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CIDADES Segunda-feira, 27 de Novembro de 2017, 09:06 - A | A

Segunda-feira, 27 de Novembro de 2017, 09h:06 - A | A

O COMENDADOR

João Arcanjo Ribeiro: a um exame do semiaberto

Redação

Reprodução

 

O ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, condenado a mais de 80 anos de prisão pelos crimes de homicídio, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, está a um passo de ir para o regime semiaberto. O juiz Jorge Luiz Rodrigues , da 2ª Vara Criminal da Capital, acatou o pedido da defesa e determinou que sejam realizados exames psiquiátricos  no ex-bicheiro, primeiro passo para  a progressão de regime.

Arcanjo controlava com mão de ferro o jogo do bicho em Mato Grosso e mantinha em sua folha de pagamento, segundo a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Investigação (Abin), coronéis da Polícia Militar, delegados da Polícia Civil, secretários de Estado, agentes policiais e até parlamentares estaduais e federais. 

Em verdade, Arcanjo mantinha uma rede de proteção com agentes públicos, que se aproveitavam para cobrar propinas de toda espécie, numa via de mão dupla que garantia, entre outras coisas, a contravenção e negócios escusos como exploração de máquinas de caça níqueis e cassino.

Pelas mãos de Arcanjo, via factorings, passavam inclusive verbas públicas. Muitos acertos políticos eram pagos e/ou operacionalizados através de seu esquema financeiro. Sem nenhum pudor, políticos e secretários de Estado frequentavam as festas oferecidas pelo "comendador", honraria concedida pela Câmara Municipal de Cuiabá e pela Assembléia Legislativa.

Arcanjo foi preso na Operação ‘Arca de Noé’. Na operação, foram mobilizados 160 policiais federais, trinta policiais rodoviários federais, três procuradores da República, vinte promotores de justiça e seis fiscais federais. A prisão de Arcanjo foi decretada pelo juiz federal Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara Federal de Mato Grosso. Ele foi preso em Montevideo, pelo Serviço de Inteligência da Polícia do Uruguai, em 2003. Com a prisão decretada em 5 de dezembro de 2002, o “comendador” estava sendo procurado em 181 países pela Polícia Internacional (Interpol). 

CONDENAÇÕES

O ex-chefe do crime organizado em Mato Grosso foi condenado pela morte do empresário Domingos Sávio Brandão de Lima Júnior, fundador do jornal Folha do Estado. Arcanjo recebeu pena de 19 anos de prisão.

Arcanjo Também foi condenado a 44 anos de prisão pelo assassinato do radialista Rivelino Brunini. O homicídio ocorreu em 2002 em plena Avenida do CPA durante a guerra do poder da "máfia dos caça-níqueis".

O ex-comendador também é acusado de ter mandado matar os empresários Fauze Rachid Jaudy e Mauro Manhoso, o cabo da PM Valdir Pereira, e Leandro dos Santos, Celso Borges e Mauro Moraes, que teriam assaltado uma das bancas de jogos de bicho da Colibri.

Arcanjo foi inserido no sistema federal em agosto de 2007, quando sofreu transferência para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), no mesmo dia da deflagração da operação “Arrego”, pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), que comprovou que mesmo de dentro da PCE ele continuava comandando o jogo do bicho.

Em abril de 2013 o ex-bicheiro seguiu para a Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Logo depois, foi encaminhado para o presídio de segurança máxima do Rio Grande do Norte.

Após decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso que determinou no mês de agosto deste ano a transferência para Mato Grosso, Arcanjo desembarcou em Cuiabá no dia 14 de setembro.

LIGAÇÕES ESTREITAS COM A AL/MT

A ligação de deputados estaduais, federais, ex-secretários de Estado e prefeitos de Mato Grosso com João Arcanjo Ribeiro foi alvo de investigação por parte dos ministérios públicos Federal e Estadual. Documentos apreendidos durante a Operação Arca de Noé nas casas e nas empresas de João Arcanjo e também do empresário de factoring Valdir Piran mostram cheques e promissórias em nomes de políticos.

Só em uma das dezenas de caixas e documentos apreendidos à época pela Polícia Federal, foram encontrados três cheques de R$ 348 mil cada, de 20 de novembro de 2000, assinados pelo então presidente da Assembléia Legislativa, Humberto Bosaipo (PL), pelo então primeiro-secretário, José Riva (PSDB), e pelo então secretário de Finanças, Guilherme Garcia. José Riva e Humberto Bosaipo assinaram 22 notas promissórias, no valor de R$ 700 mil cada, entre 1999 e 2000. As promissórias totalizam uma dívida de R$ 15,4 milhões com as nove empresas de factoring de João Arcanjo. Nas caixas também foram encontradas várias fotos de deputados estaduais de Mato Grosso com João Arcanjo Ribeiro. 

Antes de uma audiência na Sétima Vara Criminal de Cuiabá, em setembro de 2015, Riva comentou sobre a relação que mantinha com Arcanjo. “Mato Grosso tinha ligação com o Arcanjo, não era eu que tinha, todo mundo tinha. Eu encontrei com o Arcanjo quatro ou cinco vezes na minha vida. Durante todo tempo que ele conviveu no mercado, esse foi o número de vezes que o encontrei”, alegou o ex-deputado estadual. Questionado sobre os cheques da ALMT encontrados com o comendador, ele se esquivou: “Isso eu tenho que dizer para a juíza. Na hora que eu for dar o depoimento vou esclarecer”.

A VOLTA DO CHEGÃO

O ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro está de volta a Mato Grosso após ser transferido do presídio federal de Mossoró (RN) para a Penitenciária Central do Estado no mês de setembro. A volta do outrora “comendador” causou furor, e comentários de que muitos políticos estariam preocupados, pois corre nos bastidores a informação de que muitos ainda devem cifras milionárias ao ex-bicheiro.

Um dos responsáveis pela prisão de Arcanjo, quando era Procurador da República, o governador Pedro Taques deixou claro não temer o retorno ao Estado de um dos seus maiores inimigos.

“Prendemos Arcanjo. Ele ficou 14 anos preso e, ao que consta, essa semana chegará em Cuiabá. Cabe à segurança resolver isso. Sou governador do Estado, não vou parar meu trabalho em razão disso. Não tenho tempo para ter medo. Fui eleito para fazer as transformações necessárias no Estado”, disse Taques, antes da efetivação da transferência do ex-bicheiro para a Capital.

“Ele sempre foi meu inimigo, não é de agora. Tenho orgulho dos meus inimigos. Fiz trabalho, não só em Mato Grosso, mas em outros Estados da federação, dos quais me orgulho. Não tenho vergonha do meu passado, nem um pouco”, afirmou o governador.

SEMIABERTO

A defesa do ex-bicheiro José Arcanjo Ribeiro acredita que brevemente será possível a progressão de pena para o regime semiaberto. O primeiro passo foi a decisão da Justiça que sejam realizados exames psiquiátricos que revelará se ainda há necessidade da continuidade de sua prisão.

Arcanjo será avaliado pela médica psiquiatra Luíza Forte Stuchi, em um exame criminológico, Além do exame, a Justiça determinou a avaliação da gravidade dos crimes cometidos por Arcanjo, o período de 14 anos de prisão, já cumprido por ele, bem como o direito à progressão de pena. “... Avaliação do número de delitos praticados, além de haver delitos cometidos pelo reeducando que se revestem de extrema gravidade, o que a priori, revela a necessidade de avaliação minuciosa do requisito subjetivo para o retorno à sociedade”.

 

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