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ECONOMIA Quinta-feira, 15 de Maio de 2025, 08:21 - A | A

Quinta-feira, 15 de Maio de 2025, 08h:21 - A | A

‘Guerra do delivery’

Gigante chinesa e parceria entre iFood e Uber turbinam disputa de mercado

Chegada do Keeta ao Brasil e retorno da 99Food podem reduzir preços ao consumidor

O Globo

A parceria entre Uber e iFood, anunciada na quarta-feira escalou ontem a guerra deflagrada entre as plataformas de delivery pelo mercado brasileiro de entregas a domicílio. O anúncio ontem soou como um contra-ataque.

Ameaçado por investimentos bilionários anunciados por aplicativos controlados por companhias da China, como 99Food e Keeta, e por concorrentes mais antigos, como a Rappi, o iFood anunciou uma parceria com a americana Uber.

Usuários do iFood poderão pedir corridas da Uber sem sair do app e vice-versa: na plataforma da Uber será possível acessar serviços de entrega do iFood.

A parceria foi anunciada enquanto as chinesas se preparam para desafiar o domínio do iFood, que atualmente tem cerca de 80% do mercado, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). As estratégias das desafiantes incluem taxa zero para bares e restaurantes, promoções para os consumidores e a criação de ecossistemas completos de serviços.

— Acreditamos que essa parceria vai impulsionar mais pedidos aos restaurantes, mercados, farmácias e conveniência em geral, gerar mais renda aos entregadores e motoristas e simplificar ainda mais a vida dos consumidores — disse Diego Barreto, CEO do iFood.

Regina Maia, diretora de Comunicação Institucional do iFood, disse que a estratégia da empresa agora é colocar a plataforma como um hub — e não somente um app de entrega de comida. Além do delivery, o iFood conta com recursos de empréstimos para restaurantes, ferramentas de digitalização do atendimento nos salões e outros serviços voltados à gestão dos negócios.

A plataforma brasileira tem 55 milhões de usuários e mais de 400 mil estabelecimentos cadastrados. O programa de fidelidade já é responsável por metade dos pedidos. Com mais de 11 milhões de assinantes, o Clube iFood cresce mais de 70% ao ano e foi ampliado recentemente para outras categorias, como farmácias. Para Regina, a chegada de novos concorrentes mostra como o setor de delivery está se consolidando.

 R$ 1 bilhão da 99
Mesmo antes do acordo, o retorno da 99Food e a chegada do Keeta, operado pela gigante chinesa Meituan, já prometiam redesenhar o mercado de entregas por plataformas no Brasil.

Algumas mudanças contribuíram para o interesse de novos nomes nesse mercado. A primeira delas aconteceu em 2023, quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) fechou um acordo com o iFood para limitar os contratos de exclusividade da plataforma com restaurantes.

Outro avanço importante foi o lançamento do Open Delivery em 2021. O sistema criou um padrão para o compartilhamento de dados entre empresas, reunindo informações como nome, endereço, preços, formas de pagamento e promoções dos restaurantes que operam delivery.

A 99, startup brasileira criada em 2012, comprada em 2018 pela chinesa DiDi Chuxing, vai na mesma linha do hub e pretende construir um “superapp”, parte de um plano de investimentos de R$ 1 bilhão. Segundo Bruno Rossini, diretor da empresa no Brasil, a ideia é reunir diferentes serviços, como transporte, entregas, pequenas mudanças e serviços financeiros com a 99Pay, em uma única plataforma:

— Ainda estamos trabalhando no campo hipotético, mas, por exemplo, o usuário poderia usar a 99Pay para pagar por uma entrega e receber cashback (desconto na forma de devolução para gastar em outro serviço), que, por sua vez, poderia ser usado no transporte por aplicativo.

 Para construir o “superapp”, a 99Food está com inscrições abertas para restaurantes, e “dezenas de milhares” de estabelecimentos já aderiram, segundo a empresa. O lançamento está previsto ainda para este primeiro semestre. Segundo Rossini, o retorno da 99 ao mercado de delivery atende a uma demanda de restaurantes, entregadores e consumidores por mais opções no setor.

Outra concorrente chinesa, a Meituan — que já abriu escritório em São Paulo e registrou a marca Keeta no Brasil, como mostrou a coluna Capital, do GLOBO — aproveitou a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China para anunciar investimento de R$ 5,6 bilhões no país.

A companhia domina o mercado de delivery de comida na China e vale mais de R$ 600 bilhões na Bolsa de Hong Kong. A marca Keeta atua nos mercados de Hong Kong e Arábia Saudita.

Rappi investe R$ 1,4 bi
A Rappi tem plano de investimentos de R$ 1,4 bilhão nos próximos três anos, sendo 40% destinados apenas a entregas de restaurantes. A estratégia da plataforma é diferente, focada em captar clientes para os serviços de transporte de encomendas.

Os restaurantes representam apenas 20% do negócio, mas 80% dos novos usuários chegam com foco nessa categoria. Oferecendo taxa zero para bares e restaurantes, a meta é dobrar o número de estabelecimentos cadastrados —30 mil, atualmente — até o fim do ano.

Segundo especialistas, essas mudanças recentes deverão diminuir a concentração de mercado e levar melhores preços ao consumidor, num mercado definido pela pandemia de Covid-19.

Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, lembra que apenas 15% dos restaurantes trabalhavam com delivery antes da pandemia, e aproximadamente 10% do faturamento vinham dessa frente. Atualmente, 80% dos estabelecimentos oferecem entregas, que respondem por 20% do faturamento.

A atual “guerra” teve seu campo de batalha desenhado em 2023, quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade, órgão que regula a concorrência no país) fechou um acordo com o iFood para limitar os contratos de exclusividade da plataforma com restaurantes.

Pouco antes, em 2021, o “open delivery” padronizou a comunicação entre os sistemas de gestão dos restaurantes e os usados pelas plataformas de delivery, o que servia de barreira de entrada para concorrentes do iFood, disse Solmucci.

Se abriu espaço para novos concorrentes, a decisão do Cade acabou levando o iFood a concentrar esforços no interior do país, contou Igor Remigio, CEO do Aiqfome, plataforma que atua em cidades menores, presente em cerca de 700 municípios, com 8 milhões de usuários e 30 mil restaurantes parceiros.

Vantagens do líder
Para Eduardo Yamashita, diretor de Operações da consultoria Gouvêa Ecosystem, o iFood tem vantagens que poderão ajudar a sustentar sua liderança: base ampla de consumidores e restaurantes, histórico relevante de inovação e profundo conhecimento, com dados, do mercado brasileiro.

Mesmo assim, a maior concorrência pressionará por taxas mais vantajosas, especialmente para pequenos e médios restaurantes, além de beneficiar os entregadores — que “devem ter mais opções de trabalho” e ganhar mais pelo serviço — e os consumidores — com “um aumento bastante significativo das promoções” —, disse o consultor.

Segundo Yamashita, zerar as taxas para restaurantes é uma prática comum entre empresas que entram em novos mercados para conquistar espaço, especialmente quando há um líder dominante, mas a estratégia exige gastos bastante elevados.

Para o consultor, a parceria do iFood com a Uber demonstra o potencial do mercado brasileiro:

— As duas plataformas, tanto o Uber quanto o iFood, são líderes dos seus mercados aqui no Brasil, mas obviamente entendem que ter um posicionamento ainda mais forte vai ajudá-los a defender o seu market share.

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