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OPINIÃO Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2025, 08:22 - A | A

Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2025, 08h:22 - A | A

Giovana Fortunato

Endometriose: o que a ciência já sabe sobre as possíveis origens da doença

Giovana Fortunato

A endometriose é uma condição ginecológica crônica que afeta milhões de mulheres em idade reprodutiva no mundo e ainda levanta muitas dúvidas, inclusive entre as próprias pacientes.

Caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio fora do útero, a doença pode causar dor pélvica intensa, alterações menstruais, infertilidade e impacto significativo na qualidade de vida. Apesar de amplamente estudada, sua origem ainda não é totalmente esclarecida, e a ciência trabalha hoje com diferentes teorias que ajudam a compreender seu desenvolvimento.

Uma das explicações mais conhecidas é a teoria da menstruação retrógrada, proposta pelo médico John Sampson na década de 1920. Segundo essa hipótese, durante o período menstrual, parte do sangue pode refluir pelas trompas e alcançar a cavidade abdominal, levando células endometriais para fora do útero.

Embora essa teoria ajude a explicar muitos casos, ela não é suficiente por si só, já que a menstruação retrógrada ocorre em grande parte das mulheres, mas nem todas desenvolvem endometriose.

Outra linha de investigação aponta para a teoria da metaplasia celômica, que sugere que células presentes na cavidade abdominal teriam a capacidade de se transformar em tecido semelhante ao endométrio sob determinados estímulos hormonais ou inflamatórios. Essa hipótese ajuda a explicar a ocorrência da endometriose em locais mais distantes, como o diafragma e, em casos raros, até o pulmão.

Estudos mais recentes também reforçam o papel do sistema imunológico na origem da doença. Alterações na resposta imune podem dificultar a eliminação das células endometriais que se instalam fora do útero, permitindo que elas se fixem, proliferem e provoquem inflamação crônica. Essa inflamação, por sua vez, está diretamente relacionada aos sintomas dolorosos característicos da endometriose.”  

A predisposição genética é outro fator importante. Pesquisas indicam que mulheres com parentes de primeiro grau diagnosticadas com endometriose apresentam maior risco de desenvolver a doença. Isso sugere que alterações genéticas podem influenciar tanto a resposta imunológica quanto o comportamento das células endometriais.

Além disso, cresce o interesse científico sobre a influência de fatores ambientais e hormonais, como a exposição a desreguladores endócrinos presentes em alguns plásticos, pesticidas e poluentes. Essas substâncias podem interferir no equilíbrio hormonal e favorecer processos inflamatórios associados à endometriose.

Atualmente, a endometriose é compreendida como uma doença multifatorial, resultado da interação entre fatores hormonais, genéticos, imunológicos e ambientais. Essa visão mais ampla tem sido fundamental para avanços no diagnóstico e no tratamento, que hoje busca não apenas o controle dos sintomas, mas também a preservação da fertilidade e da qualidade de vida da mulher.

Diante desse cenário, é essencial reforçar a importância do diagnóstico precoce. Cólicas menstruais intensas e incapacitantes, dor durante as relações sexuais, alterações intestinais ou urinárias no período menstrual não devem ser normalizadas. A avaliação com um ginecologista é fundamental para investigação adequada e definição da melhor estratégia terapêutica.

A ciência segue avançando, e compreender as possíveis origens da endometriose é um passo decisivo para quebrar o silêncio em torno da doença, reduzir o tempo até o diagnóstico e garantir mais acolhimento, informação e cuidado às mulheres.

Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, especialista em endometriose e infertilidade em Cuiabá-MT

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