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14 de Agosto de 2025

ECONOMIA Quinta-feira, 14 de Agosto de 2025, 09:29 - A | A

Quinta-feira, 14 de Agosto de 2025, 09h:29 - A | A

Tarifaço

Analistas veem impacto favorável na inflação brasileira em 2025; cenário é incerto no futuro

Lógica é de que a produção que seria destinada aos EUA, ou parte dela, fique no mercado interno. Mas efeitos podem ser nocivos em 2026

G1

O tarifaço implementado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos brasileiros, com uma alíquota de 50% para mais da metade das vendas externas do Brasil ao país, tende a conter a atividade e gerar um impacto baixista na inflação deste ano — mesmo que de forma moderada.

Para 2026, porém, o cenário é incerto e, pode, até mesmo, haver pressões inflacionárias.

As análises são de economistas ouvidos pelo g1.

Com o tarifaço imposto pelos Estados Unidos a uma extensa lista de produtos brasileiros, como café, carnes, máquinas e equipamentos, frutas e peixes, entre outros, a tendência é de que os preços de alguns produtos caiam - principalmente aqueles que não encontrarem novos mercados no exterior.

A lógica é de que a produção que seria destinada aos EUA, ou parte dela, fique no mercado interno. Com o aumento da oferta desses itens, a tendência de mercado é que eles fiquem mais baratos.

Cenário para 2025
De acordo com Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, há um consenso de que os preços vão ficar menores neste ano, principalmente dos itens mais afetados pelo tarifaço de Trump.

"A questão de frutas e peixes, esses sim vão tentar colocar o máximo no mercado doméstico e a gente já vê relatos de preços menores. Isso realmente a gente deve sentir. Ovos também devem ficar um pouco mais baratos", avaliou Gustavo Cruz, da RB Investimentos.

Segundo o analista, outros produtos sobretaxados, entretanto, podem ter uma queda menor de preços, pois seus representantes têm indicado que buscam novos destinos externos para a produção. É o caso de carnes e café. "Então, por isso, talvez o efeito seja um pouco menor, menos sentido", avaliou ele.

 Para o economista André Perfeito, o quadro inflacionário é nitidamente benigno com o resultado do IPCA de julho, que veio abaixo das expectativas do mercado financeiro.

"Fora isso o comportamento de alimentos in natura seguem jogando o índice para baixo e deve continuar assim uma vez que ainda não está computado a sobre oferta de alimentos derivada do tarifaço de Trump", acrescentou André Perfeito.

Marcelo Boragini, especialista em renda variável na Davos Investimentos, também projeta queda nos preços de alguns produtos, mas com impacto pequeno na inflação do ano de 2025. "A gente tá falando aí de alguns centésimos de ponto percentual", disse.

"Eu acho que um efeito deflacionário aqui no Brasil, sim, é esperado. Eu acho que produtos como carne, café, frutas e peixes vão sim ter um impacto, mas um impacto bem pequeno. Frutas como manga e uva, a gente já vê que estão mais baratas. Com relação aos peixes, a tilápia, que é um tipo de peixe que tem forte dependência do mercado americano, deve sim sofrer uma queda no preço", disse Marcelo Boragini, da Davos Investimentos.

Ano de 2026
Se há uma tendência de queda de preços de alguns produtos alimentícios neste ano, o cenário não está claro para 2026. Analistas apontam que pode até mesmo acontecer o contrário, com aumento de pressões inflacionárias por conta de um eventual corte de produção.

"Às vezes o produtor, ele não tá com tanto espaço assim, o prejuízo desse ano seja suficiente para que ele no ano que vem ainda assim segure tanto o pé no freio, que aconteça o contrário, os preços subam mais do que o imaginado porque se plantou menos, porque se cultivou, se criou menos peixes", avaliou Gustavo Cruz, da RB Investimentos.

Por conta disso, ele avalia que os dirigentes de bancos centrais ao redor do mundo estão muito cautelosos ao falar se os impactos na inflação são pontuais ou duradouros.

Para Juliana Machado Goncalves Daitx, coordenadora de investimentos Unicred Porto Alegre, há uma expectativa que, apesar do alívio inflacionário em um primeiro momento, "dificilmente terá força para mudar de forma significativa as projeções de inflação de 2026 em diante".

"Neste curto prazo a tendência é de redução na pressão inflacionária, porém, não é possível dizer que esse efeito permanecerá pois os produtores tenderão a tomar novas decisões futuras sob as novas condições de mercado, como baixar a produção, procurar outros países para exportar, entre outras formas de escoar essa produção", avaliou Juliana Daitx, da Unicred Porto Alegre.

 Controle da inflação
O controle da inflação no Brasil é uma tarefa que cabe ao Banco Central, que se utiliza, principalmente, da taxa básica de juros da economia, a Selic, para cumprir seu papel.

Para definir os juros, a instituição atua com base no sistema de metas, olhando para a frente (estimativas de inflação). Se as projeções estão em linha com as metas, é possível baixar os juros. Se estão acima, o Copom tende a manter ou subir a Selic.

Desde o início de 2025, com a adoção do sistema de meta contínua, o objetivo é manter a inflação em 3%, sendo considerado dentro da meta se variar entre 1,5% e 4,5%.

Neste momento, o BC já está calibrando a taxa de juros com base na inflação acumulada em 12 meses até março de 2027, pois as mudanças na Selic demoram até 18 meses para terem impacto pleno na economia. A projeção do BC é de um IPCA de 3,4% nesse período.

Atualmente, a taxa Selic está em 15% ao ano — o maior em quase 20 anos. Isso porque a inflação está acima do teto das metas fixadas pelo governo.

O BC tem avaliado que uma desaceleração da atividade é algo necessário para conter as pressões inflacionárias. "As pesquisas setoriais mensais e os dados mais tempestivos de consumo corroboram uma redução gradual de crescimento", informou, na ata da última reunião do Copom.

Corte de juros
Até o momento, a previsão da maior parte do mercado financeiro é de que o juro básico da economia começará a cair somente em 2026.

Para André Perfeito, porém, o tarifaço de Trump pode acelerar o processo de corte dos juros pelo Banco Central. De acordo com o economista, a taxa Selic pode terminar este ano em 14,50% ao ano, contra o atual patamar de 15%.

Ele avalia que, mesmo considerando que as contas públicas podem piorar com a ajuda aos setores afetados pelo tarifaço (pressionando a inflação), "é provável que o mercado comece a considerar seriamente cortes de juros este ano e com maior intensidade".

Segundo Marcelo Boragini, se a queda dos preços alimentícios realmente se confirmar e ajudar a inflação ficar abaixo da meta nos próximos anos, existe, de fato, a possibilidade de Banco Central antecipar os cortes, talvez ainda em 2025.

"Mas a gente está falando de [as projeções de inflação virem na] meta ou abaixo da meta. Esse não é o nosso cenário, está longe disso o nosso cenário. Tudo pode acontecer sem dúvida nenhuma, mas, repito, não é o nosso cenário e eu acho pouco provável isso acontecer [corte de juros ainda em 2025]", concluiu.

 

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