Alvo de um processo de impeachment, o presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, dissolveu o Parlamento do país nesta terça-feira (14).
A medida foi publicada em um decreto desta terça assinado por Rajoelina após ele fugir do país no fim de semana, quando militares rebeldes assumiram o controle das Forças Armadas, na esteira dos chamados protestos da Geração Z.
Em um discurso na noite de segunda (13) feito também de fora do país e em um local não identificado, o presidente do país africano afirmou que não deixará o governo, em mais um desafio aos protestos, que exigem sua renúncia.
Rajoelina alegou que a dissolução do Parlamento "era necessária para restaurar a ordem no país", mas prometeu realizar novas eleições a partir de dezembro.
"O povo precisa ser ouvido novamente. É hora da juventude", disse ele no discurso.
O Parlamento deu sinais de que não vai cumprir o decreto presidencial. O líder da oposição na Assembleia Nacional contestou a decisão.
"Este decreto não é juridicamente válido... o presidente da Assembleia Nacional afirma que não foi consultado", disse Siteny Randrianasoloniaiko, que também é vice-presidente da Assembleia.
A polícia do país também rompeu com o presidente madagascarense e se uniu aos manifestantes.
Fuga do país
Siteny Randrianasoloniaiko, líder da oposição no Parlamento, contou à agência de notícias Reuters que Rajoelina deixou Madagascar depois que unidades do exército desertaram e se juntaram aos manifestantes da Geração Z, que vêm realizando protestos pelas ruas do país desde 25 de setembro.
"Ligamos para a equipe da presidência e eles confirmaram que ele deixou o país", disse ele, acrescentando que o paradeiro atual do presidente ainda é desconhecido.
Uma fonte militar disse à Reuters que Rajoelina deixou o país em um avião militar francês. De acordo com a rádio francesa RFI, ele fechou um acordo com o presidente Emmanuel Macron.
A Geração Z é o nome dado ao grupo de pessoas nascidas entre 1995 e 2009. É a primeira geração considerada nativa digital, pois cresceu em meio à internet, e costuma ser mais crítica e engajada em debates sobre diversidade, sustentabilidade e política.
Nos últimos meses, esse grupo também protagonizou manifestações no Quênia, Indonésia, Nepal, Filipinas, Peru e Marrocos.
No Nepal, os protestos levaram à derrubada do primeiro-ministro. No Peru, contribuíram para a queda da presidente Dina Boluarte.
Nas ruas de Antananarivo, capital do país, os jovens da Geração Z se uniram para seguir os protestos e comemorar a notícia. Milhares se reuniram em uma praça gritando:
"O presidente deve renunciar agora".
Com a saída de Rajoelina do país, quem irá assumir suas funções até que novas eleições sejam realizadas é o presidente do Senado.
O atual, foco de indignação pública durante os protestos, foi destituído de suas funções nesta segunda e um novo nome já foi indicado para ocupar seu lugar temporariamente, informou a casa em um comunicado: Jean André Ndremanjary.
Tropas se juntaram aos manifestantes
O anúncio do Exército de Madagascar sobre a tomada de poder das Forças Armadas do país ocorreu pouco depois de Andry Rajoelina denunciar uma “tentativa ilegal de tomada do poder”.
Os militares declararam, em vídeo, que “todas as ordens do exército malgaxe, sejam terrestres, aéreas ou marítimas, partirão do quartel-general do CAPSAT”, sigla que identifica o contingente de oficiais administrativos e técnicos.
No sábado (11), o grupo de militares havia se juntado a manifestantes antigovernamentais em Antananarivo, capital da ilha, que registrou os maiores protestos desde o início das manifestações.
Em comunicado publicado nas redes oficiais, o governo afirmou que estava em curso “uma tentativa ilegal e violenta de tomada do poder” e que o presidente defendia “o diálogo como saída para a crise”.
Protestos crescentes
O movimento da geração Z do país começou por causa de cortes de água e eletricidade, mas rapidamente se ampliou para críticas à corrupção, aos líderes políticos e à falta de oportunidades no país.
Pelo menos 22 pessoas foram mortas em confrontos entre manifestantes e as forças de segurança desde 25 de setembro, de acordo com a ONU.
Madagascar, um dos países mais pobres do mundo, tem histórico de frequentes levantes populares desde que se tornou independente da França, em 1960. Entre eles, destacam-se os protestos de 2009, que forçaram o então presidente Marc Ravalomanana a deixar o cargo e abriram caminho para o primeiro mandato de Andry Rajoelina.
O atual presidente foi reeleito em 2018 e novamente em 2023, em pleitos marcados por contestações e boicote da oposição.
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