Donald Trump e Xi Jinping discursaram nesta sexta-feira (10) no Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), expondo posições antagônicas sobre o comércio mundial. Enquanto o presidente americano denunciou "abusos crônicos", o chefe de Estado chinês pediu uma globalização "mais aberta", que beneficie o mundo todo.
"Não podemos continuar tolerando os abusos comerciais crônicos e não os toleraremos", disse Trump a uma plateia de empresários de todo o mundo reunidos na cidade vietnamita de Danang.
Trump foi muito crítico ao sistema multilateral que regula o comércio mundial, encarnado pela OMC.
"Para dizer de maneira clara, a Organização Mundial de Comércio não nos tem tratado com imparcialidade", assegurou.
Alinhado a sua intenção de afastar-se de grandes tratados comerciais (como o Nafta, integrado por EUA, México e Canadá), Trump disse que fará negócios bilaterais com qualquer país "que queira ser nosso parceiro e que respeite os princípios de comércio justo e recíproco".
"Sempre colocarei a América em primeiro lugar", acrescentou, assegurando que seu país "não voltará a entrar em grandes acordos que nos deixam de mãos atadas".
Poucos minutos depois, na mesma sala, o presidente Xi Jinping disse que a globalização é "uma tendência histórica irreversível".
"Temos que apoiar o sistema multilateral de comércio e praticar um regionalismo aberto, para permitir que os países em desenvolvimento se beneficiem mais do comércio e dos investimentos internacionais", disse.
O fórum Apec, que reúne 21 economias representando cerca de 60% do PIB mundial, é um dos encontros econômicos e diplomáticos mais importantes do ano, com a presença de dezenas de líderes políticos e mais de 2.000 empresários.
O presidente Vladimir Putir também está em Danang, mas a Casa Branca informou que não há previsão de um encontro bilateral com Trump.
A visita do presidente americano ao Vietnã faz parte de sua primeira viagem oficial à Ásia, que incluiu o Japão, a Coreia do Sul e a China, com uma longa agenda comercial e política com a qual também busca apoios para conter as ambições nucleares da Coreia do Norte.
Em seu discurso desta sexta-feira, Trump não hesitou em denunciar as "fantasias distorcidas de um ditador", em referência ao líder norte-coreano Kim Jong-Un.
Nacionalismo econômico
Segundo Ian Bremmer, um analista da consultora Eurasia, Washington está praticando um "nacionalismo econômico" que empurra seus sócios para os braços da China. "Embora muitos países não gostem necessariamente o modelo chinês, eles têm que se contentar com o que têm", indica.
A chegada de Trump à Casa Branca com seu célebre slogan "America First" ("Estados Unidos primeiro") causou uma reviravolta após décadas de defesa americana ao livre-comércio e à abertura de mercados.
Este "efeito Trump", como classifica um dos diplomatas da cúpula de Danang, está sendo sentido em todo o mundo, começando por seu vizinho mais próximo, México, um dos três membros latino-americanos da Apec junto com Chile e Peru.
A possível retirada dos Estados Unidos do Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), em vigor desde 1994 e que inclui Canadá e México, poderá ter consequências graves para a economia norte-americana.
O presidente mexicano Enrique Peña Nieta chegou quinta-feira a Danang com uma agenda cheia, na tentativa de diversificar seu comércio para limitar sua dependência dos Estados Unidos.
O "efeito Trump" também afetou outro ambicioso tratado comercial, o Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica.
Após anos de preparação e longas negociações, Trump surpreendeu ao anunciar em janeiro a retirada dos Estados Unidos do acordo.
Agora os 11 países restantes, entre eles Austrália, Japão, México, Chile e Peru, estão tentando revertê-lo e poderão anunciar um acordo durante a Apec.
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