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BRASIL Terça-feira, 15 de Abril de 2025, 08:10 - A | A

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estratégia

De Gleisi a Motta, a tática do governo para frear anistia

Ministra das Relações Institucionais passou os últimos dias ampliando interlocução com parlamentares em busca de retirar nomes do requerimento de urgência, que acabou protocolado nesta segunda

O Globo

Sem conseguir evitar que a oposição conquistasse o apoio necessário para pedir a votação acelerada do projeto de anistia na Câmara, o Palácio do Planalto acionou seus principais articuladores políticos para tentar esfriar a mobilização pela aprovação da proposta no plenário da Casa. A ofensiva terá o envolvimento direto da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), que passou os últimos dias em contato com parlamentares tentando retirar nomes do requerimento de urgência, além de ministros de partidos aliados. A ideia é convencer o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), e líderes de partidos a não pautarem a medida.

A pressão do governo fez com que ao menos dois deputados recuassem, mas não foi suficiente. Diante da ação dos governistas, o PL mudou de estratégia e apresentou ontem um requerimento com 262 assinaturas, cinco a mais do que o mínimo necessário. O plano inicial do líder da bancada, Sóstenes Cavalcante (RJ), era conquistar mais apoios até a semana que vem, após o feriado de Páscoa, quando os líderes da Casa se reunirão para discutir a pauta de votações.

Nova estratégia
Frente a retirada da assinatura da deputada Helena Lima (MDB-RR), o PL viu risco de mais parlamentares de partidos com cargos no Executivo recuarem e decidiu se antecipar. Na sexta-feira, o deputado Paulo Foletto (PSB-ES) já havia contestado a inclusão de seu nome no requerimento, sob argumento de que “houve um equívoco” de sua equipe, uma vez que ele é contra a proposta.

O projeto, apresentado em setembro do ano passado, prevê a anistia a pessoas que participaram de atos contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 30 de outubro de 2022 em diante. O principal argumento dos defensores da medida é que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem aplicado penas duras, de até 17 anos de prisão, para quem cometeu atos de vandalismo no 8 de Janeiro. A versão mais recente do texto, contudo, tem brechas que podem beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe.

A urgência, caso aprovada, permite levar a proposta diretamente ao plenário da Câmara, sem a necessidade de passar por comissões. No ano passado, o então presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), anunciou a criação de um grupo de trabalho para discutir o texto, o que foi visto pela oposição como uma forma de protelar o andamento da medida.

Lira está entre os que foram procurados por Sóstenes, mas se recusaram a assinar o requerimento de urgência. O ex-presidente da Câmara chegou a ser cotado para assumir um ministério no início do ano.

 Nas conversas que teve com líderes de partidos nos últimos dias, Gleisi tem argumentado que o projeto, na prática, prevê uma “liberdade de golpe” no país. A ministra também tem dito avaliar como contradição parlamentares da base aliada apoiarem um projeto que perdoa quem tramou, segundo as investigações, o assassinato de Lula. A referência é ao documento “Punhal Verde Amarelo”, apreendido pela Polícia Federal nas investigações, que previa, além do assassinato do petista, a morte do vice, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Partidos da base do governo Lula colaboraram com 146 das 262 assinaturas para a urgência do projeto de lei: 40 do União Brasil, 35 do PP, 28 do Republicanos, 23 do PSD, e 20 do MDB. O PL apresentou 88 assinaturas. Duas foram consideradas inválidas, a do próprio líder do PL, Sóstenes Cavalcante, e do líder da Oposição, coronel Zucco (RS). Isso porque ambos assinaram como líderes e não como deputados, o que não é considerado válido para o tipo de documento.

Articuladores de Lula tinham como meta reduzir o número de assinaturas até a próxima quinta-feira. Como mostrou a coluna de Bela Megale, a quantidade de assinaturas de integrantes da base gerou indignação no Palácio do Planalto e motivou ministros do Supremo a enviaram recados a membros do governo sobre a necessidade de entrar em campo para retirar apoios à anistia.

Após o requerimento de urgência ser protocolado, não é mais possível retirar assinaturas. Assim, nos próximos dez dias, o plano do Planalto é evitar que se crie um ambiente favorável ao texto. O assunto deve ser discutido na reunião de líderes, marcada para o dia 24. Mesmo com o número de assinaturas alcançado, o presidente da Câmara não é obrigado a colocar o requerimento em votação.

Na semana passada, Motta afirmou que não pautaria propostas que pudessem gerar “crises institucionais”. Aos líderes mais próximos, disse que “não é o momento” para avançar com o projeto.

Ao todo, há 1.039 requerimentos do tipo com status de “pronto para a pauta”, ou seja, que estariam prontos para votação em plenário, seja com as assinaturas necessárias, ou com apoio de líderes dos partidos.

A ofensiva do governo vai focar nos parlamentares do União Brasil, Republicanos, PSD e PP — juntas essas legendas deram 126 assinaturas. Dentre eles, o Planalto vai mirar primeiro aqueles que indicaram aliados para ocupar cargos na máquina federal.

De acordo com auxiliares de Lula, alguns dos deputados ainda têm dúvidas sobre o conteúdo do texto, enquanto outros já afirmaram ao governo que assinaram o requerimento de urgência, mas não apoiam o projeto no mérito.

— Esse projeto é uma depredação simbólica ao Supremo, coloca o país em uma brutal crise institucional. Estamos tentando sensibilizar que é projeto absurdo, que é meramente inconstitucional. Para tudo na Câmara e não resolve nada — diz o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).

'Governo sem moral'
Por outro lado, o vice-líder do PSD na Câmara, Reinhold Stephanes (PSD-PR), que assinou o requerimento, afirma que a mobilização do governo não terá efeito. A bancada deu 23 assinaturas.

— Sei que deputados receberam ligação do governo. Infelizmente foi com ameaças. Dois deputados me ligaram para contar, mas não cederam. O governo está sem moral. O mérito do assunto é correto — disse ele.

 Uma possibilidade prevista no regimento da Câmara é o governo tentar protocolar outro requerimento pedindo o cancelamento do pedido de urgência do líder do PL. Para isso, porém, seriam necessárias 132 assinaturas entre os deputados que assinaram o protocolo original.

Motta está de férias até 22 de abril, deixando o deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), vice-presidente da Câmara, no comando da Casa. Não há previsão, contudo, de o aliado de Bolsonaro colocar a urgência em votação até lá.

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