mínima que não é muitas vezes correspondente nem a metade da pena, às vezes nem um terço. Associado ainda a isso tem as grandes organizações criminosas e as milícias, que estão infiltradas dentro dos presídios. O jovem entra para lá ao cometer um delito razoavelmente pequeno, e sai de lá muito pior que entrou.

 

Esse debate, da reforma do sistema penitenciário, reforma da legislação da progressão de regime e reforma do sistema de reeducação dos presos têm que ser feito antes que possamos votar, porque se não vai adiantar. Vai colocar para dentro da cadeia, vai sair dali pior que entrou, jovem, porque a legislação vai permitir a progressão de regime, não vai reeducar ninguém, e vai trazer o crime de volta para a sociedade. Então esses três pontos têm que ser discutidos antes, para que daí sim, por fim possamos votar a redução da maioridade penal. Mas no geral se tivesse que votar, votaria favoravelmente.

 

Notícia Max - Como acha que será a atuação da Câmara Federal frente a um governo mais conservador?

 

Emanuelzinho – É uma realidade que a algum tempo o país não via. Desde que Lula se tornou presidente da República em 2002, assumindo em 2003, tivemos uma Câmara mais liberal nos costumes e mais interferência na economia.

 

Acontece que hoje o presidente Bolsonaro tem uma grande dificuldade. Apesar do que se parece, ele ter sido eleito com 10% a mais que Fernando Haddad, o Haddad fez 45 milhões de votos e ainda há uma parcela da população de abstenção e digamos que não apoiaram Jair Bolsonaro. 

 

Associado a isso a maior bancada sendo do PT e as grandes reformas que ele propõe serem emendas constitucionais e por isso vai precisar de 3/5 do quórum, ou seja, de mais de 300 parlamentares, e vejo uma dificuldade muito grande porque o presidente Jair Bolsonaro quando se colocou como candidato dizia que não iria fazer conchavo político, que não iria se misturar, que faria um Ministério totalmente técnico. Mas ao mesmo tempo que ele propõe isso, propõe reformas que necessitam de uma maioria esmagadora no Congresso, e para isso ele vai ter que dialogar, vai ter que sentar com os figurões dos grandes partidos e negociar.

 

E aí cai em duas questões: ou ele não consegue aprovar as reformas que ele quer ou entra em contradição com o eleitorado que o elegeu porque vai ter que negociar e lotear cargos nos Ministérios. 

 

Por isso que eu acho e tenho afirmado na bancada do PTB que agora não é hora de estar fazendo picuinhas, de parlamentar querer aparecer. Tem que ser um Parlamento unido, que ajude o presidente a fazer as mudanças que forem necessárias para que a população no fim saia ganhando. Deixamos o nosso ego um pouco de lado, aja em união, as bancadas, os blocos, para que ajudemos o país a sair dessa dificuldade que vive hoje.

 

Notícia Max – Mas o senhor vê algum risco de perda de direitos por parte de parcela da população?

 

Emanuelzinho – Eu já disse que meu apoio particular, o PTB apóia, é base de sustentação, mas eu particularmente dou apoio crítica ao presidente Bolsonaro, justamente porque a qualquer sintoma, qualquer sinal mínimo de perda de direito dos trabalhadores ou atentado a liberdade democrática que alguns apoiadores ou companheiros de lado do presidente Jair Bolsonaro disseram, vou estar lá atento para que possa denunciar e lutar para que isso não aconteça.

 

Notícia Max - Como analisa a renovação na Câmara Federal, tendo apenas o deputado Carlos Bezerra tendo sido reeleito?

 

Emanuelzinho – Primeiro que foi um recado muito grande a insatisfação popular da maneira como a classe política vinha fazendo política no período pré-eleitoral e no período eleitoral no exercício do mandato.

 

As pessoas diziam que não queriam mais o fisiologismo, não queriam mais campanhas muito caras para que depois fosse negociar cargos em trocar de apoio no Legislativo, mostrou que queria um Parlamento que olhasse o interesse da população e não da classe política, então foi uma série de recados que os analistas políticos e a própria classe política vão ter que parar, analisar e entender plenamente qual é esse sentimento popular para que consigamos no Congresso nas nossas votações dos nossos projetos refletir esse anseio popular.

 

Notícia Max – Em 141 municípios, o senhor teve votos em 140. O senhor credita isso a que?

 

Emanuelzinho – Ao nosso trabalho, que foi incansável. A campanha eleitoral não tem tempo. Você acorda às 5 horas para fazer reunião às 6 horas nas empresas, vai dormir meia-noite todos os dias. Primeiro essa disposição de trabalhar, segundo ao trabalho bem feito de pré-campanha, que vem desde o ano passado.

 

Visitei esse tanto de municípios para que eu pudesse conhecer a realidade do Estado de Mato Grosso. A partir do momento em que propomos ser deputado, é preciso conhecer a realidade, o Norte, Sul, Leste, Oeste, o Médio Norte, todas as regiões, e aí fomos plantando a semente para que as pessoas já nos conhecesse antes do período eleitoral e não só no período eleitoral.

