Máfias "limpam" multas e burlam vistorias

GD

Marcus Vaillant

Polícia e Detran detalham modo de operar dos grupos criminosos.

Equipe da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Veículos Automotores (Derfva) cumpriu 15 mandados de prisão e 18 de conduções coercitivas até o final da manhã desta quinta-feira (10), desbaratando mais duas "máfias" que agiam dentro do Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

A operação “Hidra de Lerna” atacou duas das organizações criminosas que autuavam em Várzea Grande e em Nossa Senhora do Livramento.

Já as pessoas levadas coercitivamente são clientes do esquema, que podem ser enquadradas como vítimas ou cúmplices.

No organograma do esquema em VG aparecem três servidores do Detran - Samira Aparecida M. de Barrros, Marcio Cleber Duenha e Benedito Xavier da Mata. Todos presos. Investigações apontam que eles interagiam com o despachante Fábio Antônio Pinto, fazendo vistorias fraudulentas, deixando passar carros sem condições de circular, e suspendendo multas do sistema, ou seja, "limpando" o histórico de vículos, liberando-os para transferências de propriedade e outras negociações que são impedidas em caso de pendências.

O valor da propina que os servidores recebiam para fazer isso é baixo, algo em torno de R$ 50 por carro, mas, conforme destacou o delegado Luiz Henrique Damasceno, da núcleo de inteligência de Cuiabá, que investigou o esquema, eles ganhavam no volume. "É o famoso pinga-pinga", comentou em entrevista coletiva à imprensa.

O delegado Victor Hugo, titular da Derfva, disse, também na coletiva, que os dois grupos tinham o mesmo modo de operar, sendo que em Livramento apenas um servidor do Detran atuava, Marcos André Rufino Borges.

Administrativamente, os quatro servidores do Detran, que estão presos, serão alvos de processo interno, correndo o risco de serem exonerados a bem do serviço público.

No esquema de Livramento, dois funcionários da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) de Cuiabá também foram complicados, João Batista da Silva e Jucelino dos Santos Enoré.

A Semob não participou da coletiva à imprensa e ainda não se manifestou sobre o caso.

O delegado Marcelo Martins, também da Derfva, explicou que há cerca de um ano o então diretor do Detran, Rogers Jarbas, atual secretário de Estado de Segurança Pública, levantou a suspeita de que haviam esquemas, supostamente para "esquentar" veículos produtos de roubos e furtos, e pediu investigação. "Descobrimos que não era isso, que eram esses esquemas de VG e Livramento", pontuou.

A Polícia não descarta a possibilidade de desencadear novas operações em unidades do Detran, no interior, a exemplo do que ocorreu, em Comodoro, nesta quarta-feira (9), com a operação "Legado".

Em Comodoro, foi preso o chefe da 42ª Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) do município, André Rubens, por crimes de corrupção praticados dentro da agência. O pai dele, José Rubens, ex-chefe da unidade, também foi preso, em cumprimento de mandados de prisão temporária.

O atual diretor do Detran em Mato Grosso, Arnon Osni, reconhece que o órgão tem "uma mancha de corrupção e que há muito tempo vem sofrendo com esta mazela".

Questionado se a prestação dos serviços de forma ineficiente poderia colaborar com o surgimento de tantos esquemas, que oferecem à clientela facilidades irregulares, o diretor diz que o Detran vem trabalhando muito para aperfeiçoá-los e que, no caso das vistorias, por exemplo, conseguiu cessar a fila de espera, que estava levando as pessoas de madrugada para o órgão em busca de atendimento.

Reforçou ainda que essas investigações policiais estão avançando com o apoio de servidores idôneos, que, conforme ele, são a maioria no órgão.

"Eles mesmos têm interesse na moralização", acredita o diretor.

Destaca que o resultado do endurecimento da fiscalização interna somado à ação policial levaram para prisão 53 envolvidos em esquemas no Detran de Mato Grosso ano passado e mais 51 este ano.

Afirmou ainda que em toda a história do Dentran só haviam tramitado 20 processos de cassação de credenciamentos, mediante infrações, e que do ano passado já são 58 procedimentos em andamento.

Sobre a periculosidade desses esquemas, Osni destaca ainda que um carro sem condições de circular nas ruas representam risco. "Podem ceifar vidas", alerta.

O delegado Luiz Henrique avisa que "a torneira está se fechando" e que as investigações continuam.

Comparando a “Hidra de Lerna”, que é um animal da mitologia grega, com corpo de dragão e nove cabeças de serpentes, hálito venenoso e que se regenerava, com os esquemas que se multiplicam no Detran, ele comentou que, desbaratando esses dois grupos criminosos de VG e Livramento, se estiverem faltando apenas mais sete cabeças, se daria por satisfeito.

CONFIRA LISTA DE PRESOS

Esquema de Várzea Grande

Fábio Antonio Pinto - Despachante (Gestores do esquema)

Samira Aparecida M. de Barros - Servidora (líder do esquema)

Marcio Cleber Duenha - Servidor do Detran

Benedito Xavier da Mata - Servidor do Detran

Meireluce Antonia Pinto - Funcionária do Detran

Jhonatan William Girato - Cliente do esquema

Thiago Adão Jesus Afonso - Cliente do esquema

Matheus Alves da Rocha - Funcionário de Cleyton

Cleyton Rafael Pinto - Despachante (Gestores do esquema)

Esquema em Livramento