A Venezuela anunciou ter desmantelado uma suposta "célula criminosa" vinculada à Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA), denunciando uma suposta operação que incluiria o ataque ao navio contratorpedeiro USS Gravely, da Marinha americana, atracado em Trinidad e Tobago, com objetivo de incriminar o governo de Nicolás Maduro. Segundo o ministro do Interior venezuelano, Diosdado Cabello, pelo menos quatro pessoas foram presas na ação. Caracas anunciou no dia anterior a prisão do que chamou de "um grupo de mercenários", e classificou a presença militar americana na ilha caribenha de provocação.
— Em nosso território, está sendo desmantelada uma célula criminosa financiada pela CIA, vinculada a esta operação encoberta — disse o chanceler venezuelano, Yván Gil, acrescentando ter comunicado o governo de Porto de Espanha sobre a suposta operação de "bandeira falsa". — Informei com claridade ao governo de Trinidad e Tobago sobre a operação de bandeira falsa dirigida pela CIA: atacar um navio militar estadounidense parado na ilha e culpar a Venezuela, para justificar uma agressão contra o nosso país.
A tensão entre Venezuela e Estados Unidos atingiu um nível elevado no último mês, com o presidente dos EUA, Donald Trump, confirmando ter aprovado operações secretas da CIA no país sul-americano, e tratando abertamente sobre sua intenção de realizar ataques por terra contra grupos ligados ao tráfico de drogas na região, aumentando a operação que atualmente está focada no afundamento de barcos no Caribe e no Pacífico — que já resultou em 43 mortes. Caracas afirma que a manobra como um todo é parte de um plano mais abrangente para depor Maduro.
Washington promove a maior concentração de ativos militares na região desde o final dos anos 1980, quando invadiu o Panamá para capturar o ditador Manuel Noriega. Os movimentos mais recentes que o Pentágono anunciou foram os envios do USS Gravely, um contratorpedeiro equipado com modernos mísseis Tomahawk, para Trinidad e Tobago — ilha caribenha localizada a menos de 10 km do território venezuelano —, e o deslocamento do porta-aviões Gerald R. Ford, descrito pela Marinha americana como "a plataforma de combate mais capaz, adaptável e letal do mundo".
'Nada de chantagem', diz premier
Em meio a pressões do regime chavista de romper os acordos bilaterais de gás devido aos exercícios militares que Trinidad e Tobago realiza com os EUA, a primeira-ministra do país, Kamla Persad-Bissessar, disse à AFP que não cederá a qualquer "chantagem".
“Não somos suscetíveis a qualquer chantagem por parte dos venezuelanos em busca de apoio político”, disse a governante por meio de uma mensagem de texto enviada à agência. “Nosso futuro não depende da Venezuela e nunca dependeu”, acrescentou.
Trump acusa Maduro de liderar o Cartel de los Soles, uma das organizações que o republicano diz ter relação com o envio de drogas ao país. O governo americano atualmente oferece uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura de Maduro.
O envio do contratorpedeiro foi apontado por Caracas como uma provocação de Washington, ao passo que o governo de Trinidad e Tobago refutou a tese, dizendo que a presença do navio tinha o objetivo de "reforçar a luta contra o crime transnacional e construir resiliência por meio de capacitação, atividades humanitárias e cooperação em segurança".
"O governo de Trinidad e Tobago deixou claro em repetidas ocasiões que valoriza a relação deste país com o povo da Venezuela, dada nossa história compartilhada", acrescentou o texto.
'Não queremos guerra'
Em Porto de Espanha, a população está dividida sobre a presença americana próxima à costa da Venezuela.
— Há um bom motivo para trazerem o navio de guerra. É para ajudar a limpar os problemas de drogas que há no território venezuelano — disse Lisa, uma moradora de 52 anos.
Outros moradores, porém, expressaram preocupação com a possibilidade de uma intervenção militar.
— Se acontecer algo entre Venezuela e Estados Unidos, poderemos acabar levando golpes — disse Daniel Holder, de 64 anos. — As pessoas não percebem o quão sério é isso agora, mas coisas podem acontecer aqui.
Caracas acusa a primeira-ministra de Trinidad, Kamla Persad-Bissessar, de ter renunciado à "soberania de Trinidad e Tobago" e transformado "seu território em um porta-aviões dos Estados Unidos para a guerra em todo o Caribe contra a Venezuela, contra a Colômbia e contra toda a América do Sul".
Randy Agard, um norte-americano de 28 anos que viajou a Trinidad e Tobago para visitar sua família, diz ter "sentimentos contraditórios".
— Sinto que os Estados Unidos estão tentando se envolver em tudo para tentar controlar a todos e estabelecer uma narrativa de que se preocupam com os outros — afirma. — Dizem que querem paz e estão enviando navios de guerra, não faz sentido para mim.
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