 

E associado a isso também o trabalho que fizemos nas mídias sociais para que pudesse expandir as nossas propostas, que são concretas, coesas e que tem gênero, número e grau, de onde vem o dinheiro, o que pode ser feito, as pessoas acreditaram nisso e a possibilidade das mídias sociais atingirem os outros municípios oportunizou que as outras pessoas conhecessem o nosso trabalho e dessem esse voto de confiança.

 

Notícia Max – Passado o período eleitoral, o senhor está visitando novamente esses municípios, agradecendo o voto. 

 

Emanuelzinho – Eu me propus a fazer diferente. Desde o momento em que ganhei a eleição, não só quando assumir dia 1º de fevereiro, eu já tinha que começar a fazer diferente. Todas as pessoas que abriram as portas de suas casas, as empresas que deram a oportunidade de falar com os seus funcionários, os municípios que nos receberam, e muitas vezes nos deram votação expressiva, tenho o dever moral de retornar para agradecer e para colher os sentimentos, as dificuldades e as demandas para que eu possa representá-los no Congresso Nacional a partir do ano que vem.

 

A vontade de estar perto das pessoas, de externar esse sentimento de gratidão, fazemos com muito prazer, mostrando que desde o início estamos fazendo uma política de jeito diferente.

 

Notícia Max – Nessas visitas aos municípios, quais os principais anseios o senhor pôde notar da população?

 

Emanuelzinho – Saúde pública e segurança. Especialmente se olharmos os dados encontramos uma realidade em que 60 mil pessoas aguardam por uma consulta por especialista na rede pública do Estado, mais de 25 mil pessoas aguardam por uma cirurgia eletiva em hospital de alta e média complexidade que se faz com data pré-determinada. Segurança pública mais de 1.050 homicídios por ano dos quais muitas vezes não se consegue se defender dentro de casa, e se defende dentro de casa muitas vezes é denunciado por homicídio, quando na verdade deveria ser indiciado por legítima defesa.

 

Essas situações nos mostraram o sentimento geral da população, especialmente no campo o apoio a agricultura familiar. Hoje a Baixada Cuiabana vive basicamente do pequeno comércio, das festividades e da agricultura familiar. Então essa atenção especial que temos que ter com os municípios de pequeno porte sabendo da característica da agricultura, que abastece nosso mercado interno e gera a renda para a maioria das famílias da Baixada Cuiabana.

 

Notícia Max - O senhor defendeu durante a campanha a construção de um hospital federal em Mato Grosso. Mas o hospital universitário Julio Muller, não seria preferível trabalhar pela conclusão das obras?

 

Emanuelzinho – Seria, mas é que o hospital federal tem uma diferença, mas lógico que vamos lutar e trabalhar para que o hospital Júlio Muller seja concluído, que possa atender. A grande diferença, que tem que ser feita num diagnóstico geral, para que eu possa chegar na necessidade do hospital federal. 

 

Se olharmos hoje o pronto socorro de Cuiabá, vamos fazer o levantamento e ver que os pacientes, quase 60% não são de Cuiabá, ou são do interior do Estado, dos municípios vizinhos, ou às vezes de um Estado próximo como Goiás e Rondônia, ou mesmo de um país vizinho como a Bolívia e a Venezuela.

 

E hoje como o pacto federativo está muito injusto, a maneira como os impostos são distribuídos no país, os prefeitos do interior, que são de pequeno porte, que vivem com apenas 15% da arrecadação tributária, não estão conseguindo investir na atenção básica e não estão tendo atendimento adequado nos hospitais regionais de média e alta complexidade. Então vários prefeitos já me falaram que não agüentam, que é melhor comprar uma ambulância e mandar para Cuiabá, ou seja, Cuiabá atende o Estado todo e quem custeia, praticamente o pronto socorro sozinho é a Prefeitura.

 

Se conseguirmos trazer um hospital federal, e o grande diferencial dele, diferente do Julio Muller, diferente do pronto socorro, diferente de qualquer hospital, é que ele é 100% custeado pela União, com 60% dos nossos impostos, então se conseguirmos trazer um hospital federal pra cá, que cubra essa demanda reprimida da Baixada Cuiabana e do Médio Norte, para que se evite se chegar em Cuiabá e Várzea Grande, vamos ter um atendimento mais digno de média e alta complexidade no interior e vamos ter um atendimento mais digno em Cuiabá também, pois vai ajudar desafogar, e muito, o pronto socorro, porque a maioria dos pacientes vem do interior do Estado.

 

Aí sim, vamos ter uma maior margem de investimento do prefeito de Cuiabá, da prefeita de Várzea Grande e do governador do Estado para que invista na atenção básica para que impeçam esses pacientes de chegarem a precisar do hospital federal. Mas a diferença do hospital federal é que não será preciso pagar um real com servidor, médicos, insumos, manutenção da unidade física, vêm tudo da União. Essa é a grande diferença, é uma soma para auxiliar no atendimento da saúde pública do Estado de Mato Grosso.

 

Sei que não será uma luta fácil, tenho plena consciência disso, o projeto, a articulação, será uma luta grande, mas é o que eu tenho afirmado, Dante de Oliveira quando propôs a Emenda das Diretas Já, muita gente não lembra mas a Emenda foi rejeitada, mas algum tempo depois, devido essa semente plantada por ele, foi colocada em pauta novamente e foi aprovada, e todo mundo acha até hoje que foi o Dante.  E pra mim não importa se for o Emanuelzinho ou não, o importante é plantar a semente, o serviço vir e conseguir atender a população.

 

Notícia Max – No setor educacional vemos obras inacabadas, alunos fora das salas de aula, como será o seu trabalho visando melhoria na Educação?

 

Emanuelzinho – São três etapas. Primeiro um redesenho do pacto federativo, que vai influenciar especialmente na saúde e educação. Por quê? Por exemplo, se o prefeito do interior deseja construir uma escola, ele consegue a emenda parlamentar, e constrói a escola. A grande dificuldade não está na construção, mas sim no custeio, que será no dia a dia, com as merendas, com o pagamento dos servidores, a manutenção da unidade física que vai sair do bolso da Prefeitura. Quando se tem uma arrecadação mínima de apenas 15%, de cada 100% que o brasileiro paga de imposto, você não tem o orçamento necessário, você constrói uma ou duas escolas e não agüenta mais fazer o custeio.

 

É por isso que queremos propor, juntamente ao governador Mauro Mendes futuramente, quando ele reorganizar as contas da Casa, que o ICMS que tem uma cota parte que é distribuída entre os municípios, queremos apresentar uma lei que oportunize para que a cada faixa de porcentagem a mais de investimento que o prefeito do interior garantir para a educação do município, vai haver um acréscimo, um adicional, da cota parte do ICMS que é transferido do Governo do Estado para o município para que o prefeito tenha condição de construir a unidade e custear. Porque construir às vezes ele consegue, mas a dificuldade está no custeio.

 

Então, acho que a grande sacada é conseguir garantir autonomia financeira e orçamentária para os municípios por meio da revisão do pacto federativo e segundo essa legislação que consegue fazer esse repasse a mais da cota parte do ICMS do Estado. 

 

E a nível federal, a nível de grade curricular, que é uma outra perspectiva, queremos propor dentro do Congresso Nacional algumas matérias que preparem não apenas para o vestibular, mas preparem para a vida. As duas matérias que vamos propor são Noções Básicas de Direito Constitucional e Noções Básicas de Micro e Macro Economia. 

 

E explico o porque: hoje a informação está totalmente democratizada, as pessoas participando intensamente do cenário político, falando de vereador, de deputado, de governador, mas sem saber ao certo qual a função de cada um. Falam de STF, de STJ, do Ministério Público sem ter a noção básica de quais são as funções das instituições do Estado, sem saber quais são seus direitos e deveres. Então, com o jovem saindo do ensino médio com a noção básica de Direito Constitucional vai contribuir muito com o exercício da cidadania nos próximos anos no país.

 

O segundo ponto das Noções Básicas de Micro e Macro Economia, micro para economia doméstica, para que o jovem possa aprender se organizar financeiramente, possa aprender a fazer poupança, ter a sua renda, a sua organização financeira particular. 

 

E Macro Economia para entender as realidades do mercado. Hoje vemos o tempo todo na televisão termos técnicos como Bovespa, Taxas de Juros Selic e todo mundo fica perdido e ninguém sabe o que significa, especialmente no mercado volátil, onde empregos surgem e desaparecem do dia para noite, com facilidade extrema devido ao crescimento e a tecnologia, fica importante que o jovem saia do ensino médio conhecendo a dinâmica do mercado, entendendo quais são os mecanismos e quais são os melhores momentos para que ele possa avaliar, investir e empreender, porque hoje é o sonho de grande parte da juventude brasileira.

 

Notícia Max – O senhor assume dia 1º de fevereiro. Qual o primeiro projeto que pretende apresentar na Câmara Federal?

 

Emanuelzinho – Primeiro eu quero solicitar e propor os projetos que são os principais da nossa campanha eleitoral, principalmente a revisão do pacto federativo para fortalecer os municípios do interior, para que tenham vida própria financeira e orçamentária.

 

Segundo, já começar um trabalho para articulação para ver se conseguimos trazer o hospital federal, que será uma luta longa, do primeiro dia até o último ano de mandato, e talvez ainda fica para depois.

 

O terceiro ponto avaliarmos a possibilidade da revisão da Lei Kandir e o acréscimo dessas matérias especiais na grade curricular.

 

Mas acho que o grande desafio hoje é fazer uma inclusão da população no exercício do mandato. Hoje as mídias sociais, o Instagram, o Facebook, possibilitam e muito a participação das pessoas, com críticas e sugestões, com participação na decisão das votações das emendas, para onde é que vão, as emendas de bancada, as emendas individuais, as votações que foram feitas com temas polêmicos, que as pessoas possam participar e expressar a vocação e a visão de mundo de Estado que elas têm, com isso possibilitando a participação e o fortalecimento da democracia.

 

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